Tribunal Superior da Coreia do Sul assegura indemnizações às chamadas “mulheres de conforto” que foram escravizadas sexualmente em bordéis militares japoneses. Tóquio contesta decisão e nega responsabilidade histórica.
O Tribunal Superior da Coreia do Sul ordenou ao Japão que indemnize 16 mulheres sujeitas a escravidão sexual durante a Segunda Guerra Mundial, revertendo uma decisão anterior da Justiça sul-coreana que determinou o arquivamento do caso.
Durante a guerra, mulheres coreanas e de outras nações da região foram forçadas pelos militares japoneses a prostituir-se em bordéis militares, facto que causou décadas de atritos diplomáticos nas relações entre as duas nações.
As 16 vítimas entraram com uma ação na Justiça sul-coreana em 2016. Em 2021, um tribunal regional decidiu em primeira instância que estas mulheres — mais conhecidas como “mulheres de conforto” — não estavam aptas a receberem indemnizações devido à “imunidade de jurisdição”, uma doutrina jurídica que permite que um Estado fique imune a processos civis em tribunais estrangeiros.
No entanto, esta quinta-feira, o Tribunal Superior em Seul concluiu que há razões para afirmar que a “imunidade de jurisdição não deve ser respeitada […] no caso de conduta ilegal”.
A corte determinou que o Japão deve pagar 200 milhões de wons (cerca de 140 mil euros) a cada uma das reclamantes por considerar que foram “sequestradas à força ou aliciadas para a escravidão sexual”.
Os juízes disseram que as vítimas sofreram danos e traumas e “não puderam ter uma vida normal após a guerra”.
Relações bilaterais fragilizadas
Historiadores estimam que até 200 mil mulheres coreanas e de outras partes da Ásia foram forçadas a se tornarem escravas sexuais dos soldados japoneses.
Muitos sul-coreanos ainda guardam ressentimentos em relação à ocupação japonesa da Península da Coreia, entre 1910 e 1945, que terminou apenas com a rendição do Japão no final da Segunda Guerra Mundial.
Entre 1950 e 1953, uma guerra sangrenta dividiu a Península da Coreia e ceifou três milhões de vidas, com tropas americanas e chinesas a enfrentar-se para apoiar os respetivos aliados no conflito.
O Japão insiste que um acordo de 1965 com a Coreia do Sul teria resolvido todas as questões relacionadas ao período colonial.
O pacto, sob o qual os países restauraram relações diplomáticas, incluiu um pacote de 800 milhões de dólares em compensações que incluem subvenções e empréstimos de baixo custo.
A reviravolta no caso ocorre num momento em que o governo conservador do presidente sul-coreano Yoon Suk-yeol tenta pôr fim às tensões e melhorar as relações com o Japão, para que os dois países consigam enfrentar juntos as ameaças militares impostas pela Coreia do Norte.
Japão nega responsabilidade
A ministra japonesa dos Negócios Estrangeiros, Yoko Kamikawa, disse que a decisão da Justiça sul-coreana “contraria claramente as leis internacionais e os acordos entre os dois países” e classificou o veredito como “extremamente lamentável e absolutamente inaceitável“.
O governo japonês nega responsabilidade direta pelos abusos cometidos durante a guerra, afirmando que as vítimas eram recrutadas por civis e que os bordéis militares eram administrados de maneira comercial.
O tema da escravidão sexual imposta pelo Exército Imperial Japonês na Segunda Guerra ganhou notoriedade após a coreana Kim Hak-sun partilhar publicamente a sua experiência como uma “mulher de conforto”.
A sua coragem motivou centenas de mulheres na Coreia do Sul, China, Taiwan, Filipinas, Indonésia e Holanda a denunciarem a escravidão sexual ocorrida durante a guerra.
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