“Problema 2025”. Nunca nasceram tão poucos bebés no Japão

O Japão registou, em 2024, a taxa de natalidade mais baixa de sempre, segundo estimativas governamentais e, no momento em que a geração “baby boom” faz 75 anos, o país confronta-se com o “Problema 2025”, segundo especialistas.

De acordo com estimativas preliminares do Ministério da Saúde, do Trabalho e do Bem-Estar do Japão, apenas 721.000 crianças nasceram, em 2024, o número mais baixo de que há registo desde que se iniciaram os estudos estatísticos no país, há 75 anos, quando foi registado o um “baby boom” com o número recorde de 2,69 milhões de nascimentos.

Hoje esses “bebés” têm 75 anos e o Japão, que vive uma crise endémica de natalidade, alertam os especialistas, atingirá uma massa crítica a partir deste ano, naquilo que descrevem como o “Problema de 2025”.

“Problema 2025” é o nome dado por especialistas como Takao Komine, do Instituto de Estudos de Política Internacional do Japão (IEPI), à crise multifacetada – económica, social e até de âmbito internacional – que o Japão começará a enfrentar este ano, quando os ‘baby boomers’ entrarem na “velhice”.

Será o início de um efeito dominó que começará nos lares de idosos e afetará progressivamente a segurança social, os programas de assistência e, em última análise, a economia nacional, e que surge no momento em que o primeiro-ministro do país, Shigeru Ishiba, advertiu no início desta semana que a situação financeira do Japão “é pior do que a da Grécia”.

De acordo com um inquérito realizado em 2021 pelo Instituto Nacional de Estudos da População, oito em cada dez casais consideram que o custo da educação dos filhos é o principal obstáculo para ter mais do que um filho.

A segunda razão mais proeminente é a falta de espaço.

Seis em cada dez inquiridos consideram também extremamente difícil conciliar a vida profissional e familiar e os horários de trabalho longos desencorajam os casais.

Existem agora subsídios de 200 euros por mês por criança até aos 18 anos e os pais vão poder candidatar-se a serviços de acolhimento de crianças com menos de três anos mesmo que não estejam a trabalhar, mas o cavalo de batalha é o teletrabalho.

A partir de abril deste ano, entrará gradualmente em vigor uma série de medidas destinadas a transformar o regime de trabalho: as empresas serão obrigadas a permitir que os trabalhadores com filhos em idade pré-escolar com três anos ou mais escolham entre pelo menos duas opções de estilo de trabalho, como o teletrabalho, a redução do horário de trabalho ou o escalonamento do horário de trabalho, e a permitir que os trabalhadores com filhos menores de três anos trabalhem a partir de casa.

Os serviços de cuidados de enfermagem a idosos serão os primeiros a sentir os efeitos do “Problema 2025”. A partir deste ano, segundo o relatório do IEPI, “é quase certo que haverá um aumento súbito” do número de pessoas que necessitam destes cuidados. A segurança social é já o principal fator subjacente ao défice orçamental do Japão.

Um terceiro problema é de caráter geográfico. “O Problema 2025 é uma crise nas grandes áreas urbanas”, como Tóquio, Osaka e Nagoya, “onde o aumento da população idosa se fará sentir mais fortemente”, refere o relatório.

O Japão está a ficar sem tempo para resolver o problema da queda da taxa de natalidade, segundo investigadores que estimam que o país terá perdido 30% da sua população até 2070.

O professor Yamaguchi Shintaro, da Universidade de Tóquio, aplaudiu as medidas adotadas pelo Governo, mas considera que são insuficientes.

As mulheres gastam cinco vezes mais tempo em tarefas domésticas e no cuidado dos filhos do que os homens”, disse o professor à emissora estatal japonesa NHK.

“Se os homens se envolvessem mais no cuidado das crianças, como nos países ocidentais, estaríamos mais perto da solução”, acrescentou.

Natalidade em declínio na Ásia

O Japão não é o único país asiático a enfrentar sérios problemas de natalidade.

Um dos países mais afetados é a China, onde a crise demográfica se agrava há anos. A taxa de fertilidade caiu para mínimos alarmantes, os casamentos caíram no ano passado para valor mais baixo desde 1980, os divórcios aumentam cada vez mais e a população está em declínio constante desde 2022.

Os especialistas consideram que a solução para salvaguardar o futuro da nação está na educação dos jovens, e estão a apelar cada vez mais à obrigatoriedade da educação sexual nas escolas.

Enquanto a China procura formas de aumentar a taxa de natalidade, as jovens chinesas mostram relutância em ser mães, mas aderiram à “e-gravidez” — que lhes permite poupar dinheiro e familiarizar-se com a maternidade, fingindo ter uma “gravidez virtual”.

Também a Coreia do Sul, o único país do mundo a registar uma taxa de fertilidade inferior a um filho por mulher, enfrenta uma crise de natalidade que se prolonga há anos.

A queda da taxa de natalidade na Coreia do Sul tem sido atribuída, em parte, às dificuldades de conciliar os cuidados com os filhos e a carreira profissional, bem como ao elevado custo da educação dos filhos.

Recentemente, a capital sul-coreana, Seoul, que tem a taxa de fertilidade mais baixa do país, anunciou a oferta até 700 euros a quem reverter vasectomia ou laqueação de trompas.

“Muitos sul-coreanos optam pela vasectomia devido à sua segurança, ao baixo número de complicações e à relação custo-eficácia”, explica o urologista sul-coreano Seok Seon Yoo. “Talvez 1 ou 2% deles revertem depois o procedimento”.

Em alguns países, os esforços governamentais de promoção da natalidade são criticados por se concentrarem em soluções de curto prazo, como bónus em dinheiro, em vez de mudanças mais duradouras e sustentáveis, como tornar os cuidados infantis mais acessíveis ou melhorar a igualdade de género no trabalho.

Mais a norte, a Rússia enfrenta igualmente sérios problemas demográficos. As estimativas oficiais indicam que em 2030 a população russa vai ser de 143,2 milhões de pessoas, o nível mais baixo desde 2012, e que, em 2046, deverá ser de 138,7 milhões de pessoas.

Segundo o jornal Kyiv Independent, o presidente russo Vladimir Putin já reconheceu que há uma “bomba-relógio demográfica iminente”. E a perda de vidas humanas na guerra da Ucrânia não está a ajudar.

ZAP // Lusa

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.