O que é o biochar – e como pode ajudar o planeta?

Pode ser difícil distinguir entre o carvão vegetal comum e o biochar apenas pela aparência, mas os dois são, de facto, polos opostos.

Segundo o Geographical, o biochar é um material muito mais limpo do que o carvão vegetal e tem uma infinidade de utilizações para o bem do nosso planeta.

Quando a madeira ou qualquer outro material orgânico é aquecido entre 300ºC -1.000ºC sem oxigénio — um processo controlado conhecido como pirolose — são produzidos gases e bio-óleos, bem como um resíduo conhecido como biochar.

Normalmente, quando uma planta se decompõe e morre naturalmente liberta CO2. Mas na produção de biochar, a falta de oxigénio durante a queima significa que o carbono no interior das plantas não pode ser convertido no gás poluente do planeta.

Em vez disso, permanece numa forma sólida e estável de carbono e assume um aspeto muito semelhante ao do carvão vegetal: uma substância negra e de grão fino.

O biochar é produzido em fornos e fogões de menor dimensão, ou em instalações de pirólise de maior dimensão para dar resposta às necessidades da indústria.

Com o carbono a constituir aproximadamente 70% da sua composição, o biochar é uma forma estável de carbono que não pode facilmente escapar para a atmosfera. Para além de o produto real do biochar ser útil, o calor produzido durante a sua produção pode ser armazenado e utilizado como uma forma de energia limpa.

As suas origens remontam a comunidades indígenas há milhares de anos. Foi na bacia amazónica que essas comunidades criaram áreas de solos ricos, conhecidos como “terra preta“, adicionando-lhes biomassa carbonizada.

Anteriormente, estes solos estavam degradados e pensa-se que, ao adicionar-lhes biocarvão, as comunidades indígenas conseguiram sobreviver e expandir-se pela Amazónia.

O que é facto é que estes solos de “terra preta” têm uma fertilidade muito mais elevada do que outros solos da Amazónia e as plantas neles existentes crescem muito mais rapidamente, o que demonstra que uma das utilizações do biocarvão é a melhoria da qualidade do solo.

O biochar é normalmente adicionado aos solos para melhorar as suas condições, mas os muitos tipos diferentes de biochar disponíveis para utilização terão efeitos variáveis no solo em causa.

Embora não seja um fertilizante por si só, atua como uma esponja para reter água e nutrientes, o que significa que a qualidade do solo pode ser melhorada com a sua adição.

Recentemente, foram registadas histórias de sucesso com o biochar. No Oregon, um estados dos EUA, a aplicação de biochar no solo permitiu aumentar o rendimento das culturas de trigo em quase 30%.

As empresas estão agora a testar a utilização do material para vários fins: os silvicultores dos estados do Colorado, Utah e Idaho estão a explorar a produção de biochar para transformar árvores mortas num produto valioso, enquanto os produtores de cacau da América do Sul estão a utilizar o material e a aplicá-lo em árvores jovens para reduzir para metade o número de anos até à produção.

O elevado pH do biochar, combinado com o facto de se poder ligar a metais pesados e poluentes, torna-o um instrumento fundamental na gestão da poluição.

As estações de tratamento de água procuram substituir o carvão ativado — atualmente utilizado para limpar a água poluída — pelo biochar, assim como as explorações leiteiras, que consideram o material como um meio de reduzir o fósforo nas lagoas leiteiras (bacias que armazenam as águas residuais e o estrume produzidos pelos efetivos leiteiros).

Outro benefício da utilização do biochar para enriquecer os solos é o facto de reduzir a procura de fertilizantes químicos tradicionais, que podem causar a contaminação das águas subterrâneas e fazer a lixiviação para o oceano, criando “zonas mortas oceânicas”.


Além disso, quando os adubos azotados tradicionais são expostos ao solo, ocorrem reações químicas que produzem óxido nitroso, um gás 300 vezes mais potente no aquecimento do planeta do que o dióxido de carbono.

A substituição por biochar reduziria definitivamente o ritmo a que estas reações e a libertação de gases nocivos poderiam ocorrer.

A produção de biochar é negativa em termos de carbono e reduz a quantidade do poluente na atmosfera da Terra, o que significa que é um recurso valioso para armazenar carbono.

Quando a matéria orgânica, como as plantas e as árvores, morre, liberta CO2 para a atmosfera. No entanto, quando são transformados em biochar, o carbono no seu interior é convertido numa forma sólida e estável que não pode escapar facilmente.

Em última análise, utilizar materiais orgânicos para produzir biochar é muito melhor para o ambiente do que deixá-los decompor-se naturalmente — a decomposição natural dos resíduos vegetais libertaria maiores quantidades de dióxido de carbono para a atmosfera.

O biochar pode também reduzir as emissões de óxido nitroso e metano. Numa análise recente de mais de 200 estudos de campo realizados a nível mundial, os investigadores concluíram que, em geral, a utilização de biochar nos campos reduziu as emissões de óxido de azoto em 18% e as de metano em 3%.

A maior parte dos materiais orgânicos pode ser utilizada para produzir biochar — desde conchas a resíduos de produção de cerveja — mas o biochar produzido terá propriedades diferentes em resultado disso.

Mesmo durante o processo de pirólise, podem ser utilizadas várias temperaturas com uma variedade de efeitos.

Um biochar pode ser incrivelmente útil para um determinado solo e totalmente inútil para outro, e é este facto que torna o material difícil de produzir em massa e contribui para o seu preço mais elevado, quando comparado com outros aditivos para o solo.

Para que o biochar funcione efetivamente em grande escala e substitua alguns dos métodos mais tradicionais de melhoria do solo e de captura de carbono, será necessária mais investigação para compreender e educar as organizações e os indivíduos sobre o tipo exato de biochar de que necessitam.

Teresa OIiveira Campos, ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.