Um em cada quatro estudantes universitários toma medicação psiquiátrica, quase metade tem sintomas depressivos e pensa que “a vida não tem sentido”, e cerca de 60% revelam desinteresse pelas aulas.
Os dados de um estudo realizado pela Associação Nacional de Estudantes de Psicologia (ANEP), em parceria com a Ordem dos Psicólogos e o Conselho Nacional de Juventude, revelam um retrato preocupante dos estudantes universitários portugueses.
A pesquisa realizada com 1174 participantes de 53 instituições de Ensino Superior de Portugal Continental e das ilhas é divulgada pelo Expresso e constata que estes alunos enfrentam diversos problemas de saúde mental.
Os números revelam que os estudantes de licenciatura e as mulheres são os que apresentam “níveis significativamente mais elevados de sintomas psicológicos”, como realça o jornal.
Entre os estudantes inquiridos, 46% têm sintomas de depressão, 39% sofrem de ansiedade, 31% de stress e 23% tomam medicação psiquiátrica.
Este último é o dado mais preocupante, e mais surpreendente, para a presidente da ANEP, Filipa Santos, que diz ao Expresso que é um reflexo da “crescente inacessibilidade da psicoterapia no SNS [Serviço Nacional de Saúde], com listas de espera longas e acompanhamentos demasiado espaçados, levando ao uso de medicação em casos que poderiam ser tratados apenas com recurso a psicoterapia”.
Desinteresse pelas aulas e pela vida
O estudo também apurou que 42% dos estudantes já sentiu que “a vida não tinha sentido”, pelo menos uma vez.
Em situações mais graves, este tipo de ideias “pode estar associado a pensamentos sobre a morte, falta de perspectivas de futuro e uma quase desistência perante a vida”, analisa no Expresso a principal autora do estudo, Patrícia Silva, que é doutoranda na Universidade da Beira Interior.
Mas os estudantes também enfrentam obstáculos ao nível académico, com mais de 80% a indicarem dificuldades em “relaxar e realizar tarefas”, e 9 em cada 10 a assumirem que sofrem com a pressão académica.
Cerca de 60% também revelaram desinteresse pelas aulas.
Estes dados reflectem um “sistema pedagógico que privilegia resultados rápidos, prazos apertados e competitividade, desvalorizando práticas de aprendizagem contínua e inovadora que poderiam fomentar o bem-estar e a criatividade”, analisa Filipa Santos.
Do lado positivo, os estudantes revelaram níveis elevados de autoeficácia (56%) e de desempenho académico (53%).
Face aos resultados, o estudo “Saúde Mental nas Instituições de Ensino Superior Portuguesas” sugere a criação de parcerias entre as Universidades e o SNS para melhorar o acesso dos estudantes a respostas de saúde mental.
Além disso, realça que é preciso repensar as práticas pedagógicas com a participação dos estudantes.