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As bitcoins gastam mais energia que o Equador (mas há uma solução)

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Bitcoin, temos um problema. A criptomoeda e a blockchain – a tecnologia em “cadeia de blocos” em que se baseia – foram anunciadas há muito tempo como um exemplo brilhante do futuro das transações. Mas o impacto energético causado pelo processamento necessário para minar uma moeda e manter a plataforma é incontornável.

Sabemos há algum tempo que a bitcoin devora energia. Muita energia. O problema energético da bitcoin já gerou soluções estranhas, e agora um verdadeiro Ovo de Colombo: aquecedores que aproveitam a energia libertada enquanto um processador está a minar uma moeda – uma espécie de “mining” sustentável de bitcoin.

Minar uma bitcoin requer energia. E cada transação de bitcoin implica que um utilizador tenha que transmitir os detalhes da operação para uma rede de computadores interligados, onde a transação é duplicada em milhares de ledgers, uma espécie de “livros de registo” infalsificáveis das operações todas desde o início da blockchain. E isso gasta energia. Muita.

“Uma blockchain, como é a bitcoin, tem que operar sob o pressuposto de que nenhum outro computador pode ser confiável”, diz Teunis Brosens, analista económico da ING. Então, em vez de confiar no que quer que seja, cada computador verifica de forma independente parte da transação, num processo chamado ‘mining‘.

O ‘mining‘ da moeda impede que os computadores criem falsos registos, exigindo-lhes uma “prova de trabalho”. O enigma criptográfico a resolver requer tanto poder de processamento que criar uma entrada falsa iria tornar-se proibitivo.

Todo este processo exige demasiada eletricidade. Uma das últimas estimativas calculou que o consumo anual de eletricidade no ‘mining‘ da bitcoin em 23.07 terawatt-hora, aproximadamente a mesma quantidade de eletricidade que o Equador gasta por ano.

É deste problema energético que surge a ideia de muitos empreendedores de ‘mining‘: fazer uso de todo o calor gerado no processamento da bitcoin para criar aquecedores.

A start-up russa Comino espera tornar esta ideia num negócio inovador. No entanto, para além de uns poucos programadores a viver em locais muito frios, poucas pessoas pensam em usar a energia da criptomoeda.

O produtor de bitcoins OgNasty diz que “encontrar usos para o calor produzido quando se produz uma bitcoin não é uma solução realista”. Para compensar o peso energético que a bitcoin coloca, a OgNasty, que começou a produzir bitcoins em 2012, criou o projecto Green Energy Bitcoin Mining, que usa energia solar e eólica para produzir bitcoins.

Mas embora o uso de energias renováveis seja bom “a oferta ainda é escassa, e isso afeta outros usos de energia que beneficiam a sociedade, muito mais do que a produção competitiva de bitcoins”, diz Brosens.

A última solução é a mais radical: mudar por completo o funcionamento da blockchain. Vitalik Buterin, criador da rede de criptocircuitos Ethereum, uma plataforma que permite a criação de aplicações de blockchain, anunciou no mês passado que adotaria uma forma completamente diferente de fazer transações, a “prova de participação“.

Em substituição da prova de trabalho, a prova de participação consiste em ‘investir’ uma pequena quantia de dinheiro num fundo que retornaria a quem ‘investiu’ se a validação fosse real. “Ao mostrar que há recursos investidos, provam que o seu trabalho pode ser confiável”, diz Brosens.

Ainda assim, esta abordagem poderia trazer várias desvantagens. A prova de participação poderia enviesar o sistema a favor de quem tem mais dinheiro. Segundo Brosens, “a solução passa por descobrir mecanismos de validação do processo de produção de bitcoins que consumam menos energia”.

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