Pedro Nuno: “Não é normal o silêncio de Montenegro. Não é admissível o que se passa no Parlamento”

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Rodrigo Antunes / LUSA

O secretário-geral do Partido Socialista (PS), Pedro Nuno Santos

Líder do PS também pede ao Governo casas para a classe média e, entre o barulho no Parlamento, lembra Augusto Santos Silva.

O líder do PS defendeu nesta segunda-feira que é preciso rever a forma como estão a ser geridos os trabalhos no parlamento e pediu um “papel firme” ao presidente da Assembleia da República, recordando a presidência de Augusto Santos Silva.

“A verdade é que parte da ordem na Assembleia da República é da responsabilidade do presidente da Assembleia da República e o presidente da Assembleia da República anterior, Augusto Santos Silva, chegou a ser criticado pela forma como geria os trabalhos e sinceramente eu acho que a forma como em muitos momentos têm sido geridos tem que ser revista”, defendeu.

Pedro Nuno Santos respondia aos jornalistas sobre as declarações do presidente da Assembleia da República a propósito dos incidentes na semana passada no parlamento que envolveram a deputada invisual do PS Ana Sofia Antunes. José Pedro Aguiar-Branco condenou os insultos do Chega, mas remeteu para os partidos eventuais alterações ao código conduta dos deputados.

Segundo o líder do PS, “não é admissível” a situação que existe neste momento no parlamento “como não seria admissível em qualquer local de trabalho”.

“Acho importante que o presidente da Assembleia da República tenha um papel firme na defesa da Assembleia da República e isso compete ao presidente da Assembleia da República”, considerou.

Reiterando que no parlamento se está a trabalhar e as pessoas “têm que se respeitar umas às outras”, Pedro Nuno Santos defendeu que “esse respeito deve ser gerido e dinamizado e promovido pelo presidente da Assembleia da República”.

O peditório e o que não é normal

Pedro Nuno Santos recusou esta segunda-feira dar “para o peditório” do Chega, que ameaçou com uma moção de censura ao Governo, por considerar que tem como único objetivo “desviar as atenções dos seus problemas internos”.

À margem de uma visita a um conjunto habitacional em Almada, cuja primeira pedra tinha lançado como ministro da Habitação em 2019, Pedro Nuno Santos foi questionado sobre o anúncio feito na véspera pelo líder do Chega de que avançará com uma moção de censura se o primeiro-ministro, Luís Montenegro, não desse explicações em 24 horas quanto ao caso da empresa de compra e venda de imóveis que é propriedade da mulher e dos filhos.

Eu não dou para o peditório de iniciativas do partido de extrema-direita que têm como único objetivo desviar as atenções dos seus problemas internos. Agora isso não quer dizer que nós não continuemos à espera das explicações”, criticou.

O líder do PS começou por referir que, no sábado, ele próprio já tinha pedido explicações e até se mostrou convicto que “há boas explicações para todos os casos”.

“Por isso mesmo é importante que elas sejam dadas porque, sem explicações, as críticas e as suspeitas adensam-se desnecessariamente. Um primeiro-ministro, como qualquer político, tem a obrigação de prestar esclarecimentos quando há dúvidas. Esses esclarecimentos devem ser dados”, insistiu.

Perante a insistência dos jornalistas quanto a um eventual sentido de voto, caso o Chega efetivamente avance com a moção de censura, Pedro Nuno Santos, que disse compreender que as perguntas têm que ser feitas, reiterou que não vai “dar para o peditório da iniciativa do Chega”.

“O Chega tem como único objetivo, e qualquer um consegue perceber, desviar as atenções dos seus problemas internos. Eu não vou contribuir para o debate sobre a iniciativa do Chega”, insistiu.

O líder do PS voltou ainda a criticar o facto de Luís Montenegro não dar respostas aos jornalistas desde o dia 20 de janeiro, com a exceção de 3 de fevereiro, quando não falou “sobre problemas nacionais” e apenas da candidatura presidencial que apoia.

Eu não acho normal que um primeiro-ministro esteja há quase um mês sem se colocar perante jornalistas e responder a perguntas. O senhor primeiro-ministro fez uma remodelação. Qualquer primeiro-ministro dá explicações sobre a remodelação que faz”, condenou.

Curiosamente, quase à mesma hora, o primeiro-ministro estava a falar com jornalistas na Igreja das Antas, sobre a morte de Pinto da Costa.

Casas para classe média

O líder do PS defendeu que o Estado tem que assumir a responsabilidade de construir habitação para a classe média, argumentando que a falta de casas não atinge apenas as famílias carenciadas.

“O problema da habitação em Portugal, infelizmente, hoje não é um problema apenas das famílias carenciadas, o problema da habitação é um problema da classe média, dos filhos da classe média, e é por isso que não só nós temos que promover a construção privada e cooperativa, mas o Estado tem que assumir também a sua responsabilidade de construir para a classe média, como acontece em muitos países europeus”, defendeu.

O objetivo desta visita a este complexo, promovido pelo Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) e destinado a arrendamento acessível, é “sinalizar um dos exemplos do trabalho” que é preciso “multiplicar no país”, explicou o secretário-geral socialista.

“O Governo, no que diz respeito à construção pública, está apenas concentrado na construção de habitação para a população carenciada, não há neste momento nem um discurso nem um compromisso de construção para a classe média, e para nós é fundamental que a política pública de habitação dê resposta às dificuldades da classe média”, defendeu.

Pedro Nuno Santos referiu que políticos internacionais e nacionais falam sobre a necessidade aumentar a despesa com defesa, mas “a habitação é um dos maiores problemas” e em relação a ela é preciso “aumentar a despesa nacional, pública também, com habitação”.

De acordo com o líder socialista, só será possível “ter o apoio da população e da classe média para os programas de construção pública se eles não estiverem excluídos deste programa público de construção”.

“Devem ser criadas condições para que o setor privado possa construir mais, construir mais para a classe média, que é onde nós temos de facto dificuldades, mas o Estado também tem que escalar a sua construção, não só para as famílias mais carenciadas, mas para as populações de rendimentos intermédios, para a classe média”, defendeu.

Segundo o antigo ministro desta área é preciso “escalar muito” neste tipo de construção e passar-se dos “20 e tal mil focos por ano para números que se aproximam dos 40 mil, 50 mil focos por ano”, um número que já existiu no passado e ao qual é preciso voltar.

“Isso implica apoiar o setor da construção civil privado, mas também a construção pública”, defendeu.

ZAP // Lusa

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