Há pessoas imunes à covid-19. Cientistas acabam de descobrir porquê

Ennio Leanza / EPA

A exposição forçada de pessoas ao vírus da covid-19 ajudou os cientistas a compreender por que é que algumas pessoas nunca ficaram infetadas.

Em 2021, uma primeira investigação para estudar a imunidade humana à covid-19 expôs 36 pessoas saudáveis – sem histórico de infeção, nem vacinação contra o SARS-CoV-2 – à estirpe ancestral do vírus através da injeção nasal.

As amostras nasais e de sangue foram recolhidas antes e após a exposição, tendo sido também realizadas análises ao SARS-CoV-2 duas vezes por dia durante 28 dias.

No decorrer do estudo, publicado esta quarta-feira na Nature, foram sequenciadas mais de 600.000 células sanguíneas e nasais.

Como detalha a New Scientist, os resultados indicaram que houve participantes que produziram uma substância que ajuda o sistema imunitário a combater as infeções chamada interferão, na nasofaringe – a parte superior do nariz, atrás da garganta, de onde foram retiradas as amostras nasais.

A equipa também verificou que níveis elevados do gene HLA-DQA2 antes da exposição ao vírus ajudaram a prevenir uma infeção sustentada. Este gene parece estar associado à proteção contra a covid-19.

O estudo, publicado esta quarta-feira na Nature, é único, na medida em que permite uma medição precisa das respostas imunitárias desde o “tempo zero” da infeção.

Como explica José Ordovas-Montanes, do Harvard Stem Cell Institute, à New Scientist, este estudo é único, na medida em que oferece uma visão detalhada das respostas celulares associadas à imunidade contra a covid-19, embora reconheça as limitações devido à diversidade de variantes circulantes que já existem atualmente.

Como explica o cientista, hoje em dia estamos expostos a “um verdadeiro mosaico de variantes do SARS-CoV-2”, em vez de apenas à variante ancestral utilizada no estudo. Por esse motivo, Ordovas-Montanes alerta qye os resultados podem não refletir as respostas das células fora de um contexto experimental.

A descoberta das substâncias e genes possivelmente relacionados com a imunidade da covid-19 podem levar ao desenvolvimento de vacinas e tratamentos.