O Prémio Nobel da Literatura 2015 foi atribuído à escritora e jornalista bielorrussa Svetlana Alexijevich “pelos seus escritos polifónicos, um monumento ao sofrimento e à coragem nos nossos tempos”.
A bielorussa, de 67 anos, é a 112º vencedora do prémio mais prestigiado da literatura, anunciado esta quinta-feira pela nova secretária permanente da Academia de Ciências Sueca, Sara Danius.
Numa declaração divulgada pela Academia, Danius afirmou que Alexijevich “esteve ocupada nos últimos trinta ou quarenta anos a mapear o indivíduo pós-soviético“.
“Não se trata de uma história sobre acontecimentos, mas sobre emoções”, afirmou Sara Danius, sublinhando que os temas retratados por Svetlana Alexievitch, como o desastre nuclear de Chernobyl, são “pretextos para conhecer o indivíduo soviético e pós-soviético”.
Svetlana Alexijevich, que sucede ao autor francês Patrick Mondiano, publicou este ano em Portugal o livro “O fim do homem soviético – um tempo de desencanto“, pela Porto Editora.
A editora Elsinore já revelou que, em 2016, publicará “Vozes de Chernobyl” (título provisório), outra obra da série “Vozes da utopia”, dedicada ao fim da era soviética.
BREAKING NEWS The 2015 #NobelPrize in Literature is awarded to the Belarusian author Svetlana Alexievich pic.twitter.com/MABhwFJ8Lu
— The Nobel Prize (@NobelPrize) 8 outubro 2015
Exílio e investigação
Nascida sob bandeira soviética, em Ivano-Frankovsk, na Ucrânia, Svetlana Alexijevich é filha de um militar bielorrusso e mãe ucraniana. Entre 1967 e 1972, a autora estudou jornalismo na Universidade de Minsk.
A academia refere que, devido às posições políticas críticas ao regime, Alexijevich viveu exilada na Itália, França, Alemanha e Suécia.
Os seus livros estão traduzidos em 22 línguas e alguns foram já adaptados para cinema e teatro.
Em 2013 foi distinguida com o Prémio Médicis Ensaio pela obra “O fim do homem soviético”, que encerra a série de cinco volumes “Vozes da utopia”, na qual aborda a ex-União Soviética (URSS) e a sua queda, numa perspectiva individual.
A série foi iniciada com “A guerra não tem o rosto de uma mulher” (tradução livre), primeiro livro da autora e que se baseia em entrevistas a centenas de mulheres que participaram na II Guerra Mundial (1939-45).
Em declarações por telefone à televisão pública sueca SVT, Alexijevich disse que conquistar o Nobel da Literatura é “uma sensação fantástica, mas, ao mesmo tempo, um pouco perturbadora”.
“Penso de imediato em grandes nomes como Bunin Pasternak”, disse, referindo-se a Boris Pasternak, poeta e romancista russo, autor de “Dr. Jivago”, distinguido com o Nobel da Literatura em 1958.
Ao jornal Svenska Dagbladet, a autora explicou que, pessoalmente, o galardão ser-lhe-á favorável: “Significa que já não será tão fácil os poderosos da Bielorrússia e da Rússia repudiarem-me com um gesto”.
Para além de Alexijevich, vários nomes tinham sido dados como favoritos pela imprensa internacional, como o queniano Ngugi wa Thiong’O, o japonês Haruki Murakami, o poeta sírio Adonis, os norte-americanos Philip Roth e Joyce Carol Oates, o norueguês Jon Fosse e o sul-coreano Ko Un.
Mulheres no Nobel
De acordo com a página oficial dos prémios Nobel, a Academia Sueca recebeu 259 candidaturas, tendo escolhido 198 autores, entre os quais 36 que foram nomeados pela primeira vez.
Atribuído pela primeira vez em 1901 ao escritor Sully Prudhomme, o Nobel da Literatura distinguiu em 1998 o escritor português José Saramago.
O prémio tem um valor monetário de 860 mil euros.
Na história do Nobel da Literatura somam-se agora 14 mulheres distinguidas com o galardão, sete delas nos últimos 25 anos.
A mais recente foi a escritora canadiana Alice Munro, em 2013, antecedida da alemã de origem romena Herta Müller, em 2009, da britânica Doris Lessing, em 2007, da austríaca Elfriede Jelinek, em 2004, da norte-americana Toni Morrison, em 1993, e da sul-africana Nadine Gordimer, em 1991.
A poetisa alemã Nelly Sachs, em 1966, a chilena Gabriela Mistral, em 1945, a romancista norte-americana Pearl S. Buck, em 1938, a escritora norueguesa Sigid Undset, em 1928, e a italiana Grazia Deledda, em 1926, foram as anteriores.
A sueca Selma Lagerlöf, autora de “A maravilhosa viagem de Nils Holgersson”, foi a primeira mulher distinguida com o Nobel da Literatura, em 1909.
/Lusa