Depois de sofrer acusações de fraude jornalística, o jornal Folha de S. Paulo voltou a publicar os dados de uma sondagem divulgada no fim de semana. Uma das novas tabelas desmentia, em parte, a manchete no jornal de que 50% dos brasileiros preferia Michel Temer no poder.
A sondagem, publicada no fim de semana pela Folha de S. Paulo, surgiu depois de um hiato de três meses de informações do Instituto Datafolha, mais precisamente desde a votação do impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados.
O novo levantamento do Datafolha parecia trazer boas notícias para o Governo do presidente interino: “Para 50% dos brasileiros, Temer deve ficar”.
A cerca de 40 dias da votação final no Senado do impeachment de Dilma Rousseff, que pode selar o seu afastamento ou trazê-la de volta, a Folha anunciava que 50% dos brasileiros preferia Michel Temer no comando do país, embora apenas 14% o considerassem bom ou ótimo.
De acordo com os dados publicados no sábado, apenas 32% defendiam o regresso de Dilma e outros 18% estariam divididos, incluindo 3% que querem novas eleições ou não souberam escolher.
Os dados eram muito diferentes do último levantamento, que em abril apontava que 79% dos brasileiros preferiam que tanto Dilma Rousseff como Michel Temer se retirassem para que houvesse novas eleições. Uma sondagem há menos de um mês, do instituto Vox Populi, colocava essa percentagem em 67%.
Esta quarta-feira, um artigo assinado pelos jornalistas Glenn Greenwald – um dos jornalistas que denunciou o escândalo da NSA dando voz a Edward Snowden – e Erik Dau, publicado no site independente The Intercept, acusava a Folha de “fraude jornalística com pesquisa manipulada visando alavancar Temer”.
Em declarações ao Intercept, o Instituto Datafolha tinha admitido imprecisão na análise dos dados, ao divulgar a pesquisa sobre a preferência do brasileiro em relação à permanência de Michel Temer ou a volta de Dilma Rousseff.
Luciana Schong, do Datafolha, disse ao Intercept que “qualquer análise desses dados que alegue que 50% dos brasileiros querem Temer como presidente seriam imprecisos, sem a informação de que as opções de resposta estavam limitadas a apenas duas”.
A especialista afirmou ao Intercept que foi a Folha, e não o instituto de pesquisas, quem estabeleceu as perguntas a serem feitas aos entrevistados e reconheceu “o aspecto enganoso na afirmação de que 3% dos brasileiros querem novas eleições”, “já que essa pergunta não foi feita aos entrevistados”.
Dados não publicados
Ontem à noite, a Folha de São Paulo publicou um novo documento com os dados completos da sondagem, já com as respostas sobre a percentagem de entrevistados favoráveis a novas eleições no caso de perguntas estimuladas.
Na reportagem com novos dados, o jornal mostra que o resultado foi 62% de brasileiros favoráveis a novas eleições nas respostas estimuladas, ou seja, quando especificamente foi perguntado: “Você é a favor ou contra Michel Temer e Dilma Rousseff renunciarem para convocação de novas eleições para a Presidência da República ainda este ano?”
O jornal alega que, na publicação de domingo, o quadro que mostra as respostas dadas pelos entrevistados quando a pergunta foi o que eles pensavam sobre a volta de Dilma ou a permanência de Temer apresentava resultados das respostas espontâneas “nenhum dos dois” ou “novas eleições”.
“Não há erro, e tanto a Folha quanto o Datafolha agiram com transparência”, diz a reportagem publicada ontem à noite no site da Folha.
Glenn Greenwald afirmou-se “chocado” com a resposta do jornal, afirmando que foi “inadequada e enganadora”, e não abordou “pontos-chave”.
Um terço dos brasileiros não sabe o nome do Presidente
A Folha online também publicou integralmente a pesquisa, feita com 2.792 pessoas em 171 municípios, nos dias 14 e 15 de julho.
Sob o título “Avaliação do governo Michel Temer”, a sondagem concluiu que um em cada três brasileiros (33%) não sabe o nome do atual ocupante do cargo da Presidência da República; 65% responderam corretamente que Michel Temer é o ocupante do cargo e 2% citaram nomes errados.
O Datafolha diz que consultou os brasileiros sobre a possibilidade de uma nova eleição presidencial neste ano, caso Dilma e Temer renunciassem seus cargos, e a resposta foi que a maioria, 62%, declarou ser a favor de uma nova votação. Contra essa possibilidade estavam 30% dos entrevistados, e 8% são indiferentes ou não opinaram.
O índice dos favoráveis a novas eleições é maior entre os jovens de 16 a 24 anos e entre os que têm de 25 a 34 anos. Em ambas as faixas etárias, 68% são a favor de novas eleições. Entre os que responderam que consideram o governo Temer ótimo ou bom, 50% querem novas eleições, e 44% são contrários a um novo pleito.
Questionados se o processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff está a seguir as regras democráticas e a Constituição ou se está a desrespeitá-las – outra pergunta que não surgia na reportagem original -, 49% disseram acreditar na primeira hipótese. Já os que responderam que as regras estão a ser desrespeitadas são 37%, e 14% não tinham opinião.
Avaliação de governo
Ao perguntar o que os entrevistados pensam do governo Temer, 31% disseram considerar o governo mau ou péssimo; 14% consideram a gestão do presidente interino ótima ou boa.
Segundo o Datafolha, numa pesquisa feita pouco antes de Dilma ser afastada do cargo, no início de abril, o índice de reprovação do seu governo era de 65%, enquanto os que consideravam sua gestão ótima ou boa eram 13%.
O instituto de pesquisas também fez uma comparação da avaliação do início do governo Temer com o início do governo de Itamar Franco, que assumiu após o impeachment do então presidente Fernando Collor, em 1992.
Segundo o Datafolha, em dezembro daquele ano, dois meses após assumir no lugar de Fernando Collor, a gestão de Itamar era considerada ótima ou boa por 34% dos brasileiros, regular por 45% e má ou péssima por 11%. Na época, 11% não deram opinião sobre o assunto.
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