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O tecido interno de javalis está a aparecer azulelétrico na Califórnia
Algures no condado de Monterey, na Califórnia, o interior dos javalis está a adquirir um tom de azul elétrico — que normalmente consideramos apetitoso quando aparece, por exemplo, numa goma ou num granizado. Motivo: os javalis não sabem ler rótulos.
Em março deste ano, o especialista em controlo de fauna Dan Burton reparou pela primeira vez em algo estranho, quando estava a processar javalis apanhados perto de Salinas, localidade a sul de São Francisco, na Califórnia.
Em vez de músculos e gordura rosados ou esbranquiçados, encontrou tecido de um azul intenso. Era como se os animais tivessem sido alimentados com Gatorade Cool Blue, bebida isotónica com uma característica cor azul néon.
Segundo o Los Angeles Times, Burton alertou o Departamento de Pesca e Vida Selvagem da Califórnia (CDFW), que realizou análises e confirmou que os animais tinham ingerido difacinona, um raticida vulgarmente usado por agricultores para controlar populações de esquilos e ratos.
A difacinona é geralmente misturada com grãos de isco tingidos de azul vivo, para sinalizar aos humanos que não é próprio para consumo.
Infelizmente, os javalis não sabem ler rótulos, e acabam por comer diretamente destes pontos de isco. O produto não é suficientemente forte para matar de imediato um porco de 90 quilos, mas a exposição continuada acumula-se no organismo. Além de colorir os tecidos de azul, torna a carne tóxica.
Robert Poppenga, veterinário e toxicologista do Laboratório de Saúde Animal e Segurança Alimentar da UC Davis, confirmou ao Business Insider que o seu laboratório recebeu uma amostra do animal.
“O pigmento azul é quase certamente proveniente de um corante azul adicionado a uma formulação de isco anticoagulante, um veneno para roedores, mas não conseguimos verificar analiticamente”, disse Poppenga ao Insider. “Tivemos um caso semelhante num porco selvagem há alguns anos.”
De acordo com o CDFW, os javalis podem estar a ingerir o veneno diretamente ou a alimentar-se de outros animais já contaminados. Alguns mostram sinais visíveis de envenenamento, como o insólito tecido muscular azul; outros parecem perfeitamente normais, mas transportam resíduos de raticida nos órgãos.
Um estudo conduzido pelo USDA Wildlife Services em 2018 detetou vestígios de raticida em mais de 8% dos javalis que vivem perto de áreas sob gestão humana.
Cozinhar a carne não elimina a toxina. Se consumida, pode provocar nos humanos sintomas de envenenamento por raticida, como fadiga intensa e hemorragias internas.
Em 2024, a Califórnia aplicou restrições mais rigorosas, tendo proibido a maior parte do uso de difacinona fora de operações certificadas de controlo de pragas. Mas o mal poderá já estar feito.
Os javalis procuram agora ativamente as estações de isco, e a contaminação pode alastrar-se, sobretudo em zonas rurais onde é frequente o consumo de carne de caça .