A agência espacial europeia ESA, a Agência Espacial Portuguesa e a Marinha Portuguesa estão a usar estes navios de exploração submarina para recriar os desafios de isolamento e confinamento no espaço.
Os submarinos estão a emergir como uma plataforma de investigação única para estudar a adaptação humana a ambientes extremos – desde as profundezas do oceano até ao espaço exterior.
A ESA, a Agência Espacial Portuguesa e a Marinha Portuguesa estão agora a utilizar estas naves de exploração subaquática para recriar os desafios de isolamento e confinamento no espaço.
A primeira tripulação do projeto SubSea regressou esta semana a terra depois de completar uma expedição subaquática de 60 dias.
No âmbito do projeto, uma equipa científica de universidades da Alemanha, Itália e Portugal está a estudar a evolução do stress, do estado de espírito e da dinâmica da tripulação de 25 voluntários confinados em espaços exíguos, à semelhança dos astronautas em longas missões espaciais.
Os submarinos reproduzem o isolamento, o confinamento e os desafios operacionais das missões espaciais, o que os torna ideais para estudar a forma como estas condições afetam os membros da tripulação e para desenvolver estratégias que os ajudem a lidar com elas.
As expedições subaquáticas servem como análogos de alta fidelidade para testar novas técnicas e recolher dados para melhorar futuras missões de voos espaciais tripulados, explica a ESA.
Para compreender a forma como o corpo e a mente se adaptam ao longo da missão, os cientistas utilizaram questionários e recolheram amostras de cabelo e saliva. Os resultados irão ajudá-los a detetar marcadores de stress como o cortisol, bem como a monitorizar as alterações na saúde imunitária da tripulação.
Há mais de duas décadas que a ESA e os seus parceiros internacionais usam a Estação Espacial Internacional para realizar centenas de experiências, incluindo o estudo dos efeitos dos voos espaciais na saúde humana.
Na Estação Espacial, os astronautas são expostos à microgravidade e à radiação espacial enquanto vivem e trabalham num ambiente confinado.
O astronauta da ESA Andreas Mogensen, que recentemente passou seis meses em órbita da Terra com a missão Huginn, acredita que missões como a SubSea os ajudam a preparar-se para os muitos desafios fisiológicos e psicológicos do espaço.
“O SubSea é uma iniciativa essencial para compreender a resiliência humana em ambientes extremos”, afirma Andreas.”A investigação sobre a vida e o trabalho em ambientes confinados, quer seja no fundo do mar, no espaço ou em locais remotos na Terra, fornece informações valiosas sobre a forma como os seres humanos se adaptam física e mentalmente ao isolamento e ao stress“, acrescenta.
“Estes esforços aprofundam a nossa compreensão dos ambientes extremos e desempenham um papel crucial na preparação da comunidade espacial global para os desafios das futuras missões à Lua, a Marte e mais além”, afirma por seu turno Daniel Neuenschwander, Diretor da Exploração Humana e Robótica da ESA.
A integração dos conhecimentos das comunidades de investigação de submarinos e astronautas poderá impulsionar a inovação nos cuidados de saúde em estações polares, destacamentos militares, expedições de caminhadas, populações que vivem em escuridão prolongada e até em operações mineiras.
As descobertas poderão abordar doenças clínicas como a perturbação afectiva sazonal, a depressão e os distúrbios do sono.
“O SubSea enquadra-se perfeitamente na crescente aposta de Portugal nas actividades análogas e na medicina espacial”, afirma Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, PT Space.
Portugal dispõe de vários sítios terrestres análogos, como o Vulcão dos Capelinhos e o Barreiro da Faneca, nos Açores, e as Ilhas Selvagens, na Madeira. Estes locais assemelham-se a condições encontradas em corpos celestes como a Lua e Marte.
Ao tirar partido dos seus recursos terrestres e marinhos únicos, Portugal está a posicionar-se como um centro essencial de investigação, inovação e formação para apoiar futuras missões espaciais, salienta o responsável da PT Space.