Em 2017, Jeroen Dijsselbloem, então Presidente do Eurogrupo e ministro das finanças dos Países Baixos, acusou os países do sul da Europa (os PIGS) de terem como prioridade “copos e mulheres”. Afinal, dá para isso e muito mais.
Ainda há poucos anos, os PIGS (Portugal, Itália, Grécia e Espanha – num acrónimo, que em inglês significa “porcos”, criado para troçar da má performance económica dos países do sul) eram os filhos problemáticos da União Europeia (UE) e da zona euro.
Em 2017, em declarações a um jornal alemão sobre as ajudas financeiras dos países do norte aos países do sul em tempos de crise, Jeroen Dijsselbloem criticou a maneira de estar dos europeus meridionais.
“Durante a crise do euro, os países do norte mostraram-se solidários com os países afetados pela crise. Como social-democrata considero a solidariedade extremamente importante. Mas quem a exige também tem obrigações. Não posso gastar todo o meu dinheiro em álcool e mulheres e, a seguir, pedir ajuda”, disse o então ministro das finanças dos Países Baixos.
Mas o cenário mudou. Recentemente, no Fórum Económico Mundial de Davos, o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez afirmou, citado pela Deutsche Welle, que “nós, do Sul, também podemos contribuir com soluções para os problemas comuns”.
Os dados mais recentes do Eurostat confirmam que Portugal e Espanha tiveram em 2024 um desempenho acima da média europeia, assumindo o papel impulsionador da economia da zona euro, à boleia do turismo, imigração e menores custos energéticos – num caminho que os economistas acreditam que se vá manter.
Alemanha cria divisão sul-norte
Numa perspetiva pan-europeia, a situação não é nada animadora: a economia da zona euro está a estagnar.
O Produto Interno Bruto (PIB) da região manteve-se ao nível do terceiro e quarto trimestres de 2024, informou o gabinete de estatísticas da UE, Eurostat, no final de janeiro. No segundo trimestre, registou-se um crescimento de 0,4%.
Muitos especialistas concordam que a principal razão para esta situação é o fraco desempenho económico persistente da Alemanha. Na maior economia da Europa, o PIB registou uma contração de 0,2% no quarto trimestre, tal como acontecerá durante todo o ano de 2024.
“A Alemanha está a ficar cada vez mais para trás”, disse Alexander Krüger, economista-chefe do banco privado Hauck Aufhäuser Lampe, à agência de notícias Reuters.
A maior economia da zona euro está a enfraquecer e, em sentido contrário, os países outrora considerados problemáticos estão a descolar. Serão os países do Sul capazes de assumir o papel de locomotiva da Europa no futuro?
Face ao fracasso do eixo franco-alemão, Espanha e Portugal foram responsáveis por 50% do crescimento da zona euro no último trimestre.
Segundo os dados divulgados pelo Eurostat, o Produto Interno Bruto (PIB) da zona euro aumentou 0,7% em 2024 e o da União Europeia 0,8%.
Entre os países da zona euro, Portugal apresentou, no quarto trimestre de 2024, o terceiro maior crescimento homólogo do PIB (2,7%), depois da Lituânia (3,6%) e de Espanha (3,5%) e o maior na variação trimestral (1,5%), com Espanha em terceiro (0,8%).
Por outro lado, as economias da Alemanha e da Áustria foram as que mais recuaram na variação homóloga, com uma contração de 0,2%. Já na variação trimestral, as maiores quebras observaram-se na Irlanda, Alemanha e França.
Gabriel Felbermayr, diretor do Instituto Austríaco de Investigação Económica (WIFO) considerou, no entanto, em declarações à Deutsche Welle, que os países do sul “são simplesmente demasiado pequenos do ponto de vista económico“.
A Alemanha e a França “já representam mais de 50% do PIB da zona euro; este bloco do Norte, industrialmente forte, inclui países como a Áustria, a Eslovénia, a Eslováquia e também os Países Baixos”, segundo o economista. Não são os únicos afetados: “Os países da UE não pertencentes à zona euro, especialmente a República Checa e, em certa medida, a Polónia, também estão a sofrer com a fraqueza do núcleo industrial da UE.
Preços elevados da energia
O que é que faz com que os países do Sul sejam tão fortes e os outros pareçam tão frágeis? Para o economista Hans-Werner Sinn, antigo diretor do Instituto IFO, em Munique, isso deve-se a razões externas e a decisões políticas: “Nos últimos anos, a Alemanha sofreu muito com a crise energética, causada por uma combinação de guerra [na Ucrânia] e escassez de energia auto-infligida”.
Lamenta, em particular, a transição prevista dos combustíveis fósseis para as fontes de energia verdes. Ao fazê-lo, “a UE e a Alemanha perderam o sentido das proporções e do equilíbrio”.
“Devido a estas intervenções, o nosso país tem agora os preços de eletricidade mais elevados do mundo”, acrescentou.
Segundo Sinn, a indústria química, em particular, está a sofrer com isso. O principal setor da Alemanha, a indústria automóvel, também está sob forte pressão: “As regras de consumo para as frotas, definidas pela UE, roubaram competitividade à indústria automóvel”.
Vantagens geográficas
Felbermayr vê a situação de forma semelhante. Nos países do Sul, o turismo e a agricultura desempenham um papel mais importante, onde existe “uma quota industrial significativamente menor na cadeia de valor total”.
O aumento dos preços da energia em toda a Europa, as guerras comerciais, os desafios da descarbonização: tudo isto afeta menos o Sul do que o Norte”.
Além disso, os países do Sul têm uma vantagem própria: desde 2010, as suas taxas de inflação têm sido inferiores às do Norte. “Isso aumentou a sua competitividade. As iniciativas de reforma que se seguiram à crise da dívida da zona euro deram os seus frutos. O mesmo se pode dizer da Grécia, de Espanha e de Portugal.”
Não há luz ao fundo do túnel económico. Na melhor das hipóteses, está a surgir um movimento ascendente anémico, comentou o economista-chefe do Commerzbank, Jörg Krämer, à agência noticiosa Reuters: “A profunda crise estrutural do sector e as ameaças tarifárias de Donald Trump estão a arrastar tudo para baixo”.
O presidente dos EUA também ameaça a Europa com sobretaxas, o que afctaria particularmente a Alemanha, dependente das exportações.
Perigo reconhecido, perigo evitado?
“Até agora, não há sinais de recuperação”, confirma Sebastian Dullien, diretor do Instituto de Macroeconomia e Pesquisa do Ciclo de Negócios (IMK).
O diretor cita várias razões para a atual crise da economia alemã, entre as quais “a política industrial agressiva da China, que exerce pressão sobre as exportações”.
“Além disso, as taxas de juro do Banco Central Europeu, ainda elevadas tendo em conta a atual situação económica, abrandam o investimento”, acrescentou.
Entretanto, mantém-se a esperança de que esta tomada de consciência seja o primeiro passo para uma melhoria.
O ministro alemão da Economia, Robert Habeck, parece ter chegado a essa conclusão. No Fórum Económico Mundial, afirmou que “em certa medida, estamos a ignorar que não se trata de uma crise de curto prazo, mas de uma crise estrutural“.
Isto é particularmente evidente na indústria, que se debate com os elevados preços da eletricidade. O comércio externo, que é importante para a Alemanha, está a enfraquecer e o estado de espírito dos consumidores está a deteriorar-se. “Temos de reinventar o nosso modelo de negócio”, exige Habeck.
O que é necessário agora?
A Comissão Europeia prevê, ainda assim, uma ligeira recuperação económica na zona euro e um crescimento de 1,3% em 2025. O Banco Central Europeu, que, segundo os especialistas, está prestes a baixar as taxas de juro, deverá adotar novas medidas de redução ao longo do ano.
Gabriel Felbermayr não considera invulgar a atual relação de forças entre os países do Norte e do Sul. “Por vezes, o Norte, que é forte na indústria, está à frente, e por vezes os países do Sul, que são fortes nos serviços. Não é diferente noutras grandes economias, como os Estados Unidos”.
Para o diretor da WIFO, é fundamental que “o Norte faça avançar as reformas necessárias para uma maior competitividade, mas que o Sul não desista”: “É igualmente importante que o mercado interno – que é também um veículo para equilibrar as diferentes regiões – se torne novamente mais forte”.
ZAP // Deutsche Welle
A (Des)união europeia com Portugal ( os políticos bem entendido) incluído , um antro de PIGS
O trigo miúdo, mata a fome a muita gente empertigada.
Dijsselbloem é um idiota
Naturalmente a economia portuguesa está a mexer. Há muito capital a entrar por vias “estranhas”. De vez em quando encontra-se um certo laboratório que lavava “roupa” há anos, depois suspendem-se vinte e tal funcionários do aeroporto… “estranhas” vias….. e muitas outras.