Moscovo vai acolher encontro entre representantes do Hamas, da Jihad Islâmica Palestina e da OLP. Especialistas consideram que Putin pretende demonstrar que possui influência geopolítica.
Esta semana, representantes de diversos grupos palestinianos vão viajar até Moscovo para discussões sobre a guerra entre Israel e o Hamas, bem como outros tópicos do Médio Oriente, num evento descrito como um “diálogo interpalestiniano”.
O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Mikhail Bogdanov, afirmou à agência de notícias estatal russa Tass que entre 12 a 14 organizações participarão na conferência, que terá início nesta quinta-feira e durará entre dois a três dias.
Isto inclui representantes do Hamas e da Jihad Islâmica, duas organizações consideradas terroristas pela União Europeia e pelos EUA, e de grupos moderados, como o Fatah, a organização que administra a Cisjordânia ocupada, e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), a associação mais ampla de grupos palestinianos.
Estes grupos têm posições muito distintas em tópicos como o reconhecimento do Estado de Israel. A OLP, liderada pelo Fatah, reconheceu Israel em 1993, parcialmente em troca de um possível Estado palestiniano. O Hamas tem-no rejeitado durante anos, embora na sua carta de princípios de 2017 concorde com um Estado palestiniano nos limites de 1967, mesmo sem reconhecer explicitamente Israel. O Hamas, assim como a Jihad Islâmica, não faz parte da OLP.
Também houve atos de violência entre os grupos — o Hamas e o Fatah são rivais. O Hamas, após vencer as eleições na Faixa de Gaza em 2006, não conseguiu chegar a um acordo de partilha de poder com o Fatah, e combates eclodiram. O Fatah acabou por sair da Faixa de Gaza, deixando o Hamas no comando, e hoje administra a Cisjordânia; a sua autoridade governamental é conhecida como a Autoridade Palestiniana (AP).
“Diálogo pelo diálogo”
Esta não é a primeira vez que se discute uma frente palestiniana mais unificada. Como lembra o especialista russo em Médio Oriente Ruslan Suleymanov, já houve mediações entre os diferentes grupos anteriormente, mas nunca foram bem-sucedidas.
No caso atual, “a Rússia não tem nenhum plano concreto para o caso palestiniano, especialmente para a Faixa de Gaza, pois isso exigiria funções de mediação e manter bons contactos tanto com Israel quanto com a ala paramilitar do Hamas em Gaza”, disse Suleymanov.
Assim, avalia que os principais objetivos de Moscovo são demonstrar que tem alguma influência sobre estes grupos palestinianos e, de olho na eleição presidencial, que possui alguma influência geopolítica. A Rússia elegerá um novo presidente em meados de março. Não há dúvidas de que o atual, Vladimir Putin, sairá vencedor. “Na verdade, trata-se apenas de diálogo pelo diálogo“, acrescentou Suleymanov.
Fragmentação palestiniana
“As divergências entre os grupos palestinianos incluem grandes diferenças políticas, relacionadas ao processo de paz e à estratégia de libertação nacional, bem como questões técnicas sobre como reintegrar as instituições da Autoridade Palestiniana em Gaza”, diz Hugh Lovatt, do Conselho Europeu de Relações Externas.
O Hamas, que é classificado como organização terrorista pela União Europeia e pelos EUA, governa Gaza desde 2007. Qualquer cenário futuro pós-guerra que reintegre a Autoridade Palestiniana em Gaza e integre politicamente o Hamas na Cisjordânia ocupada teria de se basear em algum tipo de entendimento entre o Hamas e a AP, observa Lovatt.
Para o ex-primeiro-ministro palestiniano Mohammad Shtayyeh, isso é uma possibilidade. No início de fevereiro, ainda no cargo, afirmou à margem da Conferência de Segurança de Munique que o Hamas faz parte integrante do panorama político palestiniano. “Eles têm de aderir à nossa agenda política. A nossa base é muito clara: dois Estados nas fronteiras de 1967, através de meios pacíficos. Os palestinianos devem estar sob um único guarda-chuva“, declarou.
Na prática, a situação é complicada. Vários países já declararam que o Hamas não deveria ter permissão para desempenhar um papel na governação quando o conflito acabar. Israel, em particular, opõe-se a tal cenário. Também é difícil ver como a posição radical do Hamas em relação ao reconhecimento de Israel poderia ser conciliada com a da OLP, que já reconheceu Israel.
Para a Rússia, mesmo que a reunião não produza resultados práticos, a continuidade da divergência palestiniana não seria necessariamente um resultado negativo. A reunião ajudaria, mesmo assim, a consolidar o futuro papel da Rússia no Médio Oriente.
A Rússia no Médio Oriente
Durante muitos anos, a Rússia conseguiu manter laços estreitos com Israel enquanto também mantinha boas relações com um dos maiores adversários regionais de Israel, o Irão. As relações deterioraram-se após a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, quando o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, não demonstrou apoio à invasão russa, e milhares de russos e ucranianos fugiram para Israel.
Suleymanov acredita que a Rússia não pode realmente “dar-se ao luxo de perder Israel também”, já que a comunidade de língua russa é a maior minoria em Israel desde que cerca de 1 milhão de pessoas de origem judaica emigraram para o país do Médio Oriente após o colapso da União Soviética, no início da década de 1990.
Mas os laços entre a Rússia e o Irão também são fortes. O Irão é conhecido por apoiar o Hamas, o Hezbollah no Líbano, grupos paramilitares iraquianos e os rebeldes Houthi no Iémen – todos eles veem os EUA e Israel como inimigos.
A Rússia mantém há tempos laços com militantes palestinianos, e os seus contactos com o Hamas já se mostraram úteis. Em outubro, Bogdanov, que também é o enviado especial de Putin para o Médio Oriente, entregou uma lista de reféns israelitas de origem russa ou com dupla nacionalidade aos representantes políticos do Hamas no Qatar e pediu a sua libertação.
// DW
Guerra no Médio Oriente
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Haja alguém que dê atenção aos palestinianos! No tempo das ex-colónias os nossos jovens iam para aa guerra nas colónias combater os “terroristas”. Hoje os “terroristas” têm o seu país e são donos do seu nariz! Quem eram os terroristas?
O Putin devia era viajar até ao médio oriente a ver se alguém lhe deitava a mão.
Mas o gajo tem cú, logo tem medo…