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Normalmente associamos certos tipos de nomes e sons a determinadas formas — e isso inclui as nossas caras. Mas afinal porque que é que o Rui tem cara de Rui e a Ana tem cara de Ana?
Imaginemos 2 formas, uma delas mais arredonda e em forma de bolha e outra mais pontiaguda e irregular.
Se tivermos de associar a cada um das figuras um determinado nome a cada uma dessas formas, qual delas é kiki e qual delas é bouba?
A maior partes das pessoas escolhe o nome bouba para a forma mais arredondada e mais próxima de uma bolha, enquanto a forma mais pontiaguda e irregular é normalmente associada ao nome Kiki.
Mas afinal, porque razão isto acontece assim e porque associamos certos nomes a um certo tipo de forma ou cara?
Este comportamento é reflexo da forma como o nosso cérebro liga a informação sensorial: a palavra “bouba” tem sons suaves e arredondados (como os sons de “b” e “ou”), refletindo o formato redondo.
Por sua vez, a palavra “Kiki” tem sons agudos e angulares (como o “k” e o “i”), combinando com o formato irregular.
É como se algumas ligações entre sons e significados fossem universais, e não aprendidas. Isto tem implicações para o desenvolvimento da linguagem, para a construção de marcas e até para a forma como as crianças aprendem as palavras.
Culpa dos nossos pais
Pensemos agora, por exemplo, nos futuros pais que se debatem com a difícil decisão de escolher um nome para os seus pequeninos. Segundo um estudo publicado em 2024 na PNAS, o nosso rosto muda com o tempo para se adaptar ao nosso nome.
A base de partida para o estudo foi a descoberta de um fenómeno conhecido como “efeito de correspondência nome-rosto” — que se refere à capacidade de as pessoas olharem para um rosto e, com uma precisão surpreendente, identificarem o nome correto a partir de uma lista de opções — melhor do que se estivessem simplesmente a adivinhar.
Este efeito levanta duas possibilidades: ou os pais olham para a cara do bebé e escolhem um nome que, de alguma forma, combina com ela, ou então, os nomes que nos são dados acabam por influenciar a nossa aparência, ao ponto de nos tornarmos parecidos com o nosso próprio nome.
No decorrer do estudo de 2024, uma equipa de investigadores israelitas testou estas duas hipóteses numa série de experiências, nas quais pediram a participantes que associassem rostos de adultos e de crianças aos seus nomes.
Os participantes tiveram uma taxa de acertos acima do mero acaso no caso dos rostos de adultos, mas tiveram dificuldades em acertar nos nomes das crianças.
Estes resultados sugerem que, com o tempo, passamos a parecer-nos com o nosso nome, em vez de simplesmente recebermos um nome que nos assente bem à nascença, nota a BBC.
Num outro estudo, os investigadores usaram aprendizagem automática para avaliar a semelhança entre os rostos de pessoas que partilham o mesmo nome versus aqueles que não o partilham.
Os resultados mostraram que os adultos com o mesmo nome apresentavam uma semelhança facial acentuada, o que não se verificava entre crianças com o mesmo nome.
Isto vai ao encontro da ideia de que a nossa aparência se molda ao nome com o passar dos anos. Mas poderá o nosso nome realmente moldar o nosso rosto?
Assim, os investigadores sugerem que as pessoas provavelmente interiorizam os estereótipos associados ao seu nome e, ao longo do tempo, acabam por comportar-se de formas que alteram a sua aparência para se enquadrar nesses estereótipos.