Pequim sempre teve uma política intensa de censura e vigilância online. A Grande Firewall da China parece agora estender-se ao desenvolvimento da Inteligência artificial no país.
O Partido Comunista Chinês introduziu recentemente várias medidas regulamentares para manter os modelos de IA sob controlo e garantir que os chatbots seguem a linha do partido.
Segundo o Financial Times, o mais recente desenvolvimento nesse sentido envolve forçar as empresas tecnológicas sediadas na China a participar numa revisão governamental dos modelos de IA.
As autoridades estão já a testar estes modelos para verificar se “incorporam os valores socialistas fundamentais“, diz o FT.
O PCC já deu a sua aprovação final a todos os modelos chineses de Large Language Model (LLMs) e dos dados em que estes são treinados.
Entretanto, os modelos internacionais, como o ChatGPT, foram bloqueados na China — o que significa bloquear palavras-chave sensíveis ou informações que o PCC preferiria que não fossem do conhecimento do público.
No que é mais uma instância da chamada da Grande Firewall da China, os chatbots chineses já se esquivam a perguntas sobre o massacre da Praça Tiananmen em 1989 e a comparações entre Xi Jinping e Winnie the Pooh.
Segundo Daniel Colson, diretor executivo da organização não governamental norte-americana AI Policy Institute, os requisitos ideológicos agressivos da China em relação aos seus LLMs podem prejudicar a indústria de IA do país.
“Alguns decisores políticos podem acreditar incorretamente que o PCC está singularmente focado em vencer os EUA no que diz respeito ao desenvolvimento da IA, mas o facto é que os seus objetivos são mais complicados do que isso“, diz Colson, citado pelo Business Insider.
“Eles têm os seus próprios interesses ideológicos, em conflito com o objetivo de avançar o mais rapidamente possível”, explica Colson.
O líder da China, Xi Jinping, vê a tecnologia, incluindo a IA, como a chave para impulsionar a economia do país. Embora os requisitos de censura possam retardar o desenvolvimento e a comercialização de IA da China, esta continua a ser uma força formidável na corrida da IA.
O governo dos EUA vem tentando minar os esforços de IA da China há algum tempo, restringindo o acesso aos mais poderosos chips de IA, para retardar o desenvolvimento do país. Mas, segundo Colson, alguns dos modelos mais avançados da China são, na verdade, fornecidos por empresas americanas.
O plano da China para é simplesmente moldar a realidade e impor o seu poder. E, apesar do seu próprio dilema entre controlar a IA ou fazê-la avançar, a Inteligência Artificial chinesa já está a ser usada por públicos diferentes – e potenciais clientes.
Com efeito, vários regimes em todo o mundo preferem atualmente usar tecnologia chinesa de IA altamente regulamentada e com um travo socialista — algo que pode afinal vir a revelar-se lucrativo para Pequim, mesmo que o seu controlo apertado deixe o país atrasado em relação aos EUA na corrida à IA.