O comissario europeu da Economia, Paolo Gentiloni, disse hoje que há margem para aumentar os salários em Portugal. Há três dias alertava que era importante evitar uma espiral de aumento de salários.
Na terça-feira, Paulo Gentiloni admitia ter havido um declínio do poder de compra das famílias nos últimos trimestres. Dizia, no entanto, que era importante evitar uma espiral de aumento de salários.
Hoje, numa conferência de imprensa conjunta com o ministro das Finanças, em Lisboa, o comissario europeu da Economia parece ter voltado atrás na análise.
“Em alguns setores a procura foi especialmente forte e houve níveis extraordinários de lucros“, disse Paolo Gentiloni.
“Isso pode permitir ao setor privado e aos sindicatos encontrarem margem de manobra para aumentar o poder de compra dos trabalhadores”, acrescentou, considerando que, nesse caso, os aumentos salariais não iriam contribuir para aumentar a inflação.
No Relatório do Conselho de Administração do Banco de Portugal de 2022, divulgado esta semana, o banco central refere que, no ano passado, houve empresas que beneficiaram da conjuntura de aumento dos preços e “terão também aumentado as suas margens de lucro”.
O Banco Central Europeu (BCE) tem discutido o impacto das margens de lucro das empresas no surto inflacionista.
“Um caminho estável e coerente”
Gentiloni está hoje em Lisboa, onde se reuniu e deu uma conferência de imprensa conjunta com o ministro das Finanças, Fernando Medina.
Quando questionado sobre se o ambiente de instabilidade política pode pôr em causa as previsões económicas da Comissão Europeia para Portugal, Gentiloni afirmou que a consolidação orçamental e o crescimento económico denotam o bom trabalho das autoridades portuguesas.
“Claro que cada país enfrenta problemas, mas o caminho feito pelas autoridades portuguesas é muito estável e coerente“, disse Gentiloni, que está em Portugal também para participar na reunião do grupo Bilderberg – que decorre num hotel em Lisboa e se prolongará até domingo -, segundo informações recolhidas pela Lusa.
O comissário italiano destacou a queda da dívida pública – que face ao PIB foi de 113,9% em 2022 e Bruxelas prevê que desça para 106,2% em 2023 – e o crescimento económico de Portugal.
Esta semana, Bruxelas reviu em alta a projeção de crescimento da economia portuguesa deste ano para 2,4%, a terceira maior taxa da zona euro, ajudada pelo turismo, revelando-se mais otimista do que o Governo.
Em 2022, a economia portuguesa cresceu 6,7%.
Nas previsões económicas de primavera, a Comissão Europeia melhorou a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) português para este ano face aos 1% previstos em fevereiro e manteve a previsão de uma taxa de 1,8% para 2024.
A previsão para este ano coloca Portugal no ‘top três’ dos países da zona euro com a maior taxa de crescimento deste ano, a par da Grécia, apenas ultrapassados pela Irlanda (5,5%) e por Malta (2,4%).
Em declarações esta semana em Bruxelas, o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, destacou as “previsões positivas”, mas também a redução do défice em 2023 – de 0,4% do PIB em 2022 para 0,1% este ano.
Já hoje, na conferência de imprensa em Lisboa, Gentiloni afirmou que, segundo as estimativas de Bruxelas, as medidas temporárias de apoio na área da energia deverão desaparecer de forma progressiva: em 2022, representaram 2% do PIB; este ano, deverão representar 0,8% do PIB, até serem eliminadas em 2024.
ZAP // Lusa