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Pais que não acordam com o choro dos bebés não têm desculpa

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Não há qualquer desculpa biológica para os pais continuarem a dormir durante o choro dos bebés – nem para serem a maioria das mães a levantar-se para cuidar dos filhos.

As mães são muito mais propensas a tratar dos bebés em período noturno do que os pais.

Mas um novo estudo pôs em dúvida a ideia de que as mulheres estão biologicamente preparadas para acordar mais do que os homens quando um bebé chora.

O estudo, publicado na mais recente edição do jornal Emotion, sugere que a disparidade significativa nos cuidados noturnos se deve a fatores sociais e não biológicos.

Por vezes designado por “cordão umbilical acústico”, o choro de um bebé constitui uma ligação poderosa com a pessoa que cuida dele, tal como o cordão umbilical físico o era no útero. O choro é um modo primário de comunicação, concebido para obter uma resposta.

Existe a convicção de que as mulheres são naturalmente “programadas” para responder ao choro de um bebé durante a noite, mais do que os homens. Mas o estudo da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, desafiou essa crença.

O estudo tinha como objetivo investigar por que razão as mães suportam normalmente uma maior parte da carga de cuidados noturnos do que os pais. Os investigadores estudaram se as diferenças biológicas na forma como os homens e as mulheres reagem ao choro dos bebés durante a noite, antes de se tornarem pais, poderiam explicar este desequilíbrio.

Como detalha a New Atlas, na primeira parte do estudo, 140 não-pais (76 mulheres, 64 homens) dormiram em casa com um smartphone que reproduzia choros de bebés e sons de alarme em volumes crescentes. Os investigadores registaram quando os participantes acordavam em resposta aos sons.

Aqui, os investigadores descobriram que as mulheres tinham apenas uma ligeira probabilidade, cerca de 14%, de acordar mais do que os homens quando os sons eram reproduzidos num volume muito baixo. Não houve diferenças significativas entre homens e mulheres em volumes mais altos; e não houve diferença na forma como homens e mulheres reagiram a gritos versus alarmes.

Ou seja, as mulheres eram um pouco mais sensíveis a sons de baixo volume, mas esta diferença desaparecia com o aumento do volume – equiparado ao choro dos bebés.

Na segunda parte do estudo, foram recrutados 117 casais dinamarqueses de pais pela primeira vez. Cada um dos pais relatou diariamente, durante uma semana, o número de vezes que eles e o seu parceiro se levantaram à noite para cuidar do bebé.

Aqui, as mães tinham três vezes mais probabilidades de se levantarem à noite para cuidar do bebé, do que os pais. Prestaram 76% dos cuidados. Por seu turno, em apenas cerca de 1% dos casais o pai prestou mais cuidados noturnos do que as mães. Cerca de 23% dos casais partilhavam os cuidados em partes iguais.

“A nossa modelação matemática mostrou que a grande diferença nos cuidados noturnos não pode ser explicada pelas pequenas diferenças que observámos na sensibilidade ao som entre homens e mulheres”, disse o autor principal do estudo, Arnault Quentin-Vermillet, citado pela New Atlas.

O estudo desafiou o pressuposto de que as mulheres estão “naturalmente” mais sintonizadas com as necessidades noturnas dos bebés. Além disso, os resultados também sugerem que a disparidade pode ser explicada por diferenças sociais, em vez de biológicas.

“Contrariamente ao que os muitos meios de comunicação social popular retratam, os nossos participantes masculinos não dormiram durante o choro do bebé”, disse a autora correspondente do estudo, Christine Parsons, do Departamento de Medicina Clínica da Universidade de Aarhus.

Ainda assim, a especialista afirmou que há vários fatores que explicam os resultados, provavelmente interligados.

“Em primeiro lugar, as mães geralmente tiram licença de maternidade antes de os pais. Assim, as mães ganham mais experiência em acalmar o bebé desde cedo do que os pais. Em segundo lugar, quando as mães estão a amamentar durante a noite, pode fazer sentido que os pais durmam até ao fim”, teorizou.

ZAP //

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