Duas voluntárias que distribuíam alimentos a sem-abrigo foram agredidas por dois indivíduos. “Consta que estes nazis andam há semanas a distribuir comida pelos sem-abrigo portugueses e a incentivar ao ódio contra estrangeiros que se encontram a viver na rua”, denuncia candidato pelo Bloco à Câmara do Porto.
O centro da cidade do Porto foi palco de um novo episódio de violência orquestrada por neonazis, na noite de terça-feira — o mesmo dia em que o ator Adérito Lopes foi violentamente agredido à entrada da sala de teatro Cinearte, em Lisboa, juntamente com outros dois atores, tendo acabado hospitalizado.
No Porto, foram duas voluntárias, que distribuíam alimentos a pessoas em situação de sem-abrigo, que foram agredidas por dois homens que, além de terem feito saudações nazis, as responsabilizaram pelo aumento da imigração em Portugal, segundo comunicado da PSP enviado ao jornal Público.
Os dois homens, de 24 e 27 anos, terão disferido empurrões e murros às vítimas, que tencionavam expulsar do local. Tudo se passou num beco perto da Rua Júlio Dinis, perto da Rotunda da Boavista.
Alcoolizados e em tronco nu, “identificaram-se como simpatizantes do Chega e disseram que a culpa de os imigrantes estarem a aumentar era nossa, porque andamos a ajudá-los ao distribuir comida na rua”, relata uma das testemunhas ouvidas pelo jornal. Um dos homens empurrou uma das voluntárias contra uma carrinha e ambos proferiram injúrias.
A Polícia de Segurança Pública (PSP), alertada para a ocorrência, identificou os dois suspeitos. Um deles, de 24 anos, foi detido depois de resistir à identificação e agredir um agente da autoridade com um murro. Foi presente a tribunal e ficou sujeito à medida de coação de apresentações semanais. O outro, com 27 anos, foi apenas identificado no local. As vítimas optaram por não receber tratamento hospitalar.
“Andam a distribuir comida pelos sem-abrigo portugueses e a incentivar ódio contra estrangeiros”
Nas redes sociais, surgiram denúncias de que alguns grupos neonazis estariam a distribuir comida exclusivamente a sem-abrigo portugueses, e ao mesmo tempo a fomentar o ódio contra imigrantes.
As organizações de voluntariado que atuam no Porto têm demonstrado preocupação face ao aumento das ameaças. Está em preparação uma reunião conjunta para definir uma estratégia de resposta, uma vez que alguns voluntários ponderam interromper a distribuição de alimentos por receio de novas agressões.
Estas equipas de rua “foram ameaçadas violentamente e impedidas de fazer o seu trabalho”, denuncia o recandidato pelo Bloco de Esquerda à Câmara do Porto, Sérgio Aires.
“Consta que também estes nazis andam há semanas a distribuir comida pelos sem-abrigo portugueses e a incentivar ao ódio contra os estrangeiros que se encontram a viver na rua”, acusa o também ex-presidente da Rede Europeia Antipobreza em publicação no Facebook.
O neonazi Mário Machado, líder do nacionalista Grupo 1143, já tinha confirmado que o grupo andava a “percorrer as ruas do Porto” a levar comida aos sem-abrigo.
“Durante dois dias, percorremos as ruas do Porto para estar ao lado de quem mais precisa. Estivemos com os sem-abrigo, levámos comida e uma palavra amiga. Não mudámos o país, mas mudámos o dia de alguém (…) Viva Portugal e os Portugueses”, escreveu o grupo liderado pelo condenado em publicação no X, acompanhada por fotos e vídeos.
A Câmara Municipal do Porto, através do vereador da Coesão Social, Fernando Paulo, garantiu que a agressão será discutida na próxima reunião do Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo (NPISA), agendada para 18 de Junho.
Numa declaração enviada à Lusa, a autarquia refere que “um incidente perturbador” interrompeu o trabalho de solidariedade desenvolvido por uma equipa de três voluntárias.
“Lamentamos profundamente o sucedido e manifestamos a nossa total solidariedade à organização envolvida, bem como às pessoas diretamente afetadas por esta inaceitável situação de altercação e agressão, cujas motivações, estamos certos, serão devidamente apuradas pelas autoridades competentes”, acrescenta a autarquia.
No mesmo dia desta agressão no Porto, na capital, o caso do ator Adérito Lopes chocou o país. Agredido por um grupo com alegadas ligações neonazis, elementos da companhia de teatro A Barraca também foram alvo de ameaças possivelmente pela peça sobre Luís de Camões que estavam a fazer.
Um dos autores do ataque esteve envolvido no assassinato de Alcindo Monteiro, há 30 anos, na mesma data.
Um dia vão esses neo nazis pedir ajuda e a quem irão recorrer? Deus escreve direto por linhas tortas…