A comida no espaço sabe mesmo mal. Cientistas usam realidade virtual para descobrir porquê

RMIT

Nem todos os alimentos têm o mesmo sabor no Espaço e na Terra. Uma equipa de cientistas da Universidade RMIT está a trabalhar para mudar isso.

De acordo com o ZME Science, o grupo publicou recentemente um estudo que analisa a forma como o cheiro dos alimentos se altera em ambientes espaciais.

As suas descobertas poderão ajudar a melhorar as dietas dos astronautas e beneficiar indivíduos em condições de isolamento na Terra, como os residentes de lares de idosos.

“Um dos objetivos a longo prazo da investigação é produzir alimentos mais adaptados aos astronautas, bem como para outras pessoas que se encontrem em ambientes isolados, para aumentar a sua ingestão nutricional para perto de 100%“, disse Julia Low, investigadora principal da RMIT School of Science.

No Espaço, os astronautas referem frequentemente que a sua comida tem um sabor insípido, o que leva a uma redução da ingestão nutricional.

O estudo, publicado no International Journal of Food Science and Technology, explora a forma como as pessoas percecionam os cheiros familiares dos alimentos num ambiente espacial simulado, utilizando a realidade virtual (RV). Os participantes experimentaram as condições de confinamento e confusão da ISS, com objetos flutuantes e sons operacionais, para imitar os efeitos da microgravidade.

O estudo envolveu 54 adultos com idades compreendidas entre os 18 e os 39 anos, sem historial de enjoos ou vertigens.

Os investigadores descobriram que os odores a baunilha e a amêndoa eram percecionados como significativamente mais intensos na simulação espacial de RV, comparativamente com o ambiente neutro, enquanto a perceção do odor a limão permanecia inalterada.

Esta diferença foi associada à presença de benzaldeído, um composto de cheiro doce encontrado nos aromas de baunilha e amêndoa.

Low salientou o facto de a sensibilidade individual a cheiros específicos e o impacto psicológico do isolamento poderem alterar a perceção dos odores.

“Um maior sentimento de solidão e isolamento pode desempenhar um papel importante e este estudo tem implicações na forma como as pessoas isoladas sentem o cheiro e o sabor dos alimentos”, afirmou.

O estudo poderá ter implicações significativas para melhorar a alimentação dos astronautas em missões de longa duração. Gail Iles, antiga instrutora de astronautas e professora associada da RMIT, sublinhou a importância de compreender e enfrentar os desafios que os astronautas enfrentam com a alimentação no Espaço.

“O que vamos ver no futuro com as missões Artemis são missões muito mais longas, com anos de duração, particularmente quando formos a Marte, por isso precisamos realmente de compreender os problemas com a dieta e a alimentação e a forma como a tripulação interage com a comida”, explicou Iles.

Para além das viagens espaciais, esta investigação poderá beneficiar as pessoas em ambientes socialmente isolados na Terra. Low sugeriu que os resultados do estudo poderiam ajudar a personalizar as dietas de indivíduos em lares de idosos, melhorando potencialmente a sua ingestão nutricional e o seu bem-estar geral através da adaptação dos aromas dos alimentos para melhorar a perceção do sabor.

O estudo introduz novas possibilidades para investigar a forma como as experiências digitais e a perceção sensorial interagem. Iles disse estar entusiasmada com esta assistência em RV.

“O que é incrível neste estudo de RV é o facto de simular muito bem a experiência de estar na estação espacial. E muda realmente a forma como cheiramos as coisas e como as saboreamos”.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.