França já tem Governo. Nem a esquerda nem a direita gostam dele

ANDRE PAIN/EPA

Manifestantes seguram um cartaz do Primeiro-Ministro Michel Barnier e do Presidente francês Emmanuel Macron durante um protesto, em Paris, França.

França tem finalmente um novo Governo, liderado pelo primeiro-ministro Michel Barnier, dois meses depois de uma crise política e que está já a ser atingido por críticas da oposição de esquerda e de direita.

Ainda mal tinha sido anunciada pelo secretário-geral do Eliseu, Alexis Kohler, na noite deste sábado, a nova equipa governamental, composta por 39 membros, começou a ser contestada duramente pela oposição.

Para Jordan Bardella, líder da Assembleia Nacional, de extrema-direita, este novo Governo “representa o regresso do macronismo” e “não tem futuro”.

No outro extremo, o líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon – cujo movimento, França Insubmissa, faz parte da coligação maioritária de esquerda na Assembleia Nacional – apelou a que os franceses se “livrem o mais rapidamente possível” deste Governo.

O novo executivo foi “arrancado a ferros”, após 15 dias de negociações lideradas pelo primeiro-ministro Michel Barnier, ele próprio nomeado após difíceis manobras políticas.

A esquerda começou a falar num “golpe de estado” após a vitória nas legislativas.

A tendência da equipa governamental inclina-se claramente para a direita, a família política de onde vem Michel Barnier. A única figura da esquerda é o novo ministro da Justiça, Didier Migaud, um antigo socialista afastado da política ativa e desconhecido do público em geral.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, que mergulhou o país na incerteza ao decidir dissolver a Assembleia Nacional em 9 de junho, após a derrota nas eleições europeias, deu a sua aprovação à nova equipa após as negociações terminadas este sábado.

O governo de Barnier terá de conseguir afirmar-se contra a Assembleia que resultou das eleições legislativas antecipadas, fragmentadas em três blocos inconciliáveis: a esquerda, que ficou em primeiro lugar nos resultados eleitorais, mas está ausente do Governo; o centro-direita macronista; e a extrema-direita, que fica numa posição de ‘árbitro’ do jogo político.

A prioridade do novo Governo será a aprovação do orçamento, numa altura em que a França se depara com uma dívida elevada e é alvo de um procedimento europeu por défice excessivo.

As figuras do novo Governo

Entre as figuras salientes do novo Governo, conta-se o novo ministro do Interior, Bruno Retailleau, que está a ser fortemente contestado por macronistas e pelos partidos da esquerda. Figura próxima da direita liberal-conservadora, defensora da “ordem”, da autoridade” e da “firmeza”, Retailleau pretende implementar uma política dura de imigração, um tema que preocupa os franceses e que inflama regularmente a discussão política.

Do lado dos macronistas, o centrista Jean-Noel Barrot foi nomeado para os Negócios Estrangeiros. Antigo ministro para os Assuntos Europeus, este jovem funcionário – de 41 anos – terá de rapidamente se afirmar e dar-se a conhecer numa cena internacional explosiva, marcada por dois grandes conflitos, na Ucrânia e no Médio Oriente.

O novo ministro das Forças Armadas, Sébastien Lecornu, leal ao chefe de Estado, é um dos poucos a manter o seu cargo e o seu Ministério será um dos únicos a beneficiar de um orçamento com mais dinheiro, neste contexto de crise internacional.

Rachida Dati, uma figura que divide opiniões à direita, também mantém a sua pasta como ministra da Cultura.

Manifestação contra o “Governo Macron-Barnier”

A esquerda tem vindo a denunciar que o resultado eleitoral está a ser deturpado e não poupa críticas às opções políticas de Macron, como o faz agora a eurodeputada de esquerda radical Manon Aubry, classificando a equipa de Barnier de estar refém dos interesses da extrema-direita.

Ambientalistas e ativistas da França Insubmissa já se manifestaram em várias cidades de França a pedido de associações, organizações estudantis, ambientalistas e feministas, contra o governo Macron-Barnier e promete “aumentar a pressão popular”.

Uma manifestação juntou milhares de franceses na Praça da Bastilha, em Paris, para protestar pela destituição de Macron.

“Macron Macron destituição”, “Macron, a juventude saiu à rua”, “Greve, bloqueio, Macron na prisão”, “Resistência” e “Somos todos antifascistas” são algumas das palavras de ordem que vão sendo entoadas pelos milhares de manifestantes no início do protesto marcado para as 14h00 horas locais (13h00 de Lisboa).

Embora sem grande agitação até ao momento, mas com um grande aparato policial, a manifestação, organizada por vários sindicatos e associações estudantis, ecologistas e feministas, enche a praça parisiense e vários cartazes assumem as posições.

Os manifestantes, que estão organizados maioritariamente em grupos animados, deverão seguir um percurso de cerca de dois quilómetros até à praça de Nation, ocupando as ruas no centro da capital francesa, com os seus cânticos e mostrando a revolta enquanto pedem “respeito pelos votos” nas eleições legislativas.

ZAP // Lusa

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