Um dos mais consagrados atores de kabuki, arte tradicional japonesa, foi detido esta terça-feira, acusado de ter ajudado ou induzido a mãe a cometer suicídio.
O conceituado ator japonês de kabuki Ennosuke Ichikawa foi detido esta terça-feira por suspeitas de ter ajudado a mãe a cometer suicídio.
Segundo a polícia de Tóquio, o ator de 47 anos, célebre pelas suas atuações em palcos internacionais como a Ópera de Paris, Amesterdão e Londres, é acusado de ter coagido a mãe, de 75 anos, a consumir comprimidos indutores de sono — que resultaram na sua morte por overdose de droga psicoativa.
Em maio, os pais de Ichikawa foram encontrados inconscientes em sua casa, em Tóquio. Embora ambos tenham sido mais tarde declarados mortos, não está claro se a morte do pai de Ichikawa, de 76 anos e também ator de kabuki, está sob investigação.
Segundo a agência francesa AFP, no dia da sua detenção Ennosuke Ichikawa foi encontrado desmaiado em casa e foi hospitalizado. Alegadamente, confessou aos investigadores a intenção de seguir os pais no suicídio.
Ichikawa afirma que a família tinha debatido a morte e a reencarnação e admitiu que os seus pais tinham tomado comprimidos para dormir. Uma suposta nota de suicídio escrita pelo ator foi encontrada na sua residência.
Ichikawa, cujo nome verdadeiro é Takahiko Kinoshi, estreou-se no kabuki em 1980. A sua ilustre carreira fez dele um dos artistas mais estimados do Japão, tendo sido nomeado para um prémio Laurence Olivier pela sua performance de dança.
O teatro Kabuki, conhecido pelas suas atuações estilizadas, trajes extravagantes e maquilhagem elaborada, mistura performance dramática com dança tradicional, contribuindo para a riqueza cultural do Japão.
A detenção de Ichikawa deixou em choque os japoneses, em particular os aficionados desta forma de arte muito apreciada no país.
O Japão não tem oficialmente legislação sobre eutanásia, e o Supremo Tribunal do país nunca se pronunciou sobre o assunto. Até agora, foi esteve em causa em dois processos judiciais locais, um em Nagoya em 1962 e outro após um incidente na Universidade Tokai, em 1995.
O primeiro caso envolveu a eutanásia passiva, ou seja, permitir que um paciente morra desligando o suporte de vida, e o último caso envolveu a eutanásia ativa.
Os julgamentos nestes dois casos estabeleceram precedentes legais e um conjunto de condições dentro das quais tanto a eutanásia passiva como a ativa podem ser consideradas legais.
No entanto, em ambos os casos, os médicos foram considerados culpados de violar essas condições ao tirar a vida de seus pacientes.