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Claudia tropeçou num mundo perdido com 280 milhões de anos nos Alpes italianos

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Fabio Manucci/Museu de História Natural de Milão

Reconstrução de ecossistema pré-histórico com 280 milhões de anos, descoberto agora em Itália.

Caminhante tropeçou em rocha com estranhos desenhos que, afinal, eram pegadas. Ambiente tropical do tempo dos dinossauros está altamente bem preservado: até gotas de chuva foram fossilizadas. Tudo graças ao sol de verão.

Claudia Steffensen caminhava com o seu marido pelas montanhas Valtellina Orobie, na Lombardia, nos Alpes italianos, quando tropeçou numa pedra que parecia ser um pedaço de cimento. O que ainda não sabia é que tinha acabado de encontrar, sem querer, um ecossistema pré-histórico que está a dar aos cientistas um raro vislumbre da vida na Terra muito antes da era dos dinossauros.

“Reparei nestes estranhos desenhos circulares com linhas onduladas”, disse Claudia ao The Guardian. Só quando olhou mais de perto percebeu que eram pegadas.

Pegadas fossilizadas, incrustadas na laje de rocha, provocaram a queda da mulher, e mais tarde revelaram um ambiente tropical à beira de lagos do período Permiano com 280 milhões de anos.

O Permiano, que decorreu entre 299 milhões e 252 milhões de anos atrás, foi uma era quente que culminou na catastrófica “Grande Morte“, que arrasou 90% das espécies da Terra.

Inicialmente, o tropeção de Claudia revelou pegadas fossilizadas de répteis, anfíbios, incetos e artrópodes, bem como restos de plantas preservadas, como sementes, folhas e caules. Até impressões de gotas de chuva e marcas de ondas de um lago pré-histórico foram encontradas meticulosamente preservadas em arenito de grão fino.

 

A ótima preservação dos fósseis, encontrados até 3.000 metros de altitude, tem uma explicação: os ciclos de humidade e seca nos antigos sistemas de rios e lagos.

“As pegadas foram feitas quando estes arenitos e xistos eram ainda areia e lama embebidas em água nas margens de rios e lagos, que periodicamente, de acordo com as estações do ano, secavam“, preservando pormenores intrincados como marcas de garras e padrões de ventre, explicou, em comunicado do Museu de História Natural de Milão, Ausonio Ronchi, paleontólogo da Universidade de Pavia que analisou os fósseis.

“O sol de verão, ao secar essas superfícies, endureceu-as ao ponto de o regresso de nova água não apagar as pegadas, mas, pelo contrário, cobri-las com nova argila, formando uma camada protetora”, adiantou o especialista.

Entre os fósseis, os investigadores identificaram marcas de pelo menos cinco espécies animais, algumas das quais se assemelham a dragões-de-komodo modernos em tamanho, com até 3 metros de comprimento.

Embora os dinossauros ainda não tivessem evoluído durante o Permiano, os animais responsáveis pelas maiores pegadas eram extraordinariamente grandes para a sua época, adiantam os especialistas do museu milanês.

Os investigadores notaram também paralelos entre as tendências de aquecimento do período Permiano e as alterações climáticas atuais: o derretimento do gelo e da neve nos Alpes, acelerado pelo aquecimento, expôs muitos destes fósseis escondidos. “O passado tem muito a ensinar-nos”, sublinham os cientistas.

Tomás Guimarães, ZAP //

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