AD viabilizará Governo de PS? Ventura e Nuno Melo trocam acusações

Tiago Petinga/LUSA

Líder do Chega acusou a AD de viabilizar um Governo PS. Nuno Melo desmentiu as alegações da “muleta útil do PS” e Ventura ficou “estupefacto” com as declarações do líder do CDS — está “a desmentir a ele próprio”.

O presidente do Chega, André Ventura, criticou este sábado a Aliança Democrática (AD) por admitir viabilizar um eventual Governo minoritário do PS com uma maioria de direita no parlamento, apontando um “sentimento de revolta” entre PSD, CDS e IL.

“A AD assume que viabilizará um Governo PS, mesmo que haja uma maioria Chega, PSD e IL no parlamento. Este facto motivou nas últimas semanas um enorme sentimento de revolta em muitas hostes de PSD, IL e CDS”, afirmou o líder do partido de extrema-direita, em alusão a uma declaração do presidente do CDS, Nuno Melo, nesse sentido.

Numa conferência de imprensa realizada na sede do partido, em Lisboa, Ventura defendeu, por isso, ser “absolutamente compreensível” que elementos anteriormente ligados a estes partidos estejam a aproximar-se do Chega, com alguns, como o ex-social-democrata Maló de Abreu — descrito como “um histórico” do PSD — a encabeçar listas do Chega para as eleições legislativas de 10 de março.

O deputado justificou a sua saída do PSD e da bancada social-democrata por não se rever na estratégia da direção do partido e “na inação” da liderança da bancada, nomeadamente quanto às comunidades portuguesas.

“Fundamentalmente e verdadeiramente importante, não me revejo, de todo, na estratégia e na forma de se organizar o partido e de agir da sua direção. E não me revejo nas suas propostas em áreas sensíveis da governação“, refere o deputado.

“Ao Chega já pouco surpreendem os responsáveis da AD. Foi dito e é natural que uma grande franja de homens e mulheres destes partidos se sintam desiludidos, incapazes de construir alternativa ao PS e frustrados com um sentimento ‘de bengala’ que a AD diz querer ser em relação ao PS”, frisou.

Salientando a existência de uma desilusão de elementos de outros partidos de direita com “um clima de permanente anuência ao PS e um clima de incapacidade carismática”, Ventura abriu-lhes as portas do Chega ao recusar “em circunstância alguma” uma viabilização de um Governo minoritário socialista, criticando também a ausência de um convite a Passos Coelho para a convenção da AD este domingo.

“O não convite a Passos Coelho para uma convenção fundamental na escolha do futuro programa eleitoral é a prova de que esta direita está mais preocupada com ajustes de conta internos, com egos que mais não são do que medos de sombras permanentemente existentes, do que em criar uma alternativa ao socialismo”, vincou.

André Ventura garantiu que o Chega “não cederá na sua imagem e no seu ADN” e que está pronto para acolher “todos os que estiverem disponíveis para fazerem a verdadeira alternativa ao PS”, comprometendo-se a fechar as listas do partido na próxima semana. Acrescentou ainda que a mensagem de viabilização de um Governo minoritário do PS pela AD “multiplicou por 10” os contactos de elementos desses partidos para uma aproximação ao Chega.

“Se eu estivesse num partido a concorrer para ser primeiro-ministro e o meu co-concorrente dissesse que vai viabilizar um Governo do PS, a primeira coisa que eu faria era sair. Saindo, descredibiliza o PSD”, indicou, lembrando que Chega e IL surgiram “porque o PSD não fez o seu trabalho” e apresentando o seu próprio exemplo: “Que tipo de pessoa seria eu se impedisse que antigos companheiros meus de partido viessem agora para o Chega?”.

Nuno Melo dispara contra a “muleta útil do PS”

O presidente do CDS respondeu e disse que a Aliança Democrática (AD), que integra também PSD e PPM, não viabilizará um Governo de esquerda, desmentindo o líder do Chega.

“A AD não viabilizará um Governo de esquerda, em primeiro lugar, porque vencerá as eleições e, em segundo lugar, porque a normalidade desapareceu quando o PS governou tendo perdido as eleições e Pedro Nuno Santos esclareceu que não viabilizará um Governo à sua direita, abrindo as portas a uma geringonça 2.0, que seria um desastre para Portugal”, afirmou Nuno Melo, em comunicado.

“As regras têm de ser iguais para todos. Em condições normais quem vence deve governar”, sublinhou o líder centrista.

Em resposta às provocações de Ventura, o presidente do CDS afirmou que “mais do que tresler o pensamento alheio, André Ventura deveria tratar de deixar de ser a muleta útil do PS, nítida no anúncio de que o Chega apresentará uma moção de rejeição a um Governo da AD, fazendo um gigantesco favor ao PS, BE, CDU, PAN e Livre”.

Para Nuno Melo, esta posição do Chega “ajuda a perceber a importância de a AD vencer as eleições em condições de não depender” do número de deputados eleitos do partido de André Ventura. “Certeza absoluta: quanto mais o Chega crescer, mais o PS ficará próximo de governar”, insistiu.

“Estupefacto” Ventura desafia Montenegro

O líder do Chega desafiou o presidente do PSD a esclarecer se viabilizará um governo do PS, caso os partidos de direita tenham maioria no parlamento.

“Luís Montenegro tem de responder sobre se tiver de escolher entre a direita e o PS, se prefere dar a mão ao PS e viabilizar o PS, mas aí o PSD não será muito diferente do que fez o Bloco de Esquerda e o PCP”, afirmou, à margem de um jantar comício em Angra do Heroísmo, nos Açores, na véspera do arranque da campanha eleitoral na região.

André Ventura garantiu que “se houver uma maioria à direita”, o Chega não viabilizará um governo do PS e vai “lutar para criar uma convergência que permita ter um governo de alternativa”, acusando a Aliança Democrática (AD), coligação formada por PSD, CDS e PPM, de manter uma “cultura de subserviência ao Partido Socialista”.

“É uma tremenda irresponsabilidade, um tremendo tiro no pé, é uma ingenuidade e um amadorismo que eu esperava que não existisse numa coligação que quer governar Portugal. Talvez por isso se compreenda que tantos deputados, dirigentes e membros destes partidos estejam a querer vir para o Chega”, apontou.

Já à noite, em Angra do Heroísmo, o presidente do Chega disse ter ficado “estupefacto” com as declarações de Nuno Melo, alegando que o líder centrista se está “a desmentir a ele próprio”.

Ventura defendeu que “era importante Montenegro dizer ao que vem”, na convenção da AD, marcada para domingo, porque Nuno Melo “é uma figura menor desta coligação”.

“Era importante o povo de centro de direita saber o que é que a AD se prepara para fazer. Não podemos só fazer as coisas depois das eleições. Temos de ser claros antes das eleições e cada um tem de dizer ao que vem”, vincou, alegando que a postura da AD pode levar os eleitores a pensar que “mais vale votar num governo do PS”.

O líder do Chega frisou que o partido já deu “sinais de convergência”, dando como exemplo o caso dos Açores, em que assinou um acordo de incidência parlamentar, que permitiu a formação de um governo da coligação PSD/CDS-PP/PPM, em 2020.

André Ventura considerou ainda uma “tremenda hipocrisia” o líder do PSD não querer acordos com o Chega na República, quando isso aconteceu nos Açores, vincando que “só há um Chega e só há um PSD”.

Sobre o facto do presidente do PSD, Luís Montenegro, recusar qualquer acordo com o Chega, Ventura respondeu que a “realidade é mais forte do que a ficção” e que essa é que “vai haver dois partidos maioritários à direita”, o Chega e o PSD, e os sociais-democratas “sabem que, tal como nos Açores, vão ter que lidar com a situação como ela existe”.

“Não vale a pena andarmos a dizer não, não, não” se os portugueses disserem sim, sim, sim”, considerou em dezembro.

ZAP // Lusa

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