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Polémica nos Jogos Olímpicos de Paris. Cruz de igreja substituída por flecha

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Paris 2024

Pormenor da Catedral Saint-Louis-des-Invalides em Paris, com flecha em vez de cruz no cartaz oficial dos Jogos Olímpicos de 2024.

Pormenor da Catedral Saint-Louis-des-Invalides em Paris, com flecha em vez de cruz no cartaz oficial dos Jogos Olímpicos de 2024.

“Uma vergonha!” É o desabafo de alguns franceses que ficaram indignados com os cartazes oficiais dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 depois de a cruz da cúpula de uma catedral ter sido substituída por uma flecha.

Estalou a polémica depois da divulgação dos dois cartazes oficiais para os Jogos Olímpicos (JO) e Paralímpicos de Paris que se realizam neste ano.

Tudo porque a cruz da cúpula da Catedral Saint-Louis-des-Invalides, situada no complexo arquitectónico e histórico conhecido como Les Invalides (Os Inválidos) em Paris, foi substituída por uma flecha nos cartazes oficiais.

Há quem fale de uma “invisibilização” da identidade francesa e quem lamente que se quer “apagar todos os sinais do cristianismo”.

“Uma vergonha”, queixam-se outros franceses enquanto há quem lembre que durante o Campeonato do Mundo de futebol, o Qatar não removeu os crescentes muçulmanos dos seus prédios.

Mas também há quem ache que não faz sentido que, em 2024, “num estado laico”, haja tanta polémica em torno de “um detalhe religioso da representação artística escolhida para os JO”.

Já o deputado Nicolas Meironnet, eleito pelo partido de extrema-direita de Marine Le Pen, lamenta que “nenhuma bandeira francesa aparece”.

“A invisibilidade da nossa identidade é uma falha inaceitável. O wokismo deve ser combatido incansavelmente em todos os lugares”, considera ainda Meironnet.

DXR / wikimedia commons

Catedral Saint-Louis-des-Invalides em Paris.

Catedral Saint-Louis-des-Invalides em Paris.

Artista diz que não teve “segundas intenções”

Os cartazes oficiais dos JO e Paralímpicos de Paris 2024 são distintos, mas complementam-se, formando um “fresco” gigante com 40.000 personagens e 47 desportos representados.

O projecto faraónico é da autoria do artista Ugo Gattoni que o pintou à mão.

Gattoni refere que pretendeu criar numa “Paris utópica e fantasiada”, uma “arena desportiva composta por edifícios icónicos da capital, com as pontes” e “o Sena que a rodeia”, conforme declarações citadas pelo jornal Le Figaro.

O artista nota que evoca os monumentos tal como lhe aparecem “no espírito e sem segundas intenções“.

“Não procuro que sejam fiéis ao original, mas sim que possamos imaginar, num relance, do que se trata, ao mesmo tempo que o projectamos num universo surreal e festivo“, salienta.

A organização dos JO também veio notar que se trata de “uma interpretação artística e alegre de uma cidade-estádio reinventada“.

“É uma representação que não é exaustiva nem fiel à realidade – a onda do Taiti sai da Marina de Marselha, a Torre Eiffel é rosa, o metro passa por baixo do Arco do Triunfo”, vincam os organizadores, considerando que os cartazes não deveriam, por isso, estar sujeitos “a interpretações políticas”.

Divulgação

Carta oficial dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris 2024.

Carta oficial dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris 2024.

“Mais de 2.000 horas de trabalho”

Os cartazes foram inspirados nos anos de 1920, na art déco e na art nouveau e pretendem mostrar a grande história dos JO, mas também pequenas histórias ao estilo do “Onde está o Wally?”.

“Podem ver-se durante horas e descobrir coisas novas a cada vez” que se olha, diz Gattoni em declarações citadas pelo jornal Ouest-France.

“Comecei a desenhar a 19 de Setembro” e “terminei a 19 de Janeiro, depois de mais de 2.000 horas de trabalho no total”, sublinha ainda o artista.

Os cartazes vão ser comercializados nas lojas oficiais das Olimpíadas de Paris, nomeadamente online, mas também nas grandes superfícies e noutros espaços comerciais em França.

Serão vendidos em duas versões separadas, nos formatos 30 x 40 centímetros (cm) e 50 x 70 cm, a partir de 20 euros.

Susana Valente, ZAP //

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3 Comments

  1. Não há a minima duvida que são os Franceses que estão em maior risco de perder a sua identidade para estes “não intencionados” esquecimentos artísticos.
    Esta politica de “libelinhas” que a Europa tem actualmente está a matar o que somos.
    Precisam-se dirigentes de pulso. Que falem pouco e façam muito…
    Mas não há…
    Nem lá nem cá.

  2. Obvianente que urge rever a exposição de símbolos religiosos, sob pena de termos que lamentar mais tarde.
    Um símbolo religioso que seja, pode converter-se num ponto de discórdia, donde pode resultar o que ninguém quer.
    A religião, em termos globais, tem sido o cancro das sociedades, o pretexto para a destruição e morte, guerras, atrocidades, confisco de bens e humilhações, que durante séculos têm atingido a humanidade e espalhado o terror, a prepotência e o desrespeito pela vida e bem estar do ser humano.
    Também praticam o bem, dirão alguns.
    Pois bem, conheço muitos agnósticos que o fazem bem melhor e com menos prejuízo.

  3. Obviamente que urge rever a exposição à doutrina política, sob pena de já estarmos a lamentar.

    Nada, na história da humanidade, matou mais que a demagogia da ideologia e em particular, nada matou mais que o Marxismo, a sua utopia e a cegueira de quem a tentou implementar à força, contra tudo e contra todos.

    São largas dezenas de milhões, em muitos países, mortos barbaramente e das mais variadas formas, desde a fome à tortura ou ao extermínio premeditado.

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