Lembra-se do vírus de 30 mil anos que foi encontrado no gelo da Sibéria? Os investigadores afirmam que continua infeccioso, mas não representa um perigo para os seres humanos.
No entanto, o permafrost pode esconder mais segredos que, se não tivermos sorte, trarão riscos para a Humanidade.
O vírus recém-descoberto infetava amebas unicelulares durante o Paleolítico Superior, ou Idade da Pedra. Apelidado de Mollivirus sibericum, estava numa amostra de solo cerca de 30 metros abaixo da superfície. Os resultados foram publicados na Proceedings of the National Academy of Sciences.
O M. sibericum é membro de uma família de vírus gigantes. Até cerca de uma década atrás, pensávamos nesses organismos como universalmente minúsculos, mas depois da descoberta de um vírus enorme chamado mimivírus, descrito pela primeira vez na revista Science em 2003, os investigadores ampliaram a busca por vírus maiores.
O mimivírus e os seus parentes são tão grandes que podem ser vistos sob um microscópio óptico comum. O maior integrante deste grupo, o Megavirus chilensis chilensis, tem um diâmetro de cerca de 500 nanómetros.
Os vírus típicos variam em tamanho de 20 nanómetros até algumas centenas de nanómetros.
Desde a descoberta da família mimivírus, os cientistas já encontraram também as famílias Pandoraviridae e Pithoviridae.
Evolução das células
O M. sibericum é mais largo em diâmetro do que os outros vírus gigantes descobertos, com 600 nanómetros. Possui um genoma de 600 mil pares de bases, com instruções genéticas para criar 500 proteínas.
Os vírus são excertos de ARN ou ADN que funcionam ao “sequestrar” outras células para realizar estas instruções.
Cientistas franceses pretendem agora reanimar o vírus gigante com 30.000 anos desenterrado recentemente do solo gelado da Sibéria.
Chantal Abergel, cientista da Universidade Aix-Marseille, em França, e a sua equipa estão interessados em estudar os vírus gigantes ressuscitados para compreender como é que este grupo evoluiu e como é que a genética viral pode ter influenciado a evolução das células. O ADN viral, por vezes, torna-se uma parte permanente do genoma de uma célula sequestrada.
“Os vírus desempenharam um papel no sentido de evoluir as células”, disse Abergel. Os investigadores não sabem ao certo quando é que os vírus gigantes surgiram na Terra, mas provavelmente têm raízes nas próprias origens do ADN e ARN.
Perigo à espreita?
A técnica dos investigadores para isolar e estudar estes vírus não representa uma ameaça para os seres humanos ou animais, mas é possível que haja outros vírus perigosos suspensos no gelo.
Estes vírus estão enterrados profundamente, por isso é provável que apenas as atividades humanas como a mineração e a perfuração para petróleo e gás natural os perturbem. Os cientistas alertam para que tenhamos cuidado com essas atividades na Sibéria.
As descobertas dos vírus gigantes revelam que eles podem permanecer infecciosos por pelo menos dezenas de milhares de anos. Até agora, no entanto, os investigadores ainda não descobriram quaisquer antigos vírus gigantes que infectem humanos.
Abergel crê que um estudo mais profundo dos vírus poderá ajudar a esclarecer os riscos para a Humanidade. A investigação também tem o potencial de responder a outras questões mais básicas.
“Estes vírus gigantes podem ajudar-nos a entender como é que a vida surgiu na Terra”, afirma. “Há muitos genes que são únicos a esses genomas, e há muitas coisas a aprender com o estudo desses genes”.
ZAP / HypeScience