O Nova Direita, oficializado há poucos meses, saltou de imediato para o 7.º lugar nos votos fora da Europa. E 5.º lugar no Brasil.
Depois da confusão entre AD e ADN, centenas de emigrantes também podem ter votado por engano.
O Nova Direita é um partido muito recente. Só foi oficializado pelo Tribunal Constitucional há dois meses.
Ainda foi admitido a tempo das eleições legislativas e, sem surpresa, teve um resultado muito modesto: 0,24% e apenas 14 mil votos. Foi dos partidos menos votados em Portugal.
Mas o cenário mudou muito no estrangeiro: o Nova Direita fechou o top-10, atrás das oito forças políticas que têm pelo menos um deputado e atrás do… ADN.
Na Europa a percentagem foi muito semelhante ao que se verificou em Portugal: 0,21%.
Fora da Europa, o Nova Direita surpreendeu claramente: 7.º lugar, à frente de CDU ou Livre. Conseguiu aí 1,48%.
No Oriente, o Nova Direita foi quase insignificativo: 8 votos nos “restantes países da Ásia e Oceânia” e 10 votos na China.
O caso do Brasil
Mas o resultado mais expressivo, e crucial neste desfecho global surpreendente, verificou-se no Brasil.
Entre os eleitores portugueses que vivem no Brasil, o Nova Direita ficou num inesperado 5.º lugar. Conseguiu quase 1.400 votos, ou 2,49% – de longe, a maior percentagem de todas.
Ficou atrás do trio habitual – Chega, AD e PS – do PAN (que já em 2022 conseguira o 4.º lugar), mas à frente de BE, IL, ADN, CDU e Livre.
A direita, seja com PSD ou PSD/CDS, costuma vencer – e com maioria absoluta – no Brasil.
Desta vez a AD ficou no segundo lugar no Brasil, com 11 mil votos, menos do que os quase 14 mil do vencedor Chega.
As siglas do Nova Direita são ND. As siglas de Aliança Democrática são AD.
ND…AD? Houve (novos) votos por engano?
É uma conclusão arriscada, mas parece que a AD perdeu votos para o ND. Mesmo que as designações das forças políticas e os símbolos sejam bem diferentes no boletim de voto.
Tentámos encontrar alguma ligação particular entre o ND e o Brasil, ou entre a sua líder Ossanda Liber e os brasileiros. Não encontrámos.
Também não vemos algum significado especial de ND no Brasil. Há um grupo de comunicação social em Santa Catarina chamado ND. E uma empresa de consultoria. Nenhuma ligação especial com as siglas, aparentemente.
Indiferente a uma eventual confusão, a líder Ossanda Liber já mostrou publicamente a sua satisfação: “Parabéns ao Nova Direita que ficou em quinto lugar no Brasil, no ranking dos 16 partidos que concorreram ao círculo eleitoral de fora da Europa”.
“Esta conquista é ainda mais impressionante considerando que ficámos à frente dos partidos Iniciativa Liberal, Bloco de esquerda, PCP e Livre”, reforçou.
E deixou um aviso: “Este é um importante pronúncio do que irá acontecer nos restantes círculos eleitorais futuramente”.
Parabéns ao NOVA DIREITA que ficou em quinto lugar no Brasil, no ranking dos 16 partidos que concorreram ao círculo eleitoral de fora da Europa.
Esta conquista é ainda mais impressionante considerando que ficámos à frente dos partidos Iniciativa Liberal, Bloco de esquerda, PCP… pic.twitter.com/nk68ESxqzb
— Ossanda Liber (@OssandaLiber) March 21, 2024
Já na manhã desta quinta-feira, Ossanda escreveu que é “indescritível” ter acordado depois de ter vencido “toda a extrema esquerda junta no Brasil, país que acolhe a nossa maior comunidade emigrante”.
Surpreende os menos avisados.
Quem sabe da cruzada de Bolsonaro para colocar um representante desse partido no governo português, com vista a uma ascensão semelhante à do chega, não estranha mesmo nada.
É de lamentar o autismo da sociedade portuguesa, perante perigos deste calibre.
Como chegámos a isto???
Eu quero desnascer, como dizia o saudoso JMB.
A existência em Portugal de um partido político dirigido por uma portuguesa de origem africana é uma novidade muito importante. Tem demorado mas a pouco e pouco a comunidade portuguesa de origem africana vai-se integrando e afirmando, o que pode ajudar a dar à CPLP um papel cada vez mais importante nos países de língua portuguesa. Numa altura em que a Europa parece estar a entrar em colapso por causa da política seguida no respeitante à Rússia e ao conflito ucraniano, pode ser que a CPLP seja uma via a explorar no sentido da afirmação da independência de Portugal face a um ocidente comatoso.