Ataque rebelde de 2021 em Moçambique fez 1200 mortos

ZAP // VOA / Wikipedia

Edifício destruído durante a “Batalha de Palma”, 24 de março a 5 de abril de 2021

O ataque rebelde a Palma, no norte de Moçambique, em março de 2021, provocou a morte a 1193 pessoas. Há 156 menores entre as vítimas.

Um inquérito estima que tenham morrido ou desaparecido cerca de 1.200 pessoas no ataque rebelde a Palma, norte de Moçambique, em março de 2021 e na violência dos dias seguintes, disse à Lusa o autor, o escritor e jornalista norte-americano Alex Perry.

“No total, 1.193 pessoas foram mortas ou estão desaparecidas (presumivelmente mortas) e outras 209 pessoas foram sequestradas”, sendo que, entre os mortos, há 156 com menos de 18 anos, incluindo bebés e crianças, refere na sua página pessoal na Internet.

Os desaparecidos totalizam 432, há 366 pessoas abatidas a tiro e 330 decapitadas, detalham os resultados do inquérito, publicados na última semana.

O ataque à vila de Palma, na província moçambicana de Cabo Delgado, ocorreu a 24 de março de 2021, tendo sido reivindicado pelo Daesh.

Nenhuma entidade, governamental ou outra, apresentou até hoje um balanço do número de vítimas do ataque que paralisou o projeto de gás liderado pela TotalEnergies e agravou a crise humanitária na província, sob fogo de insurgentes desde 2017.

A lacuna pareceu tão “assombrosa” para Alex Perry, que o autor usou os 18.300 euros do prémio George Polk Awards, obtido com outra reportagem que escreveu sobre o ataque, para regressar a Cabo Delgado e financiar o inquérito.

“Ouvia-se falar de centenas de mortes, mas não havia um balanço”, recorda.

Os números foram obtidos porta-a-porta em 13.686 casas de Palma e 15 aldeias em redor, entre novembro de 2022 e março deste ano, por uma equipa contratada por Alex Perry, “com cuidado” quanto ao rigor e domínio das línguas locais.

“Fomos meticulosos: 97% das mortes estão identificadas com nome, idade, género, morada e pela forma como morreram”, refere.

Alex Perry estima que o número seja maior, porque a análise dos resultados foi “conservadora”, excluindo informação dúbia, e porque só abrange civis, excluindo baixas entre militares, insurgentes e trabalhadores no projeto de gás.

Questionado sobre o que pretende alcançar com a publicação, o autor diz que, como jornalista, se limita a “estabelecer um facto”.

“Aquilo que as pessoas fazem com os factos já não é o meu trabalho”, disse.

Perry acrescenta à recolha uma opinião condenatória da TotalEnergies, considerando-a responsável pelo que aconteceu.

“Não estamos a dizer que a Total matou alguém, mas prometeu segurança” que só existiu para a zona vedada do projeto, acusa, e com forças moçambicanas que nunca mostraram capacidade para proteger a população.

“Não se pode fingir ser um bom vizinho” e depois “não prestar atenção” quando morrem mais de mil pessoas ou não ter interesse na contagem dos mortos, referiu Perry.

O autor partilhou os dados com a petrolífera francesa e autoridades do Governo moçambicano, mas diz que não obteve nenhuma resposta.

A activista Jasmine Opperman, investigadora do Observatório Cabo Ligado, considerou na altura que o Governo moçambicano sabia do ataque a Palma e que “nada fez“.

À Lusa, a petrolífera francesa disse que “não está em posição de comentar os dados” do inquérito e, por outro lado, remeteu a responsabilidade de segurança do projeto e zona em redor, naquela altura, para uma força conjunta dos ministérios moçambicanos da Defesa e do Interior.

Ainda assim, até retirar todo o pessoal de Afungi, o consórcio “teve uma participação ativa na assistência à população” a quem deu água, comida, apoio médico urgente e garantiu transferências por via aérea e marítima “para os mais vulneráveis, em especial mulheres e crianças”.

De lá para cá, “a TotalEnergies tem manifestado toda a solidariedade para com o Governo e a população”, acrescentou.

A Lusa procurou ainda reações e esclarecimentos junto de diferentes ministérios do Governo moçambicano, mas ainda não obteve respostas.

Alex Perry diz que aquilo que classifica como “um massacre” em Palma vai dar origem a um livro que espera lançar no prazo de dois anos, com uma “reconstituição detalhada” dos factos e uma visão global sobre “o comportamento da indústria de petróleo e gás, em que pergunto porque é que está tão associada à violência”.

E Palma ilustra a obra porque considera estar entre “o pior” que já aconteceu, conclui.

ZAP // Lusa

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