ESA / M. Kornmesser / European Southern Observatory

Impressão de artista do Oumuamua, o primeiro asteróide interestelar
Depois do Oumuamua e do 2I/Borisov, um terceiro corpo interestelar, chamado 3I/ATLAS, foi detetado no nosso Sistema Solar. Vai passar a grande velocidade perto de Marte, encontrá-lo tão cedo “foi como se os deuses da astronomia estivessem a rir-se de nós”.
Pela terceira vez na história, os astrónomos detetaram um novo visitante interestelar — um objeto de outra estrela — que está a entrar no nosso sistema solar a grande velocidade.
Primeiro denominado A11pl3Z e agora designado como 3I/ATLAS, o cometa foi avistado por um telescópio de pesquisa no Chile a 1 de julho e confirmado pelo Centro de Planetas Menores da União Astronómica Internacional no mesmo dia.
Para reconstituir a sua trajetória, os astrónomos pesquisaram em levantamentos celestes mais antigos e encontraram a sua posição já em meados de junho.
Segundo a NASA, o cometa não representa qualquer ameaça para a Terra, e permanecerá a uma distância de pelo menos 1,6 unidades astronómicas — cerca de 240 milhões de quilómetros.
O 3I/ATLAS parece estar a atravessar o Sistema Solar numa linha quase reta e a uma velocidade tão elevada que a gravidade do sol não o consegue capturar, pelo que os astrónomos têm a certeza de que o objeto tem origens alienígenas — veio de outro sistema estelar.
O objeto pode ter até 20 km de largura e encontra-se atualmente dentro da órbita de Júpiter. Os astrónomos estimam que passe próximo do Sol em outubro.
NASA/JPL-Caltech

Trajetória do 3I/ATLAS no seu passeio pelo nosso Sistema Solar
O primeiro visitante interestelar conhecido, um objeto bizarro semelhante a um asteroide chamado ‘Oumuamua, veio da direção da constelação de Lira e foi avistado em outubro de 2017.
Como ‘Oumuamua se afastou da vista apenas 2,5 meses após a sua descoberta, os astrónomos apenas conseguiram vislumbres fugazes do objeto — o que deu origem a muitas teorias sobre o que realmente seria este objeto. Uma teoria defendeu até que seria uma sonda enviada por uma civilização extraterrestre.
Um segundo objeto, 2I/Borisov, foi primeiro avistado em agosto de 2019. Mais tarde os astrónomos determinaram que tinha vindo de um lar distante e gelado— era um cometa errante da constelação de Cassiopeia.
“O que é incrível sobre o 3I/ATLAS é que o descobrimos no seu caminho para o sistema solar”, diz Pamela Gay, astrónoma do Instituto de Ciências Planetárias baseada no Illinois, citada pela Science News.
Isso significa que os cientistas terão tempo suficiente para observar o seu percurso pelo sol. O 3I/ATLAS provavelmente será visível da Terra até 2026.
Alan Fitzsimmons / NASA, ESA; D. Jewitt / UCLA; David Rankin, Saguaro Observatory

Apenas três objetos interestelares conhecidos foram detetados no sistema solar até à data: ‘Oumuamua (esquerda), 2I/Borisov (centro) e 3I/ATLAS (direita).
Mas os astrónomos também não estão parados.
“A pressa neste momento é que queremos observá-lo antes de aquecer enquanto se dirige para o sistema solar interior”, diz Chris Lintott, astrónomo da Universidade de Oxford.
“Estamos interessados em estudá-lo como uma relíquia congelada de outro sistema planetário, não uma relíquia congelada de um sistema planetário que foi bem cozida pelo nosso Sol”, nota Lintott
Observações adicionais ajudarão a determinar a composição do 3I/ATLAS, uma “oportunidade rara de obter dados sobre outro sistema solar que não podemos obter de outra forma”, diz Gay. Essas informações poderiam iluminar como os planetas se formam por toda a Via Láctea.
Os astrónomos esperam avistar mais visitantes interestelares — especialmente com o papel crescente dos cientistas cidadãos e novas instalações como o Observatório Vera Rubin, no Chile, que começará a recolher dados científicos este ano.
Capturar o 3I/ATLAS antes disso foi um golpe de sorte, diz Lintott. “Soube deste objeto cerca de 30 segundos depois de acordar, e ri-me às gargalhadas“.
“Tínhamos-nos resignado ao facto de que íamos esperar que o Observatório Vera Rubin começasse a funcionar para encontrarmos outro objeto interestelar, e ter outro observatório antes disso a encontrar um objeto interestelar já esta semana foi como os deuses da astronomia a rirem-se de nós“.