Um copinho de vinho faz bem ao intestino

Comparados com quem não bebe, os consumidores de álcool em níveis leves e moderados têm uma microbiota intestinal mais diversificada, algo que é associado a um intestino saudável.

Diversos estudos indicam impactos negativos do consumo excessivo de álcool no intestino, que pode provocar disbiose (um desequilíbrio entre bactérias benéficas e nocivas no órgão) e tornar as paredes intestinais mais permeáveis.

Avaliações dos efeitos de quantidades reduzidas de bebida, por outro lado, não são muito conclusivas: algumas apontam benefícios do álcool, e outras, malefícios.

A disbiose está associada a mais inflamações e doenças do que acontece com intestinos com microbiotas saudáveis e, quando o órgão está permeável, bactérias e toxinas podem acabar por passar para a corrente sanguínea e chegar ao fígado, onde causam inflamações e diversos problemas. Para agravar, a falta de saúde intestinal pode levar ao “desejo”, o vício pelo álcool.

Abuso de álcool e o intestino

Um estudo publicado em fevereiro de 2023 envolveu o microbioma de 71 pessoas entre 18 e 25 anos de idade sem distúrbios relacionados ao álcool, como alcoolismo. Quem consumia álcool em excesso — ou seja, ingeria quatro bebidas ou mais num período de duas horas, no caso das mulheres, e cinco ou mais no caso dos homens — apresentou alterações no microbioma relacionadas a um maior desejo de beber.

Sintomas de inflamação no sangue também foram observados nesses consumidores, o que também já tinha sido evidenciado em estudos anteriores. No entanto, sinais de disbiose não foram detetados.

O problema é claramente observado em estudos com animais mas, em humanos, é muito mais complicado encontrar a associação — controlar fatores como dieta e outras condições de saúde revela-se muito mais difícil neste caso.

E o consumo moderado de álcool?

Embora alguns países considerem o limite de uma bebida por dia, para homens, e duas, para mulheres, como consumo moderado de álcool, poucos estudos investigam os efeitos dessa quantidade no corpo.

Alguns estudos registaram que, comparados com quem não bebe, os consumidores de álcool em níveis leves e moderados têm uma microbiota intestinal mais diversificada, algo que é associado a um intestino saudável.

Tal pode estar relacionado a outros fatores, como dieta e estilo de vida, ou a algum componente nas bebidas alcoólicas que beneficie o intestino mas, segundo cientistas, não é com certeza um benefício do etanol em si.

Um estudo de 2020, com 916 britânicas, mostrou que as consumidoras de vinho tinto (e, em menor escala, vinho branco) tinham maior diversidade na microbiota do que as que não bebiam.

Com cerveja e licor, a associação não foi observada. Os investigadores sugerem que isso pode ser devido aos polifenóis, compostos encontrados na casca da uva e abundantes no vinho tinto, mas estes não provêm apenas do vinho — podem ser encontrados na uva, no café, no chá e noutras frutas, legumes e ervas.

Consumir plantas e alimentos fermentados, como iogurte, kimchi e kombucha, pode também melhorar a diversidade da microbiota intestinal.

No microbioma de pacientes tratados de distúrbios com bebida, entre duas a três semanas após a abstinência, o intestino mostrou recuperação nas bactérias, além da diminuição da permeabilidade do órgão. Geralmente, os pacientes tratados para a condição também começam a comer e a dormir melhor, o que pode igualmente melhorar o microbioma intestinal.

Para quem bebe de forma moderada, não se sabe se parar de beber ou diminuir o consumo poderia influenciar o microbioma do intestino, mas a substância pode causar azia, inflamação do tecido estomacal e sangramentos gastrointestinais, além de aumentar o risco de alguns tipos de cancro, incluindo no esófago, cólon e reto. Beber menos vale a pena na melhoria da saúde, segundo cientistas — mas, se bebe pouco, talvez não haja problema algum.

E esta não é a única vantagem do vinho tinto. Uma substância natural presente no encarnado, o resveratrol, inibe a formação de factores inflamatórios que provocam doenças cardiovasculares.O seu consumo à refeição foi também mais recentemente associado a um risco 14% mais baixo de se desenvolver diabetes tipo 2 quando comparado com quem bebe sem comer ao mesmo tempo.

ZAP // CanalTech

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