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Apps para pais espiarem os filhos cada vez mais populares

Os pais que desconfiam de que os filhos estão a sofrer bullying na escola, a enviar mensagens pornográficas ou até mesmo a vender droga têm agora à disposição uma série de novas aplicações, que os ajudam a controlar o que os menores fazem online.

A variedade da oferta no mercado de “apps para pais” é de tal ordem, que até já alimenta debates sobre a privacidade dos adolescentes.

Uma destas apps, a TeenSafe, é como um ter um espião da CIA infiltrado no telemóvel do adolescente: o programa pode mostrar o que o utilizador está a publicar nas redes sociais, dar acesso às mensagens de texto apagadas e revelar as mensagens enviadas em aplicações como o WhatsApp e Snapchat, que em teoria não guardam histórico das conversas.

A Teensafe pede aos pais que contem aos filhos que estão a ser vigiados, mas a app pode funcionar secretamente.

“É completamente legal que os pais façam isso discretamente”, diz o director executivo da empresa, Rawdon Messenger.

Mas a pergunta é: justifica-se? “Essa é uma decisão moral que os pais têm que tomar. Acreditamos que, quando se trata de proteger os filhos, a privacidade tem que dar lugar à proteção”, acrescenta o responsável da Teensafe.

Rawdon Messenger acredita que pelo menos metade dos pais usa o TeenSage para espiar secretamente os filhos.

A empresa opera nos Estados Unidos, no Canadá, na Austrália e na Nova Zelândia e espera chegar ao Reino Unido em breve. Desde o início da sua actividade, em 2011, cerca de 800 mil pessoas já contrataram o serviço.

teensafe.com

Quando se trata de proteger os filhos, a privacidade tem que dar lugar à protecção

Quando se trata de proteger os filhos, a privacidade tem que dar lugar à protecção

Alertas de velocidade

A popularidade deste tipo de apps aproveita a onda da expansão dos smartphones.

Nos Estados Unidos, quase 80% dos jovens têm telemóvel – e cerca de metade destes aparelhos tem recursos como câmaras de foto e vídeo, e acesso à internet e às redes sociais.

Além de vigiar o uso das redes sociais e das mensagens de texto, as aplicações podem também mostrar por exemplo a velocidade a que o adolescente está a conduzir, ou a velocidade do carro em que viaja como passageiro.

A MamaBear oferece precisamente este serviço, e a sua co-fundadora, Robyn Spoto, diz que a app é usado para ligar famílias inteiras e enviar alertas quando alguém está acima do limite de velocidade, ou saiu de um determinado perímetro que tenha sido estabelecido como limite.

A aplicação, no entanto, não pode ser usada secretamente. “A tecnologia é o seu braço direito para fornecer as informações de que precisa para ter as conversas corretas”, acredita Spoto.

De acordo com Spoto, muitas famílias sentem-se mais seguras recebendo notificações sobre onde estão os filhos.

DR Michael Heape / Florida Trend

A fundadora e presidente da MamaBear, Robyn Spoto

A fundadora e presidente da MamaBear, Robyn Spoto

A executiva, também mãe, conta que usa a app para localizar tanto os pais como o filho de dez anos, que não tem telefone, mas usa um iPod Touch.

Mas os pais não se irritam com o facto de a filha adulta receber mensagens cada vez que eles aceleram a caminho do trabalho, ou voltam mais tarde de uma festa?

Robyn Spoto ri-se, e diz que eles estão habituados. “Eu não fico propriamente a vigiá-los”, diz, “apenas quero estar segura de que chegaram bem a casa.

Jogo do gato e do rato

Porém, os adolescentes geralmente são melhores a usar a tecnologia do que os pais, de modo que estas apps podem criar uma espécie de jogo do gato e do rato, em que eles tentam evitar os olhares curiosos dos mais velhos.

Mas as apps estão preparadas até para essas situações. Se os filhos não ligam de volta ou desligam o telefone, é possível inactivar o telefone à distância, de modo a que só funcione para ligar para os pais.

Um grupo de adolescentes, abordado pela BBC num shopping de Los Angeles, nos Estados Unidos, disse achar improvável que estivessem a ser vigiados pelos pais.

Segundo os jovens, “os pais estão demasiado ocupados” e “confiam nos filhos”.

A história é diferente numa escola primária da cidade, onde o especialista em cibersegurança Lou Rabon falava com pais dos colegas do seu filho.

Muitos dos casais pareciam favoráveis à ideia de vigiar os movimentos dos filhos.

Se pudesse, colocava-lhes chips, como aos cãezinhos”, diz uma mãe.

Albert Mollon / Flickr

As crianças geralmente são melhores a usar a tecnologia do que os pais

As crianças geralmente são melhores a usar a tecnologia do que os pais

Muitos dos pais achavam que percebiam de tecnologia, mas ficaram chocados ao ver quão fácil foi para Rabon encontrá-los a todos, pelas fotos que publicavam no Facebook – simplesmente por não terem desligado a geolocalização nas câmaras dos telemóveis.

Todos ficaram ainda mais horrorizados com as mensagens de um “predador” numa sala de chat, quando Rabon entrou e se fez passar por uma menina de 14 anos que “se sentia sozinha e estava à procura de novos amigos”.

Ingenuidade

Lou Rabon, que está também a criar a sua própria app para pais, aconselha os casais a usar passwords difíceis em dispositivos partilhados pela família.

Durante a reunião, uma mãe contou a história do filho de nove anos, que aprendeu com uma criança mais velha uma forma de escapar ao controle do telemóvel dos pais, experimentando uma password comum na família.

“Em questão de minutos, já tinha procurado a palavra sexo no Google. Com 9 anos, o meu filho estava num site porno“, conta a mãe.

“Ele viu coisas que não queríamos que visse – pelo menos nos próximos dez anos”, afirmou.

Rabon diz que é ingenuidade confiar cegamente nos filhos, mas concorda que, por muitas razões, os tempos que correm são maus para se ser adolescente.

A app que está a criar vai alertar os pais se as crianças num círculo de amigos desligarem os telefones, e dar a conhecer as suas localizações. Ou seja, acabou a festa.

“Se quiser desligar-se completamente e criar os seus filhos neste mundo, tem que ir viver para a Amazónia ou coisa parecida. No mundo em que vivemos, este tipo de tecnologia omnipresente só vai aumentar”, afirma o especialista.

“Não quero criar os meus filhos numa bolha, mas não posso ignorar a realidade. Se esta tecnologia pode salvar vidas, então acho maravilhoso podermos vigiar os nossos filhos”, conclui Rabon.

ZAP / BBC

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