Os EUA, Reino Unido e Canadá vão enviar tropas para retirar diplomatas de Cabul visto o perigo da capital cair para os talibãs. Há também receio do regresso da Al-Qaeda e das políticas do tempo do Emirado Islâmico do Afeganistão.
A conquista dos talibãs no Afeganistão continua e o grupo assegurou hoje a capital da província de Helmand, Lashkar Gah, no sul do país, segundo o Observador. Esta conquista surge depois de ontem os talibãs terem alcançado as cidades de Ghazni, Herat e Kandahar, e continuarem a aproximarem-se de Cabul.
O exército e os funcionários administrativos abandonaram a cidade depois de terem acordado um cessar-fogo de 48 horas. Em apenas oito dias, os talibãs controlaram quase metade das capitais das províncias do Afeganistão, numa ofensiva que começou em Maio, depois do início da retirada das tropas americanas e da NATO.
Os Estados Unidos, Reino Unido e o Canadá vão enviar contingentes militares para assegurar a retirada dos diplomatas que ainda estão em Cabul. A capital ainda está sob alçada do governo, mas está em perigo de cair nas mãos dos talibãs em breve.
Cerca de três mil soldados vão ser enviados nas próximas 48 horas para ajudar na retirada, avança o Departamento de Estado dos EUA. “A embaixada permanece aberta. Isto não é um abandono. Isto não é uma evacuação. Isto não é uma rendição”, afirma Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, citado pelo The Washington Post.
Segundo a AP, o Canadá também se está a preparar para enviar soldados para o Afeganistão, mas a fonte, que falou na condição de anonimato, não adiantou o número.
Em entrevista à Sky News, o Ministro da Defesa do Reino Unido revelou que 600 soldados vão trazer até três mil cidadãos britânicos que estejam no Afeganistão e desejem regressar a casa. Ben Wallace considera também o acordo para a retirada de tropas assinado entre Donald Trump e os talibã no ano passado de um “erro” e um “acordo podre”.
“Achei que era um erro fazê-lo dessa forma, que nós enquanto comunidade internacional vamos todos pagar as consequências da decisão, mas quando os Estados Unidos enquanto a nação estrutural tomaram essa decisão, a forma que tínhamos ido significava que tínhamos de sair também”, afirmou Ben Wallace.
O Ministro britânico mostra-se também preocupado com o possível regresso da Al-Qaeda: “[A saída] deixa um grande, grande problema. Foi por isso que disse que este não é o tempo nem a altura certa, porque provavelmente a Al-Qaeda vai voltar”.
Segundo o Público, durante as negociações com os EUA, os talibãs prometeram que não atacariam soldados estrangeiros, que não dariam refúgio a grupos terroristas, como fizeram com a Al-Qaeda e que iriam respeitar os direitos das mulheres. No entanto, o grupo tem atacado políticos, jornalistas, activistas e juízes e a minoria de muçulmanos xiita, visto que a maioria dos talibãs são sunitas.
O Afeganistão continua a ter problemas de igualdade de género, mas ao longo dos anos, as mulheres puderam começar a ocupar cargos políticos, a gerir negócios ou a ser polícias e mais meninas começaram a frequentar as escolas.
Em Abril, quando estavam a preparar a ofensiva, os líderes talibã afirmaram que se chegassem ao poder, as mulheres afegãs poderiam “servir a sua sociedade nas áreas da educação, negócios e nas áreas dos serviços sociais e de saúde, desde que usando o hijab [lenço] islâmico correcto”.
Esta promessa não referiu a obrigatoriedade do uso de burqa (véu que tapa todo o corpo e rosto, excepto os olhos), o fim da educação para meninas, a proibição de mulheres saírem à rua sem acompanhantes masculinos, a proibição de meios de entretenimento como a televisão, os maus tratos a minorias religiosas ou a introdução de penas como a lapidação até à morte e as amputações.
Muitas destas medidas eram parte da vida no Emirado Islâmico do Afeganistão – país que entre 1996 e 2001 esteve sob a alçada dos talibã e que só foi reconhecido pelo Paquistão, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita – devido à interpretação rígida da lei islâmica sharia. Mas estas promessas parecem ser vazias.
“Quando vimos as entrevistas dos talibãs na televisão, tivemos esperança de paz, como se os talibãs tivessem mudado. Mas depois vi os talibãs de perto, não mudaram nada”, disse ao jornal online The Christian Science Monitor uma professora de um distrito capturado em Julho, nos arredores de Mazar-i-Sharif e referida pelo Público.
Não dá para perceber que após tantos anos de intervenções internacionais o governo local não esteja devidamente preparado militarmente para enfrentar estes bandidos!