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Um em cada cinco estudantes tem algum tipo de doença mental

Por trás destas estatísticas estão fatores relacionados com o início da vida autónoma. A pandemia, o aumento dos preços das habitações e o medo de procurar ajuda são alguns dos desafios dos jovens.

Segundo um estudo coordenado pela Universidade de Évora (UÉ), um quinto dos estudantes que frequentam o ensino superior tem algum tipo de doença mental.

Desta percentagem, 40,5% foram diagnosticados após o início da pandemia da covid-19, segundo comunicado enviado à Lusa, citado pela SIC Notícias.

Em declarações ao JPN, a coordenadora do projeto, Lara Guedes de Pinho, afirma que o trabalho surge pela “necessidade de fazer uma avaliação prévia”, de modo a desenvolver programas de promoção sobre o assunto.

Sete instituições de ensino superior portuguesas e outras dez de sete países da Europa e da América do Sul participaram neste estudo. No total, foram reunidas 3143 respostas a inquéritos.

Lara Guedes de Pinho, investigadora no Comprehensive Health Research Centre (CHRC) da UÉ, explica que, antes da pandemia, as taxas de ansiedade e depressão nos universitários já eram elevadas. No entanto, “agravaram-se”.

De acordo com a investigação, cerca de 7% dos inquiridos referiram que a sua saúde mental se deteriorou devido ao isolamento pandémico.

Dos participantes envolvidos no estudo, aponta-se que 23% toma medicação para a ansiedade, depressão ou outro problema psíquico.

Nas declarações prestadas à Lusa, a professora da UÉ reitera que “75,6% apresentam sintomas de ansiedade”, enquanto “61,9% apresentam sintomas depressivos”. Contudo, só metade deles já teve consultas de psiquiatria.

Lara Guedes de Pinho / Resarch Gate

Lara Guedes de Pinho, investigadora no Comprehensive Health Research Centre (CHRC) da UÉ

“A razão mais importante para não procurar ajuda, apontada pelos inquiridos, é o facto de a ajuda profissional ser cara (58,5%)”, realça a investigadora. O longo tempo de espera para conseguir uma consulta é o que leva 50,2% dos discentes a não o fazer.

Ao JPN, a investigadora explica que os elevados números de jovens doentes se devem ao facto de ser uma “fase de transição” nos seus percursos – isto é, trata-se de um período de mudança, repleto de desafios. Inclui, entre outros fatores, a introdução a novas metodologias de ensino, o processo de fazer novas amizades ou o ato de começar a viver autonomamente.

Outro peso na saúde mental destes jovens são os fatores socioeconómicos – nomeadamente o aumento dos preços das habitações. “Estudantes com pior nível socioeconómico são aqueles que têm mais sintomas de ansiedade e depressão”, refere a investigadora.

Aliás, a própria afirma que há casos de alunos que abandonaram o ensino superior por falta de condições económicas ou por precisarem de trabalhar para pagar as rendas. “A educação é um direito consagrado na constituição. Mas a verdade é que não é igual para todos”, completa.

A iniciativa demonstrou ainda que os alunos do ensino superior deslocados, que vão todos os fins de semana a casa, apresentam menos sintomas depressivos. Segundo a coordenadora, os jovens que não tem essa possibilidade sofrem pela privação de “contacto físico” com os pais, que “não pode ser substituído” pelo online.

Além disso, acrescenta que os estigmas da sociedade relativamente a este assunto contribuem para o medo de procurar ajuda. A professora dá um destaque aos homens, que sofrem mais com a crença de que “não podem chorar”.

A investigadora adianta que, após saber estes resultados, a Universidade de Évora está a trabalhar em estratégias para, não só promover a saúde mental, mas também “prevenir” as doenças.

// JPN

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