Estudo da NOVA Medical School de Lisboa revela sobrestimação da miopia na Europa.
Um novo estudo liderado por investigadores da NOVA Medical School, de Lisboa, revela que a miopia tem sido consistentemente sobrestimada na Europa devido a métodos de diagnóstico pouco rigorosos.
A análise agregada de dados de 14 países europeus (grupo da qual Portugal não fez parte) indica uma prevalência média de miopia de 23,5%. No entanto, este número baixa para 18,9% quando são considerados apenas os estudos que recorrem à refração cicloplégica (CR) — um exame ocular que bloqueia a acomodação do olho, crucial para diagnósticos fiáveis, sobretudo em crianças.
A investigação, publicada na The Lancet Regional Health – Europe e coordenada por André Rosário, professor e investigador da NOVA Medical School e do Comprehensive Health Research Centre (CHRC), também revela grandes disparidades entre países, com prevalências que variam entre 11,9% na Finlândia e 49,7% na Suécia.
“O nosso estudo mostra que a miopia é consistentemente sobrestimada na Europa quando não são utilizados métodos rigorosos como a refração cicloplégica”, explica Rosário em comunicado. “Isto tem sérias implicações para o desenho de políticas públicas, especialmente se baseadas em dados inflacionados”, acrescenta.
Portugal ficou de fora da análise por não ter amostras representativas, dados auto-relatados ou baseados apenas em acuidade visual. E isso é preocupante, alerta o investigador.
“É urgente reforçar a investigação nacional nesta área e alinhar as metodologias com os padrões internacionais. Sem isso, os dados não refletem a realidade e são de pouca utilidade para o planeamento estratégico em saúde. Precisamos de estudos longitudinais, metodologicamente robustos, utilizando a refração cicloplégica, com maior cobertura geográfica e segmentação por faixa etária.”
Para além de ser uma condição visual, a miopia está associada a doenças oculares graves e até à demência, o que reforça a importância da deteção precoce e do acompanhamento adequado.
As projeções atuais indicam que quase metade da população mundial poderá sofrer de miopia até 2050.