Camila Reveles é nascida e criada no Brasil, mas há quatro gerações, o tetravô de Reveles deixou Portugal e mudou-se para a região de Praia Seca, perto do Rio de Janeiro. Com ele trouxe a salicultura — a produção do sal marinho por evaporação solar.
Praia Seca era o sítio perfeito: é um dos lugares mais salgados do mundo. A Lagoa de Araruama, é o maior lago hipersalino do mundo, com uma salinidade de 5,2% — muito mais salgado do que o oceano, que tem 3,2%.
Hoje, a indústria de sal comercial no nordeste do Brasil está a tornar obsoletas as antiquadas salinas solares e, uma a uma, elas foram fechadas, escreve o Free Think.
Reveles quer mostrar que é possível cultivar a terra para algo diferente do sal e dos resorts que hoje surgem nas antigas salinas. No entanto, qualquer agricultor dirá que o excesso de sal transforma inadvertidamente as terras agrícolas em terrenos baldios.
“O meu desejo é cultivar comida sem água doce”, disse, discordando do senso comum. Camila Reveles vê isto como uma boa oportunidade para cultivar colheitas plantas tolerantes ao sal.
Trocado por miúdos, Reveles quer cultivar halófitas — plantas que estão adaptadas a viverem no mar ou próximo dele, sendo tolerantes à salinidade. As algas marinhas são um exemplo de halófitas, mas os brasileiros não estão propriamente habituados a comê-las com a picanha e o feijão preto.
Reveles quer dar passos de bebé. Ela está a cultivar salicórnia, uma planta encontrada em pântanos e consumida na Europa. Assim que os brasileiros se encantarem pelo seu sabor salgado e crocante, Reveles avançará para outras halófitas.
“Ao fazer algo com a salina solar, esta área abundante, estou a tentar mostrar outra perspetiva. Não temos que vender este terreno. Podemos preservá-lo e torná-lo lucrativo”, defende. Até agora tem resultados, com alguns restaurantes locais a utilizarem a salicórnia nos seus menus.
Jose Dinneny, biólogo da Universidade de Stanford, estuda como é que as plantas podem sobreviver em condições adversas com água doce limitada e alta salinidade do solo. Ele diz que será necessário que os futuros agricultores comecem a tomar por exemplo o trabalho de Camila Reveles.
Além disso, com colheitas geneticamente modificadas e a introdução de novas colheitas como comestíveis, podemos ter a hipótese de transformar o problema numa oportunidade.