Rússia quer que grupos palestinianos criem um Estado próprio

Maxim Shipenkov/EPA

Serguei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, instou esta quinta-feira os palestinianos a unirem-se para criarem o seu próprio Estado, considerando esta a única maneira de alcançar uma paz duradoura na região.

“Só esta abordagem, justa e baseada no direito internacional, pode levar a uma paz sustentável na região”, afirmou o chefe da diplomacia russa no início de uma reunião de representantes das fações palestinianas em Moscovo, na qual participaram tanto membros do grupo islamita Hamas como da Fatah (Movimento de Libertação Nacional da Palestina).

Lavrov insistiu que “a questão da criação do Estado palestiniano deve ser resolvida com base nas resoluções do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral das Nações Unidas”.

Segundo o diplomata, os EUA já há algum tempo “que ignoram” os interesses dos países da região, embora tentem atuar como “mediadores”.

“Os EUA estão a tentar, por todos os meios, retomar o papel de principal mediador. Mas, tanto quanto podemos julgar, pela informação que temos (…), não pretendem [a criação de] um Estado palestiniano, mas uma ‘normalização’ na Cisjordânia e na Faixa de Gaza”, disse.

Além disso, acrescentou, “há forças que utilizam os trágicos acontecimentos em Gaza para cimentar a fragmentação e a discórdia entre os territórios palestinianos”.

Nesta situação, são os próprios palestinianos que devem unir forças para intensificar o diálogo interpalestiniano e defender os seus interesses.

“Desejamos aos palestinianos e ao presidente Mahmoud Abbas [da Autoridade Nacional Palestiniana] sucesso na formação de um novo Governo. Esperamos que reflita a vontade de superar diferenças e seja composto por pessoas que representam os interesses de todo o povo palestiniano”, sublinhou Lavrov.

Representantes da Fatah e do Hamas chegaram na quarta-feira a Moscovo para tentar superar a divisão interna e negociar uma possível formação de um Governo de tecnocratas, uma reunião que é vista por analistas como uma demonstração de influência geopolítica por parte do presidente russo Vladimir Putin.

O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo para o Médio Oriente e África, Mikhail Bogdanov, salientou que o objetivo destas consultas é preparar o caminho para que os palestinianos adotem uma causa comum do ponto de vista político e sublinhou que, para Moscovo, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) continua a ser “o representante legítimo do povo palestiniano”.

Segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, uma dezena de grupos que integram a OLP, o Hamas e o movimento Jihad Islâmica participarão na reunião que se prolongará até sábado.

A Rússia tem apoiado a aspiração palestiniana de criar um Estado independente nas fronteiras que existiam antes da Guerra dos Seis Dias, em 1967, com capital em Jerusalém Oriental e de acordo com as resoluções da ONU, razão pela qual ofereceu a sua capital como sede para a reunião.

Além disso, a Rússia aguarda há vários meses uma visita a Moscovo de Abbas, cuja influência no processo de mediação entre Israel e o Hamas é quase nula, uma vez que não atua como interlocutor nem tem controlo direto sobre Gaza, onde o grupo islamita derrubou Abbas do poder em 2007.

Esta não é a primeira vez que acontecem consultas de reconciliação semelhantes, já que os grupos já estiveram reunidos em 2019 e 2017, quando a Fatah e o Hamas exigiram que Abbas formasse um governo de unidade nacional.

A Rússia mantém há tempos laços com militantes palestinianos, e os seus contactos com o Hamas já se mostraram úteis. Em outubro, Bogdanov, que também é o enviado especial de Putin para o Médio Oriente, entregou uma lista de reféns israelitas de origem russa ou com dupla nacionalidade aos representantes políticos do Hamas no Qatar e pediu a sua libertação.

ZAP // Lusa

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