Russofobia e “disparate”. Putin não quer atacar Europa (mas ameaça com armas nucleares)

SERGEI ILNITSKY/Lusa

O presidente russo, Vladimir Putin, faz seu discurso anual à Assembleia Federal no centro de conferências Gostiny Dvor, em Moscovo

E haverão consequências “trágicas” para quem intervir na guerra da Ucrânia. Presidente russo dirigiu-se à Nação para reforçar “confiança” na guerra e avisar o Ocidente: “Nós também temos armas capazes de atingir o vosso território”.

Vladimir Putin deixou esta quinta-feira na Assembleia Federal a mensagem mais aguardada do ano, sobre o Estado da Nação, naquela que é vista como a apresentação do programa eleitoral do candidato de 71 anos, no poder desde 2000.

“De facto, é assim. Em muitos aspetos, este será o programa com que o candidato Putin vai [às eleições]”, afirmava antes o Porta-voz da Presidência Dmitri Peskov a uma televisão local, citado pela agência russa TASS.

Perante as duas câmaras do Parlamento o chefe de Estado, em Moscovo, o presidente russo deu início ao discurso anual à nação às 12:13 em Moscovo (09:13 em Lisboa), abordando a guerra na Ucrânia e deixando de fora o tema mais “quente” — a anexação da Transnístria, região separatista na Moldávia que pediu nesta quarta-feira proteção à Rússia.

O exército russo está a avançar “com confiança” em várias frentes na Ucrânia, anunciou o presidente da Rússia, que diz que o Kremlin está “a defender a sua soberania e segurança e a proteger os nossos compatriotas” na Ucrânia, com uma palavra de agradecimento para o “apoio esmagador da população à operação especial”.

Aviso: “nós também temos armas”

Depois de um minuto de silêncio pelas vítimas de guerra, realizado a pedido de Putin, o presidente russo começou a criticar o Ocidente e as suas “tendências coloniais”.

O Ocidente tem estado “decidido a destruir” a Rússia e os EUA estão “absolutamente determinados” em dividir o país, por isso avisa: “Nós também temos armas capazes de atingir alvos no vosso território”.

A situação pode mesmo escalar ao ponto de “levar ao uso de armas nucleares”, ameaça o líder do Kremlin. “Eles não percebem isso?”

Moscovo tem acusado os aliados ocidentais da Ucrânia de estarem a fornecer armas a Kiev capazes de atingir alvos no interior da Federação Russa.

Putin considerou “um disparate” as alegações de que a Rússia pretende atacar a Europa, mas advertiu a NATO de que as consequências serão desastrosas se enviar tropas para a Ucrânia, segundo a agência espanhola EFE.

“Querem envolver-nos numa nova corrida às armas”, disse em alusão à Guerra Fria.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, admitiu recentemente a possibilidade do envio de tropas ocidentais para a Ucrânia para ajudar a combater a invasão russa, mas os parceiros da NATO rejeitaram tal possibilidade.

“As consequência agora para os possíveis intervencionistas serão muito mais trágicas.”

Lamentou ainda a “russofobia” que “cega as pessoas” do Ocidente, lembrando: “sem uma Rússia estável, não há uma paz sólida no mundo”.

“Queremos tornar-nos na 4.ª economia mundial”

Depois de uma passagem pelos problemas da baixa taxa de natalidade que o país enfrenta — que considera, juntamente com a taxa de pobreza, uma luta que deve ser travada “a todos os níveis” —, Putin deixou claro: “Queremos tornar-nos na quarta economia mundial”.

“Temos uma enorme fatia da população abaixo dos 20 anos”, notou, “e queremos que estejam preparados para novas profissões”, disse, à medida que prometia avanços técnicos e anunciava um pacote de 4500 milhões de rublos como investimento na formação de jovens.

A área da robótica é um dos focos da “industrialização” do país. “Em 2030, todas as instituições e todo o Estado social estará envolvido nisto. É uma tarefa colossal”, disse.

ZAP // Lusa

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