Malala Yousafzai não ficou imune à loucura Barbie. A prémio Nobel da Paz foi ver o filme com o marido — que é só Ken. Tal como alguns haters e trolls da internet.
A ativista pela educação e mais jovem Prémio Nobel da Paz de sempre, Malala Yousafzai, não escapou à onda Barbie e foi este fim de semana ver o protagonizado por Margot Robbie e Ryan Gosling.
Após a sessão, a ativista paquistanesa deixou no seu Instagram a esperada referência humorística em relação ao marido: “Esta Barbie tem um Prémio Nobel, ele é só Ken“.
A película, dirigida por Greta Gerwig, bateu recordes com a maior estreia de fim de semana de 2023 — e foi a maior estreia de sempre de uma realizadora.
A campanha de marketing do filme apresentou uma série de cartazes a destacar os papéis das doze Barbies da linha “Mulheres Inspiradoras” que o protagonizam, incluindo uma Prémio Nobel da Física (a Barbie Marie Curie), uma médica e uma presidente.
Em contraste, os personagens masculinos do filme foram coletivamente intitulados “Ele é apenas Ken“, criando frisson nas redes sociais e motivou a postagem astuta de Yousafzai.
No seu post no Instagram, Yousafzai mostra uma foto com o marido, Asser Malik, numa caixa de adereços do filme, com a inevitável legenda. “This Barbie has a Nobel Prize 💖 He’s just Ken”.
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A abordagem humorística de Malala ao filme e à sua estratégia de marketing fez eco junto dos seus seguidores, que deixaram mais de meio milhão de “likes” e milhares de comentários na publicação.
“Esta legenda já ganhou” escreveu a estrela do YouTube Lilly Singh. “MELHOR legenda Barbie que li até agora,” comentou outra utilizadora.
Mas nem todos se juntaram a Malala na brincadeira. Alguns haters e trolls, os suspeitos do costume, não perderam a oportunidade de destilar a sua aversão por uma heroína da vida real que sobreviveu a um intolerável ataque à sua vida — que dedicou a defender o direito à educação.
“O que é que a vencedora do Prémio Nobel fez pelo Paquistão? Parece ocupada a seguir a cultura ocidental“, escreveu um utilizador.
“Malala fugiu do seu país e nunca mais vai voltar. É uma fantoche do ocidente, não merecia o Prémio Nobel da Paz”, escreve outro. “O ocidente deu inúmeros prémios a esta chamada ativista da educação. Que serviços à educação prestou ela pelo seu país?”.
“Ela literalmente não tem pensamento próprio, apenas promove o que os outros no ocidente promovem. Um fantoche de facto“, dispara outro utilizador. “Agora, por favor, para de te gabar do teu prémio Nobel”, escreve ainda outra utilizadora.
Comentários no mesmo tom, com o mesmo tipo de ataques, com uma cartilha de uma qualquer fábrica de trolls. Frutos da escola “Não sou Malala” que no Paquistão acusa a ativista de “terrorismo ideológico“, que fez questão de não lhe dar as boas vindas quando em 2018 regressou ao seu país natal.
“Quem é Malala?”
Nascida em 1997 em Mingora, no Paquistão, e desde cedo defensora do direito à educação das meninas paquistanesas, Malala Yousafzai foi alvo de um ataque de um grupo de talibãs, em outubro de 2012 quando tinha 15 anos.
O grupo de homens armados entrou no autocarro que transportava Malala para a escola. “Quem é Malala?”, perguntou um deles. Depois de a identificar, o grupo efetuou vários disparos, ferindo gravemente a adolescente na cabeça. Outras duas criança ficaram também feridas.
Malala foi levada para a Grã-Bretanha, onde passou por várias cirurgias e iniciou uma difícil recuperação. A adolescente decidiu permanecer no país, com receio das ameaças dos Talibã contra si e a sua família.
Após o ataque, Malala ganhou notoriedade global, tendo-se dedicado a fazer campanha pelo direito à educação de adolescentes muçulmanas.
Poucos meses depois do atentado, no seu 16º aniversário, Malala fez um discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas.
Considerada uma das pessoas mais influentes de 2013 pela revista americana Time, Malala Yousafzai tornou-se em 2014 oficialmente a primeira cidadã nascida no Paquistão a receber um Prémio Nobel.
Em abril de 2015, os 10 homens que atacaram Malala foram condenados a uma pena de prisão perpétua. Dois meses mais tarde, 8 deles foram libertados.
Nomeada por António Guterres Mensageira da Paz da ONU em 2017, Malala licenciou-se em 2020 em Filosofia, Política e Economia pela Universidade de Oxford.
Em julho de 2023, a jovem ativista foi ver a Barbie. E deixou a sua mensagem, desta vez com sentido de humor, a todas as jovens que nela encontram inspiração e força para lutar pelos seus ideais.