Uma equipa de neurologistas da Universidade de Stanford descobriu o que poderá estar na origem das experiências fora-do-corpo, um fenómeno relatado por pessoas que enfrentaram situações de quase morte.
Estas experiências, também conhecidas como projeção da consciência, são muitas vezes associadas ao misticismo. No entanto, de acordo com Josef Parvizi, professor de neurologia em Stanford, a resposta não está no sobrenatural, mas nas próprias estruturas do cérebro.
Parvizi começou a sua investigação depois de tratar um paciente que tinha regularmente sensações de afastamento do seu próprio corpo. O paciente, que sofria de epilepsia, descreveu uma mudança súbita na sua autoperceção, em que se sentia como se estivesse a observar-se a si próprio a partir do exterior do seu corpo.
Intrigado, Parvizi começou a explorar as áreas do cérebro que poderiam ser responsáveis por estes episódios, detalha o El Confidencial.
Na sua investigação, Parvizi concentrou-se numa região específica do cérebro conhecida como córtex parietal medial (CPM). Esta área desempenha um papel crucial na criação daquilo a que chamamos o nosso “eu narrativo”. O CPM é fundamental para nos orientarmos no espaço, compreendermos a nossa relação com o mundo que nos rodeia e mantermos um sentido contínuo de nós próprios.
Num estudo publicado em 2023 na revista Neuron, a equipa de Parvizi realizou uma experiência para desencadear sintomas extracorporais aplicando uma estimulação elétrica ao CPM.
Os resultados foram conclusivos: a estimulação de um local preciso dentro desta região, conhecido como precuneus, produziu sensações de desprendimento semelhantes a uma experiência fora-do-corpo. Esta investigação sugere que o nosso “eu” físico está enraizado nesta parte específica do cérebro.
Os resultados alinham-se com outros estudos sobre experiências dissociativas causadas por fatores externos, como as drogas.
Christophe Lopez, investigador do Centro Nacional de Investigação Científica de França, sugere que este “eu físico” pode também ser influenciado pelo ouvido interno, que deteta a posição e o movimento do corpo. Esta interação entre as regiões do cérebro e as informações sensoriais pode ser fundamental para distinguir o nosso corpo do mundo que nos rodeia.