Uma nova investigação, que envolveu primatas atuais e os nossos ancestrais primitivos, permitiu aos cientistas descobrir que os primatas do passado não eram solitários, ao contrário do que se pensava até ao momento.
Afinal, o modo de vida em sociedade dos antigos símios era, surpreendentemente, parecido com o da espécie humana. Segundo a mais recente investigação, a organização social era variável, ainda que a maioria vivesse aos pares e apenas 10 a 20% dos indivíduos fossem solitários.
Segundo o Sci News, a vida aos pares era, provavelmente, causada por benefícios reprodutivos, como o acesso a parceiros e a redução da competição entre os sexos.
Para chegar a esta conclusão, Charlotte Olivier, investigadora da Universidade de Estrasburgo, e os seus colegas recolheram informações detalhadas sobre a composição das unidades sociais nas populações de primatas em estado selvagem. Depois, construíram uma base de dados que abrangeu quase 500 populações de mais de 200 espécies.
Importa salientar que mais de metade das espécies de primatas registadas na base de dados apresentava mais do que uma forma de organização social.
“A organização social mais comum era a de grupos em que várias fêmeas e vários machos viviam juntos, por exemplo, chimpanzés ou macacos, seguidos de grupos com apenas um macho e várias fêmeas – como nos gorilas ou langures.
No entanto, um quarto de todas as espécies vivia aos pares“, destacou Adrian Jaeggi, investigador da Universidade de Zurique.
Tendo em conta diversas variáveis socioecológicas e de história de vida – como o tamanho do corpo, a dieta ou o habitat –, os investigadores calcularam a probabilidade das diferentes formas de organização social, incluindo para os nossos antepassados que viveram há cerca de 70 milhões de anos.
Para reconstruir o estado ancestral dos primatas, basearam-se em fósseis, que mostraram que os ancestrais eram relativamente pequenos e arbóreos, pormenores esses que se correlacionam com a vida a pares.
“O nosso modelo mostra que a organização social ancestral dos primatas era variável e que a vida a pares era de longe a forma mais provável“, concluiu Jordan Martin, investigador da Universidade de Zurique. “Apenas cerca de 15% dos nossos antepassados eram solitários. Viver em grupos maiores só surgiu mais tarde na história dos primatas.”
Apesar disso, a vida a dois não equivalia necessariamente à monogamia sexual ou a cuidados infantis cooperativos.
“Era mais provável que uma determinada fêmea e um determinado macho fossem vistos juntos durante a maior parte do tempo e partilhassem a mesma área de residência e local de dormir, dado que era mais vantajoso para eles do que a vida solitária”, explicou Carsten Schradin, investigador da Universidade de Estrasburgo.
“Isto permitia-lhes defenderem-se dos seus rivais ou manterem-se quentes uns aos outros”, acrescenta o investigador.
Por outras palavras, a estrutura social dos primatas primitivos era mais semelhante à dos humanos atuais do que se supunha anteriormente. O artigo científico com os resultados do estudo foi publicado, em dezembro, na Proceedings of the National Academy of Sciences.