A empresa de aviação registou um dos piores anos da sua existência. Está a reduzir pessoal ao mesmo tempo que enfrenta problemas com a lei e com a segurança dos aviões. A Boeing está a ir “de mal a pior”.
Desde janeiro, as ações da Boeing já caíram cerca de 40%, conta o Business Insider, que fez uma retrospetiva do ano trágico para a empresa, já centenária mas com o futuro comprometido.
Os sintomas começaram logo em janeiro, quando uma emergência no voo 1282 da Alaska Airlines foi ativada, após o avião ter perdido uma peça da porta em pleno ar, abrindo um buraco na lateral. Os pilotos viram-se obrigados a fazer uma aterragem de emergência e houve vários veridos.
Após o ocorrido, a Administração Federal da Aviação (FAA) imobilizou temporariamente mais de 170 aviões 737 Max 9 da Boeing até que as inspeções de segurança fossem concluídas.
Pouco tempo depois, conta o Insider, o Departamento de Justiça abriu um inquérito à Boeing e o FBI informou os passageiros do voo que poderiam ter sido vítimas de um crime. Mas este foi apenas o primeiro problema com justiça da empresa este ano.
Em julho, a Boeing assinou um acordo judicial relacionado com dois acidentes do 737 Max em 2018 e 2019 que mataram 346 pessoas. Se o acordo for aprovado, a Boeing declarar-se culpada de conspiração e fraude, evita um julgamento, mas paga uma multa de cerca de 228 milhões de euros, vendo-se obrigada a investir pelo menos 426 milhões de euros em medidas de segurança.
Para ajudar ao cenário, um relatório da FAA encontrou 27 áreas insuficientes nos procedimentos de segurança da Boeing, incluindo a ausência de um sistema para os funcionários relatarem preocupações de segurança, estruturas de gestão confusas e falta de comunicação com os funcionários sobre procedimentos de segurança.
Em junho deste ano, a Boeing levou pela primeira vez dois astronautas da NASA ao espaço, na nave espacial CST-100 Starliner. Não correu bem.
Os astronautas deviam regressar ao fim de oito dias, mas problemas com os propulsores da Starliner e fugas de hélio provocaram atrasos. O resultado foi infeliz: os astronautas continuam presos na Estação Espacial Internacional, e deverão ser “resgatados” em 2025 pela SpaceX de Elon Musk.
Ainda no verão, uma mudança nos órgão da direção também casou alguns distúrbios. Stephanie Pope, COO da empresa, foi promovida para substituir Dan Deal, diretor executivo que se reformou, pouco depois da sua saída. No final de julho, Kelly Ortberg foi nomeado o novo diretor-geral da empresa.
Ted Colbert, que dirigia a divisão de defesa, espaço e segurança da Boeing, tornou-se o primeiro executivo a abandonar a empresa depois de Ortberg ter assumido o cargo. A saída de Colbert foi anunciada em setembro, lembra o Insider.
Foi nesse mês também que se iniciaram sérias greves no seio da empresa, devido a um fracasso nas negociações contratuais. Os trabalhadores rejeitaram propostas de aumento de 25% do salário para mais de 32 mil funcionários e continuam agora a reivindicar melhores condições. A greve custa à 47 milhões de euros por dia.
Entretanto, no mês passado, a Boeing deu início a uma série de despedimentos de cerca de 10% dos funcionários: 17 mil pessoas.
Esta sexta-feira, no entanto, a Reuters anunciou que Kelly Ortberg vai, afinal, indemnizar os trabalhadores dispensados: “Queremos reconhecer o vosso apoio, devolvendo o vosso salário perdido, caso tenham entrado em licença sem vencimento“, escreveu o diretor-geral num e-mail aos funcionários.
Devido às dificuldades financeiras sentidas, a empresa vai ainda adiar para 2026 o lançamento de um novo avião, o 777X, que seria lançado em 2025. Irá também deixar de construir a versão de carga do aparelho 767 em 2027, assim que terminar as encomendas atuais.
A Business Insider recolheu testemunhos de engenheiros da Boeing que descrevem problemas técnicos nos aviões da empresa. A juntar-se a isso o pior ano económico de sempre da empresa, o que esperar para o futuro da icónica produtora de aeronaves?