O erro de Putin. Quem é e o que quer Yevgeny Prigozhin?

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ZAP // Metzel Mikhail / TASS / ZUMA; ext. Dall-E-2

O líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin

O líder do grupo mercenário russo Wagner, Yevgeny Prigozhin, nega a acusação de “traição” feita pelo Presidente russo, Vladimir Putin, e diz que os “verdadeiros patriotas” são os seus soldados que estão dispostos a morrer para salvar a Rússia da “corrupção, das mentiras e da burocracia”.

“O Presidente enganou-se profundamente. Somos patriotas. Lutámos e lutamos e ninguém pretende entregar-se por exigência do Presidente, do Serviço de Segurança Federal ou de quem quer que seja”, garante Prigozhin num novo áudio publicado no seu canal do Telegram.

“Todos estamos prontos para morrer. Todos os 25 mil e depois mais 25 mil [nesta acção] pelo povo russo”, salienta ainda o líder do Wagner.

Opositores de Putin apoiam Prigozhin, mesmo que seja “o diabo”

Prigozhin já está a receber apoio de alguns opositores de Putin, nomeadamente do empresário exilado Mikhail Khodorkovsky que diz que “é altura de ajudar” o chefe do grupo Wagner.

Até o diabo teria de ser ajudado se decidisse ir contra este regime”, realça Khodorkovsky, frisando que “se este bandido [Yevgeny Prigozhin] quer incomodar o outro [Vladimir Putin], não é altura de fazer caretas, é altura de ajudar”, como escreve na plataforma de mensagens Telegram.

Quem é Yevgeny Prigozhin?

Prigozhin tem 62 anos e é de extrema-direita. Tornou-se conhecido devido às atrocidades do grupo de mercenários que criou e que tem sido usado por Putin como o seu braço-armado para fazer o trabalho sujo que o exército russo não pode fazer, nomeadamente em África.

Os soldados do Wagner, exército privado que é proibido na Rússia, têm actuado ao lado dos militares do exército russo na guerra da Ucrânia. Mas, em Novembro do ano passado, já se dizia que Prigozhin era uma ameaça para Putin devido ao crescimento da sua influência entre os militares.

Antes de ter formado o seu exército privado de mais de 25 mil homens, mercenários que combatem por dinheiro, Prigozhin fez fortuna na área da restauração depois de ter estado preso durante 10 anos, na década de 1990 – não se sabe por que crimes.

Após sair da prisão, tornou-se vendedor de cachorros-quentes, como disse numa entrevista a um site russo.

Acabou por abrir um restaurante e tornou-se um empresário influente na área do catering, servindo eventos de pessoas conhecidas e endinheiradas. Foi assim que conheceu Putin.

A sua empresa, a Concord Catering, começou a ganhar milhões em contratos públicos para servir eventos, fornecer escolas públicas e o exército russo. Foi, desse modo, que ganhou a alcunha de “chef de Putin”.

Depois disso, fundou a Internet Research Agency, uma máquina de desinformação que usa a Internet para influenciar opiniões e decisões políticas e que interferiu nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016 que elegeram Donald Trump. Algo que o próprio Prigozhin admitiu, o que lhe valeu sanções dos EUA às suas empresas.

Nos últimos tempos, era evidente que havia alguma tensão entre Prigozhin e os generais russos. O líder do Wagner acusou o exército de não dar munições aos seus homens e depois, atirou-se ao Ministério da Defesa, criticando a sua estratégia na Ucrânia.

Agora, acusa o comando militar russo de mentir ao povo e a Putin, e de esconder a real situação no terreno de guerra. E há quem acredite que Prigozhin é a única pessoa que não está a mentir no meio de todo este caos.

Mas é, certamente, um homem perigoso e cujas intenções não são totalmente conhecidas.

O que é que ele quer?

De boas intenções está o inferno cheio, como diz o povo. E ninguém sabe muito bem quais são as reais intenções de Prigozhin.

O general francês François Chauvancy diz, em declarações ao Le Figaro, que ele “quer subjugar ou apreender o Estado-Maior russo”. “É um espírito livre que constantemente mina publicamente a influência do exército russo”, aponta ainda.

Prigozhin acusou o Ministério da Defesa russo de atacar os combatentes do Wagner e o general acredita que isso pode ser verdade, notando que “o desmantelamento da estrutura” do grupo “já estava em andamento há várias semanas”. Putin estaria a tentar “neutralizar” Prigozhin, o que pode justificar a resposta do líder dos mercenários.

O que é certo é que o “chefe” do Wagner “não quer acabar com a guerra na Ucrânia“, como nota a especialista em relações internacionais Liliana Reis, em declarações à CNN Portugal.

Liliana Reis nota que Prigozhin “inicia este movimento devido à contestação” quanto “aos insucessos da Rússia em solo ucraniano“. “A finalidade não será, seguramente, impedir o esforço de guerra russo na Ucrânia, mas sim um maior empenhamento de forças”, refere.

Também se questiona se Prigozhin poderá ter algum apoio por trás – e se tem, de quem?

É preciso recordar que ele lidera um grupo de mercenários que combatem por dinheiro. É uma empresa privada que trabalha para quem pagar mais.

Prigozhin fala em revolta “pela justiça”

O líder do grupo paramilitar convocou a revolta contra o alto comando militar da Rússia falando de uma “marcha pela justiça”.

“Somos 25.000 e vamos determinar por que é que reina o caos no país”, anunciou, apelando ao povo para se juntar ao Wagner para “acabar com a confusão”, e notando que as “reservas estratégicas são todo o exército e todo o país”

“Este não é um golpe militar, mas uma marcha pela justiça, as nossas acções não atrapalham as Forças Armadas”, assegurou também depois de acusar o Exército russo de realizar ataques a acampamentos dos seus mercenários, causando “um número muito grande de vítimas”, acusações negadas pelo Ministério da Defesa da Rússia.

Nesta altura, o Grupo Wagner controlará Rostov e estará a avançar em Voronezh Oblast, cidade a meio caminho entre aquela localidade e Moscovo. Mais de 300 quilómetros da auto-estrada entre Moscovo e Rostov estarão cortados.

O foco dos mercenários será chegar à capital russa que está sob fortes medidas de segurança.

Alguns serviços de segurança russos terão ficado “passivos” perante a rebelião do Wagner, de acordo com o ministério da Defesa britânico. Este factor pode ser determinante nas próximas horas – falta saber se as forças de segurança russas serão leais a Putin.

Susana Valente, ZAP // Lusa

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5 Comments

  1. Disse aqui no íncio da guerra que, tal como o Afeganistão que tinha sido o fim da URSS (na altura, com 10 anos de guerra e 15 mil mortos o antigo regime comunista colapsou), também a Ucrânia seria o fim do regime de Putin. E será. Apenas com um ano e pouco de guerra e mais de 120 mil mortos (e uma destruição enorme dos equipamentos militares) o fim poderá estar muito próximo. Gostava de saber onde andam agora os Thomas, Miguel, Nuno e outros que aqui sempre defenderam a guerra.

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