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Teste de uma bomba atómica no Atol de Bikini, em 1946
Na eventualidade, felizmente ainda improvável, de que uma explosão nuclear aconteça nas nossas redondezas, a que distância seria seguro estarmos? E que roupa aumentaria a nossa probabilidade de sobreviver? E isso adiantaria de alguma coisa?
No próximo mês assinalam-se 80 anos desde que as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki foram devastadas por ataques nucleares.
Mais de 200.000 pessoas – principalmente civis – morreram até ao fim desse ano, como consequência direta das explosões, e muitos sobreviventes ficaream com problemas de saúde a longo prazo.
Até agora, esses são os únicos casos de armas nucleares usadas numa guerra. Mas a verdade é que neste momento há um pouco mais de 12.200 ogivas nucleares em todo o mundo, detidas por diversos países.
Até agora, nenhum destes países se lembrou de usar uma das suas bombas — nomeadamente os arqui-inimigos Índia e Paquistão, que recentemente estiveram à beira de um conflito militar cujo desenlace seria imprevisível.
Nas últimas semanas, os Estados Unidos e Israel lançaram ataques cirúrgicos a instalações militares do Irão, alegadamente para impedir que o país islâmico, conhecido financiador de organizações terroristas, conclua os trabalhos de criação da sua bomba nuclear.
Apesar de nenhuma bomba nuclear ter sido detonada contra alvos civis nos últimos 80 anos, a probabilidade de que tal aconteça não é nula. Mas se tal acontecer, a que distância teríamos que estar para conseguirmos sobreviver a esse evento?
Na série “Fallout”, baseada no jogo homónimo e em streaming na Amazon Prime, o personagem Cooper Howard, interpretado por Walton Goggins, ensina à filha, Janey, que se o tamanho do famoso “cogumelo” criado pela explosão nuclear for menor do que o nosso polegar, estamos a salvo.
“É o teu polegar, ou o meu?” pergunta a menina, quando a bomba explode mesmo.
Usar o tamanho do polegar é provavelmente uma forma um pouco rudimentar de medir a distância a que estamos a salvo dos efeitos (imediatos) da explosão de uma bomba atómica.
Há alguns anos, a equipa do canal AsapSCIENCE no Youtube analisou a ciência das bombas nucleares, para tentar prever qual a probabilidade de sobrevivermos a uma detonação num local próximo, e publicou um vídeo com as suas conclusões. Mas não entre em pânico, esse é apenas um cenário hipotético.
Importa antes de mais esclarecer que não há uma forma clara de estimar o impacto de uma única bomba nuclear, porque depende de muitos fatores, incluindo as condições meteorológicas e a hora a bomba detona, a disposição geográfica do local, e se explode no solo ou no ar, salienta o Science Alert.
Mas, de um modo geral, há algumas fases previsíveis da explosão de uma bomba nuclear que podem afetar a probabilidade de sobrevivência.
Como explica o vídeo, cerca de 35 % da energia de uma explosão nuclear é libertada sob a forma de radiação térmica. Como esta viaja à velocidade da luz, a primeira coisa que nos atingirá é um clarão de luz ofuscante — e muito calor.
A própria luz é suficiente para causar cegueira instantânea – uma forma geralmente temporária de perda de visão que pode durar alguns minutos.
A análise do AsapSCIENCE considera uma bomba de 1 megatonelada, que é 80 vezes maior que a bomba detonada sobre Hiroshima, mas muito menor que muitas armas nucleares modernas.
Para uma bomba desse tamanho, as pessoas que estivessem até 21 km de distância experimentariam cegueira instantânea num dia claro, e até 85 km ficariam temporariamente cegas numa noite clara.
O calor é um problema para os que estiverem mais próximos da explosão. Queimaduras ligeiras de primeiro grau podem ocorrer até 11 km de distância, e queimaduras de terceiro grau – o tipo que destrói e forma bolhas no tecido da pele – poderiam afetar qualquer pessoa até 8 km de distância.
Queimaduras de terceiro grau, que cobrem mais de 24 % do corpo, seriam provavelmente fatais se as pessoas atingidas não recebessem cuidados médicos imediatamente.
Estas distâncias são variáveis, dependendo não apenas do tempo, mas também do vestuário usado na altura: roupas brancas podem refletir parte da energia de uma explosão, enquanto roupas mais escuras irão absorvê-la. Mas é improvável que o vestuário faça muita diferença para os infelizes que estejam perto da explosão.
Estima-se que o centro da explosão de uma arma nuclear de 1 megatonelada pode gerar temperaturas próximas dos 100 milhões de graus Celsius, ou cerca de cinco vezes a temperatura no núcleo do Sol — mais do que suficiente para reduzir um corpo humano aos seus elementos mais básicos, como carbono.
Mas para quem estiver ligeiramente mais afastado do centro da explosão, há outros efeitos a considerar além do calor. A explosão de uma detonação nuclear também empurra o ar para longe do local da explosão, criando mudanças súbitas na pressão do ar que podem esmagar objetos e derrubar edifícios.
Dentro de um raio de 6 km de uma bomba de 1 megatonelada, as ondas de choque produziriam 180 toneladas métricas de força nas paredes de todos os edifícios de dois andares, e velocidades do vento de 255 quilómetros/hora.
Num raio de 1 km, a pressão máxima é quatro vezes essa quantidade, e as velocidades do vento podem atingir 756 quilómetros/hora. Tecnicamente, os humanos podem suportar essa pressão, mas a maioria das pessoas seria morta por edifícios a cair.
Se de alguma forma conseguirmos sobreviver a tudo isso, ainda temos que lidar com um “pequeno problema”: o envenenamento por radiação.
As explosões que devastaram Hiroshima e Nagasaki foram explosões aéreas, com cada explosão a ocorrer centenas de metros acima das duas cidades. Se as detonações tivessem ocorrido ao nível do solo, o material na superfície poderia ter sido fortemente irradiado, e a radiação seria projetada para a atmosfera.
A AsapSCIENCE aborda as consequências desta ‘precipitação nuclear‘, mas os efeitos contínuos no planeta são mais duradouros do que se poderia esperar.
Uma simulação criada em 2019 descobriu que uma guerra nuclear entre os Estados Unidos e a Rússia mergulharia a Terra num inverno nuclear em dias, devido aos níveis de fumo e fuligem libertados na atmosfera.
Também sabemos que as partículas radioativas podem viajar notavelmente longe; um estudo recente descobriu que restos de carbono radioativo dos testes de bombas nucleares foram encontrados até na Fossa das Marianas, o ponto mais profundo dos oceanos do mundo.
Assim, na eventualidade de uma bomba nuclear explodir algures no mundo, provavelmente nenhuma distância é suficiente para nos proteger dos seus efeitos imediatos ou futuros.
Na verdade, apenas estamos protegidos das bombas que explodiram a uma distância de… 80 anos no passado.
Mas tudo isto é hipotético – há tratados internacionais em vigor com o objetivo de tentar travar a proliferação e uso de armas nucleares, e aparentemente países dispostos a impedir pela força que outros países obtenham as suas armas nucleares.
Assim, não entre em pânico, nem vá a correr aos supermercado esgotar os stocks de papel higiénico. Vai ficar tudo bem.