Uma empresa de inteligência artificial sediada em Londres, avaliada em 1,3 mil milhões de euros, declarou falência, depois de se descobrir que a sua aclamada “rede neural” era, na realidade, uma força de trabalho com mais de 700 engenheiros localizados na Índia. E não foi por falta de aviso.
A Builder.ai, empresa de Inteligência Artificial apoiada pela Microsoft e pelo Fundo Soberano do Qatar, declarou falência após a descoberta de que a sua plataforma de IA era na realidade operada por centenas de programadores humanos.
Segundo o IB Times, a empresa britânica recebeu um investimento na ordem dos 400 milhões de euros da Microsoft e 230 milhões de euros do Fundo Soberano do Qatar para financiar o desenvolvimento da sua aclamada “rede neural revolucionária”.
A empresa, com sede em Londres, afirmava que o seu serviço de IA “Natasha“, podia desenhar e programar aplicações “de forma autónoma e com velocidade sem precedentes”.
Mas “Natasha” era na realidade uma equipa de mais de 700 engenheiros a trabalhar remotamente na Índia, que se faziam passar por bots e realizavam a maior parte do trabalho contratado à plataforma.
Esta prática, que terá ocorrido durante oito anos, veio a público em maio, depois de funcionários da empresa terem revelado que algumas tarefas administrativas eram assistidas por software comum, e a maior parte da programação e desenvolvimento de aplicações era realizada manualmente.
O dramático colapso da Builder.ai terá sido também precipitado pela retirada de 34 milhões de euros por parte de um dos seus principais credores, a Viola Credit — que, diz a Bloomberg, deixou nos cofres da empresa apenas 4,6 milhões de euros em fundos e paralisou as suas operações em cinco países.
Esta terça-feira, a empresa anunciou, numa publicação no LinkedIn, que vai entrar num processo de insolvência e nomear um administrador “para gerir os assuntos da empresa”.
“A nossa prioridade imediata é apoiar os nossos funcionários, clientes e parceiros durante este período difícil. Trabalharemos em estreita colaboração com os administradores nomeados para garantir um processo ordenado e explorar todas as opções disponíveis para partes do negócio, sempre que possível“, lê-se na nota da empresa.
Uma análise mais aprofundada de Bloomberg descobriu também que a Builder.ai estava envolvida em práticas financeiras questionáveis com a VerSe, uma startup indiana de redes sociais. As duas empresas terão trocado faturas inflacionadas para aumentar artificialmente os números de vendas entre 2021 e 2024.
A VerSe nega as alegações, que o co-fundador Umang Bedi descreve como “infundadas e falsas”.
O que é mais surpreendente neste caso é que tenha apanhado meio mundo de surpresa. Há mais de seis anos, em abril de 2019, o The Wall Street Journal expôs as práticas duvidosas de uma startup que na altura se apresentava com o nome de Engineer.ai.
A empresa, então financiada pela SoftBank, oferecia “inteligência artificial assistida por humanos”, mas funcionários e ex-funcionários ouvidos pelo WSJ diziam que a empresa “exagerava a sua expertise tecnológica” para atrair investidores e clientes.
Na verdade, a plataforma dependia fortemente de humanos que se faziam passar por inteligência artificial, e a maior parte do trabalho de desenvolvimento era realizado manualmente na Índia. “É tudo engenheiros, nada IA“, descreviam os funcionários.
O modus operandi da Engineer.ai era em tudo semelhante ao da Builder.ai — por uma razão simples: são a mesma empresa, o que levanta sérias questões acerca do escrutínio que empresas e fundos de investimento fazem às startups IA da moda.
E com o histórico que a startup britânica tem, quase poderíamos até questionar se o redirecionamento do site da Engineer.ai é mesmo automático, ou estará a ser feito manualmente por um batalhão de engenheiros anões a encaminhar pedidos http num router algures na Índia.
700 engenheiros… e durante 8 anos… a “expertise” da empresa era outro tipo de AI, Artificial Investments hahahaha