É muito feio e ao mesmo tempo muito giro. Um filtro de IA que transforma as pessoas em cartoons de barro à moda de Shaun the Sheep lançou a loucura na China — mas tem aparentemente um efeito curativo.
Um novo filtro de inteligência artificial “feio-fofo” tomou de assalto as redes sociais chinesas.
O filtro de inteligência artificial transforma retratos em imagens de escultura em barro ao mesmo tempo “feias e giras”, que se assemelham a personagens de filmes de animação em stop-motion como Wallace & Gromit ou Shaun the Sheep.
Remini, a aplicação de edição de fotografias que lançou o filtro, liderou a classificação das aplicações gratuitas na China, com cerca de 400 000 descargas diárias nos sete dias entre 30 de abril e 6 de maio.
O pico de downloads da app foi impulsionado pelo feriado de cinco dias do Dia do Trabalhador no país, altura em que o filtro foi bastante usado em vlogs de viagens. Um vlog com o filtro teve cerca de 13.400 gostos no Xiaohongshu, o Instagram da China.
O South China Morning Post explica o que está por detrás desta tendência. Segundo o jornal chinês, a popularidade da aplicação é atribuída ao facto de o efeito do filtro “ser simultaneamente feio e giro“.
Nas imagens em barro, os traços faciais são preservados, mas são mais coloridos e as expressões parecem mais exageradas.
A aplicação tem sido fonte de diversão e entretenimento. “Estes filtros salvaram as minhas fotografias inúteis”, diz um utilizador do Xiaohongshu. “Usar este filtro é como abrir uma caixa cega“, explica outro.
Segundo argumenta o escritor e crítico galês Stephen Bayley no seu livro “Ugly: The Aesthetics of Everything” (Feio: a Estética de Tudo), o feio proporciona mais variedade e surpresa e é muito mais interessante do que a beleza, que tende a ser previsível.
Muitas pessoas nas redes sociais chinesas parecem ter aderido a esta noção de fealdade fofa, e estão a usar filtros humorísticos que aumentam algumas características e diminuem outras.
“Depois de verem dúzias de rostos semelhantes de influencers, gerados por filtros demasiado embelezados, preferem agora uma versão defeituosa da realidade à fachada perfeita”, explica Dou Donghui, professor associado de psicologia na Universidade Central de Finanças e Economia de Pequim.
Efeito curativo
Para os defensores da Remini, as surpresas proporcionadas pela fealdade têm efeitos terapêuticos. “É feio, mas faz-me feliz“, diz um utilizador.
O psicoterapeuta Wang Huiqiu acredita que o filtro evoca a essência calma e curativa dos filmes de animação stop-motion da infância.
“As cores do filtro de barro dão uma sensação de regresso à simplicidade, alinhando com a reflexão da sociedade moderna sobre a vida acelerada e o desejo de uma vida mais lenta”, explica Wang ao SCMP.
No entanto, nem toda a gente é fã. Alguns acham que o efeito é pouco atrativo e desagradável, e preferem o filtro “jade”, lançado recentemente na aplicação, que gera retratos ao estilo das tradicionais esculturas de jade chinesas — com rostos mais pequenos e mais refinados, com olhos maiores e bocas mais pequenas.
Outros partilham dicas sobre como converter primeiro as fotografias para um estilo de desenho animado antes de aplicar o filtro de barro, para evitar a perceção de fealdade.
As alternativas oferecidas por outras aplicações chinesas de edição de fotografias, como a Meitu, têm sido elogiadas por se adequarem melhor aos rostos asiáticos, com tez mais suave e pálida e expressões mais adequadas.
Ainda assim, o Remini continua a reinar nas redes sociais chinesas. Caso para dizer que quem o feio ama, bonito lhe parece.