A ciência do exercício: como um treino beneficia o seu cérebro

O exercício físico tem outras vantagens para além das físicas, quer em relação ao Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade ou a problemas de saúde mental como a depressão e a ansiedade.

Segundo o New Scientist, Grace Wade, repórter de saúde, que padece de Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade contou tem passado por uma maré de azar, dado que a medicação lhe tinha acabado e consequentemente não tinha motivação para fazer exercício físico.

Até que, quando finalmente fez exercício físico, percebeu que não o ter feito até então estava a piorar as coisas.

A atividade física pode, de facto, ser a melhor forma de combater os sintomas de Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, enquanto espera pela receita médica.

“A minha mente fica sempre um pouco mais calma depois de um treino do que estava antes, de forma semelhante a quando tomo os meus medicamentos”, afirma Wade.

A maioria dos medicamentos para o Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade atua aumentando os níveis de um químico cerebral chamado noradrenalina ou norepinefrina.

Esta substância mobiliza essencialmente o nosso corpo para a ação, melhorando a concentração, a memória e o controlo de impulsos. Os níveis de noradrenalina também aumentam três vezes durante o exercício físico.

Contudo, os resultados dos estudos disponíveis sobre o exercício e o Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade são contraditórios.

Uma revisão de 106 estudos realizada em 2023 indicou que o exercício melhora significativamente o controlo dos impulsos, a atenção e a capacidade de alternar entre tarefas em crianças e adolescentes com Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade.

No entanto, teve um efeito fraco na regulação das emoções e na memória de trabalho. Os benefícios parecem ser ainda menos pronunciados nos adultos.

Num outro estudo realizado no ano passado, foi demonstrado que 10 minutos de exercício melhoravam o controlo dos impulsos em 82 adultos com a doença, mas não tinham qualquer efeito noutros sintomas.

Embora estes resultados sugiram que o exercício físico tem apenas um efeito modesto no Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, sublinham que o exercício físico tem outros benefícios para além dos físicos. Em nenhum outro domínio as provas são mais sólidas do que no que respeita à depressão e à ansiedade.

Uma revisão de 2023 de quase 300 ensaios que envolveram mais de 15 800 adultos com depressão ou ansiedade concluiu que a atividade física era tão eficaz na redução dos sintomas destas doenças como a terapia da conversa e os medicamentos. O benefício foi ainda maior quando combinado com estes tratamentos.

Outros estudos sugerem que o exercício físico pode aliviar os sintomas de outras doenças mentais, como a perturbação bipolar, a esquizofrenia e a perturbação obsessivo-compulsiva.

A atividade física também parece ser protetora. Um estudo de 2018 com mais de 1,2 milhões de adultos concluiu que aqueles que praticavam exercício físico tinham, em média, menos 43% de dias de má saúde mental do que aqueles que não praticavam.

A relação foi mais forte nos desportos de equipa, no ciclismo e nas atividades aeróbicas e de ginásio.

A prática de exercício físico durante 45 minutos, três a cinco vezes por semana, também parece ser o ponto ideal.

Wade diz sentir-se “aliviado por ter descoberto uma estratégia” para equilibrar os seus sintomas de Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.