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Montenegro lança avisos contra a lengalenga. E é assim, nem curta nem longa (a bica)

Hugo Delgado / Lusa

O primeiro-ministro, Luís Montenegro

O primeiro-ministro avisou esta quinta-feira que, se se continuar “na lengalenga” de que está tudo bem no plano da atratividade fiscal em Portugal, o país pode “perder o comboio da competitividade”.

No último dia da visita oficial que Luís Montenegro está a realizar a Angola desde terça-feira, o primeiro-ministro lançou um aviso contra “lengalenga” de que “está tudo bem” na atratividade fiscal em Portugal.

Montenegro tinha sido questionado se tenciona aplicar já a descida do IRS nas tabelas de retenção da fonte este ano, após a promulgação de um diploma do parlamento com origem no PS.

“Teremos ocasião de nos próximos dias falar sobre isso”, afirmou, dizendo querer concentrar-se no enquadramento da sua visita a Angola.

Questionado se tal poderá acontecer já esta sexta-feira, dia de reunião de Conselho de ministros, respondeu: “Logo veremos”.

O primeiro-ministro preferiu destacar que Portugal quer criar um quadro fiscal mais atrativo para que mais empresas estrangeiras, incluindo angolanas, possam investir no país e deixou recados com leitura nacional.

Se nós perdermos o comboio da competitividade, nomeadamente fiscal, nós estamos a condenar o país a ter menos investimento. Tendo menos investimento, cria menos riqueza, é mais pobre e terá mais dificuldade em fixar os seus próprios quadros, nomeadamente os seus jovens quadros”, disse.

Luís Montenegro apelou a que em Portugal “as pessoas parem para refletir” se querem ou não ser mais competitivos que os outros.

“Se nós quisermos estar na lengalenga de que está tudo bem, de que a atratividade fiscal sobre as empresas é para beneficiar os proprietários das empresas, nós estamos a prestar um mau serviço”, disse.

“Não é aos proprietários das empresas, é aos trabalhadores, é às pessoas que querem subir na vida, é às pessoas que andaram a estudar e que querem transformar o conhecimento que adquiriram em capacidade de produzir”, avisou.

É isto que eu quero para Portugal e é esta mensagem de esperança e de confiança que eu também digo e afirmo e reafirmo a partir de Angola”, frisou.

Pedidos de apoio a PME em Angola já têm eco

Na quarta-feira, o primeiro-ministro respondeu a apelos de apoio às pequenas e médias empresas portuguesas a operar em Angola, dizendo que estes “já têm eco” no desenho das políticas e instrumentos de financiamento do Governo português.

“Para além dos reflexos que o aumento da linha de crédito Portugal-Angola que ontem anunciei, em 500 milhões de euros, nós temos em Portugal, através da intervenção do Banco Português de Fomento, uma linha de apoio à internacionalização das nossas empresas”, disse.

Esta linha de apoio, que conta com fundos europeus, ascende a 3.600 milhões de euros, “dos quais 2.500 milhões estão destinados precisamente às PME”, frisou.

Para além disso, acrescentou, “o Governo está empenhado também em ajudar aquelas que já foram PME a agora ascenderem à categoria de grandes”.

Empresários ouvidos pela Lusa na Filda queixaram-se de falta de apoio às PME exportadoras e das dificuldades de acesso aos programas de internacionalização e de investimento, defendendo soluções mais direcionadas para este tipo de empresas.

Montenegro considerou que “a resposta está dada” a estes apelos, reiterando que as linhas de apoio às empresas que favorecem a internacionalização “vão repercutir-se nos mercados que escolherem” e o mercado angolano é “muito relevante” para Portugal.

O primeiro-ministro realçou que, nas linhas de financiamento já disponíveis, 711 milhões de euros são para “investimento direto na investigação, no conhecimento, na inovação e na digitalização, que são pressupostos de competitividade das empresas para elas também se poderem internacionalizar”.

Na sua intervenção, Montenegro quis deixar palavras de gratidão e esperança sobre o passado, presente e futuro das relações entre os dois países.

A minha primeira palavra é de gratidão. Gratidão às empresas, gratidão aos empresários e gratidão aos trabalhadores. Aos muitos milhares de trabalhadores portugueses que estão hoje aqui em Angola e aos muitos milhares de trabalhadores angolanos que estão hoje em Portugal”, disse, reiterando que os cidadãos que falam português têm prioridade para entrar em Portugal.

Por outro lado, citou o exemplo das duas empresas que visitou hoje nos arredores de Luanda – Powergol e Refriango – para manifestar a esperança na “capacidade empreendedora, de assumir riscos, de pegar no produto das empresas e reinvesti-lo a bem da criação de novos negócios”.

“A gratidão é sobretudo por aquilo que nós já fomos capazes de fazer e a esperança é sobretudo por aquilo que nós ainda vamos fazer no futuro, que é o mais importante”, disse, repetindo uma expressão que tem usado nesta visita: as relações entre Portugal e Angola são “relações para todas as horas”.

Bica curta, média ou longa?

Durante uma visita à Feira Internacional de Luanda, o primeiro-ministro assumiu-se como um moderado e “sem preferência pelos extremos”.

Acompanhado pelos ministros das Finanças e da Economia, e do ministro da Indústria e Comércio de Angola, Rui Miguéns Oliveira, Montenegro visitou numerosos “stands” da FILDA, muitos deles de empresas portuguesas.

Recusou queijo da serra e vinho, alegando que tinha acabado de almoçar, foi perguntando a todos como corriam os negócios e foi muito solicitado para fotografias e cumprimentos por parte dos vários empresários portugueses na feira.

A todos desejou boa sorte e aos que diziam ser a primeira vez em Angola, respondeu que tinham “isso em comum”, sendo também a sua primeira vez no país, numa visita oficial a convite do Presidente da República João Lourenço.

Montenegro aceitou apenas um café da Angonabeiro, do grupo português Delta. “Este café dá energia para todos os dias, todos os dias são importantes para transmitir energia às pessoas e às entidades empresariais”, assegurou.

À pergunta se queria uma bica curta, média ou longa, não hesitou: “Médio, eu sou assim, eu sou moderado, nem muito de um lado, nem muito do outro”.

Questionado pelos jornalistas se não tinha preferência por nenhum dos lados, numa alusão à política nacional, clarificou: “Sem preferência pelos extremos, nem de um lado nem de outro, é o tal campo da moderação”.

Aqui, recordou o trabalho do fundador do grupo, o comendador Rui Nabeiro, dizendo que tinham “uma ótima relação”, apesar de não partilharem o mesmo campo político.

Visitou também o espaço do futuro aeroporto internacional de Angola, onde foi fazendo várias perguntas sobre se o andamento dos trabalhos, o número de passageiros previstos ou até o valor investimento, tendo esta última pergunta ficado sem resposta.

Já vi que resvalou”, gracejou.

ZAP // Lusa

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