A sueca H&M e a britânica Next admitiram ter encontrado crianças sírias forçadas a trabalhar nas fábricas dos seus fornecedores na Turquia, o país que mais refugiados acolheu desde o início da guerra na Síria – e foram das poucas marcas a agir contra isso.
A denúncia partiu da organização sem fins lucrativos Business and Human Rights Resource Centre (BHRC) e foi avançada pelo jornal The Independent.
A organização, que se dedica a monitorizar a área da responsabilidade social das empresas, questionou no mês passado 28 grandes empresas de vestuário sobre os seus fornecedores na Turquia e as suas estratégias para combater a exploração das crianças e adultos sírios.
Apenas a H&M e a NEXT confirmaram ter encontrado crianças nas suas fábricas e garantiram estar a resolver o problema, suspendendo contratos com esses fornecedores ou levando a cabo programas para colocar as crianças na escola e apoiando as suas famílias.
A Primark e a C&A assumiram ter identificado adultos sírios entre os trabalhadores, enquanto Adidas, Burberry, Nike, Puma e o grupo Arcadia (dono da Topshop, Dorothy Perkins e Burton Menswear) defenderam-se garantindo que não admitem trabalhadores ilegais na sua cadeia de fornecedores.
A BHRRC, no entanto, teme que este seja um problema muito mais alargado, já que algumas marcas não quiseram responder a estas questões – como a M&S, Asos, Debenhams e Superdry -, e dez empresas (incluindo a GAP, New Look e River Island) não enviaram sequer resposta.
“Apenas algumas marcas parecem comprometidas com a dimensão e a complexidade destes problemas com os seus fornecedores turcos; menos ainda admitem ter tomado medidas para proteger estes trabalhadores vulneráveis”, refere a BHRC, citada pelo jornal britânico.
Reagindo ao relatório da organização, a H&M garantiu que “não aceita exploração laboral infantil de maneira alguma” e sublinhou que, no ano passado, as auditorias internas permitiram detetar “um caso de exploração infantil na Turquia”, levando a marca a “suspender de imediato as relações comerciais” com a empresa em questão.
A Turquia é, juntamente com o Bangladesh, a China e o Camboja, um dos maiores produtores de roupa vendida nas lojas europeias – sendo também o país que mais refugiados sírios acolheu desde o início da guerra em 2011, com 2,5 milhões de pessoas nesta situação.
Como só agora a Turquia vai conceder autorizações de trabalho para a população síria, na sequência de um acordo com a União Europeia, muitos encontravam-se a trabalhar de forma ilegal – entre eles muitas crianças usadas para garantir mão-de-obra ainda mais barata – vulneráveis à exploração e a receber muito menos do que os trabalhadores turcos.
As conclusões da BHRC foram divulgadas na mesma semana em que a Europol alertou para o facto de mais de dez mil crianças refugiadas terem desaparecido na Europa em dois anos desta crise humanitária.
ZAP