A Operação Miríade que implica Comandos portugueses colocados na República Centro-Africana (RCA), em missões da ONU, numa rede de tráfico de diamantes, ouro e droga, é mais um trunfo para a estratégia da Rússia para aquele país.
O jornal Sol salienta que a Rússia está “a lançar uma campanha de propaganda contra a MINUSCA“, o nome dado à missão das Nações Unidas na RCA.
Ora, a rede de tráfico que implica os Comandos portugueses é mais um trunfo para essa estratégia que visa enfraquecer a força da ONU na região. Mas, ao mesmo tempo, reforça a importância dos mercenários da empresa militar russa Sewa Security Services (Wagner) que foi contratada pelo Presidente centro-africano, Faustin-Archange Touadéra, para garantir a sua segurança e a do país.
A embaixadora adjunta da Rússia nas Nações Unidas, Anna Evstigneeva, fez questão de usar o caso português como um exemplo para criticar a atuação da MINUSCA.
“Não podemos dizer que o trabalho realizado pela MINUSCA tenha sido profissional e competente“, considerou a diplomata na sessão onde foi aprovada a renovação da missão da ONU na RCA por mais um ano.
Entretanto, crescem os receios de que a própria população se possa voltar contra a missão da ONU. Já há relatos de ataques a veículos da MINUSCA e o clima de tensão tende a agravar-se num país marcado por disputadas relacionadas com os diamantes.
Os diamantes são a maior riqueza da RCA, e também o seu pior pesadelo. E são também o que está no centro dos interesses da Rússia na RCA.
Oficialmente, a Rússia ajuda a RCA com formação e material militar. Mas a Wagner, constituída por mercenários, é vista como uma forma encapotada de o regime de Putin controlar o país.
“Wagner faz a guerra por procuração da Rússia”
A Wagner está na RCA desde 2017 e “faz a guerra por procuração por conta da Rússia”, como já disse o ministro dos Negócios Estrangeiros de França, Jean-Yves Le Drian, em declarações citadas pelo site francês SudOuest.
Foram também os mercenários do grupo paramilitar russo que ajudaram o marechal Khalifa Belqasim Haftar a tomar o poder na Líbia. O militar pretende concorrer à Presidência do país nas prováveis eleições a realizar no próximo mês de Dezembro.
Entretanto, no Mali, a junta que tomou o poder também já ameaçou recorrer à ajuda da Wagner. A Rússia tem ajudado este país com equipamentos, munições e armamento militar, argumentando que são uma ajuda para combater a “ameaça terrorista” no norte do Mali. Um argumento que a França tem rebatido, fruto das suas preocupações com a crescente influência russa na região.
Entretanto, especula-se que o dono da Wagner, Evgueni Prigojine, tem ligações ao Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas Russas, Valéri Guérassimov, e ao ministro da Defesa da Rússia, Serguei Choigou.
Além disso, o ex-conselheiro especial do presidente da RCA era Valéry Zakharov, um antigo camarada de Putin nos serviços secretos russos. Zakharov terá sido, entretanto, substituído por Vitali Perfilev que terá também ligações à Rússia.
Todas estas associações são vistas como suspeitas, mas permitem a Putin negar quaisquer implicações nos abusos cometidos pelos mercenários, ao mesmo tempo que vai recolhendo os frutos do crescente controlo da Rússia sobre a nação rica em diamantes.
Denúncias contra os abusos dos mercenários e dos militares da ONU
Especialmente preocupada com este cenário na RCA está a França que também tem interesses na região.
Em Outubro passado, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês acusou os mercenários da Wagner de se “substituírem” ao Estado da RCA e de “confiscarem a capacidade fiscal” do país.
“Quando entram num país, multiplicam as violações, abusos, predações, às vezes até substituindo a autoridade do próprio país”, denunciou ainda o ministro francês.
O Representante Permanente da França junto das Nações Unidas, Nicolas de Rivire, reforça, agora, as palavras de Le Drian, salientando que “a presença da Wagner no Centro de África é profundamente desestabilizante” e “constitui um factor de guerra e não um factor de paz”.
“As provas acumulam-se quanto aos abusos cometidos por este grupo: as detenções extrajudiciárias, as execuções sumárias, as violências sexuais e baseadas no género, as ameaças exercidas contra os defensores dos direitos humanos, os entraves ao acesso humanitário”, salienta ainda Rivire numa nota oficial.
Um relatório feito por especialistas da ONU, em Outubro passado, denunciou que várias forças militares presentes na RCA, incluindo os militares da MINUSCA e os mercenários da Wagner, cometeram “violações sistemáticas e graves dos direitos humanos”, nomeadamente “detenções arbitrárias, actos de tortura, desaparecimentos forçados e execuções sumárias”, num regime de “total impunidade”.
Os especialistas da ONU denunciaram ainda “violações sexuais de mulheres, homens e meninas em numerosas regiões do país”.
ONU renova missão de paz com abstenções de Rússia e China
No meio deste “caldo” perigoso, o Conselho de Segurança da ONU aprovou, nesta sexta-feira, a renovação por um ano da missão de manutenção de paz na RCA, com 13 votos a favor e a abstenção da Rússia e da China.
Os russos e os chineses justificaram a abstenção com a insatisfação com o texto redigido pela França.
A MINUSCA é uma das maiores e mais caras missões da ONU e continuará, assim, as suas operações com até 14.400 soldados e 2.420 polícias, segundo a resolução aprovada.
O actual contingente português na MINUSCA é composto por 180 militares, a maioria do 1.º Batalhão de Infantaria Paraquedista do Exército Português.
Portugal tem, nesta altura, 20 militares na RCA que integram a missão de treino da União Europeia (EUTM-RCA).
O contingente multinacional foi liderado por Portugal entre Setembro de 2020 e Setembro deste ano, quando o comando foi transmitido à França.
A renovação da MINUSCA é “uma decisão importante que dará a esta missão os meios de que precisa para acompanhar o cessar-fogo declarado a 15 de Outubro passado pelo presidente Touadéra”, considera o Representante Permanente da França junto das Nações Unidas.
Nicolas de Rivire também apela a que “todos os actores presentes na RCA respeitem este cessar-fogo” e se empenhem na aplicação do acordo de paz.
Além disso, Rivire nota que a renovação da MINUSCA dá “uma importância reforçada ao acesso humanitário e ao respeito pelos direitos humanos, já que as violações aumentaram de forma alarmante depois da crise do Inverno passado, nomeadamente por parte dos mercenários”.
Os EUA, através do embaixador Richard Mills, lamentam a ausência, no texto, de menções às acusações de violações dos direitos humanos feitas pela ONU contra os paramilitares da Wagner.
Washington também critica o facto de a resolução não mencionar o ataque de 1 de Novembro passado a um autocarro das forças egípcias que integram a missão da ONU. Dez soldados ficaram feridos num tiroteio com elementos da Wagner.
A MINUSCA arrancou em 2013, quando os rebeldes Seleka, predominantemente muçulmanos, tomaram o poder e forçaram o então presidente François Bozizé a deixar o cargo.
Susana Valente, ZAP // Lusa
Por 290 euros, os portugueses escusavam de se ter dado ao trabalho…….
Mas os russos é que parecem que andam a explorar aquilo e legalmente, com autorização dos centros africanos……
Os russos vão explorar o país até esgotarem os recursos naturais todos que eles tem por lá…..em troca de nada.
E os que moram por lá…só pensam em fazer guerra em vez de se unirem, explorarem eles os recursos e melhorarem as condições do país, mas não, eles acham-se é o máximo quando se apanham com uma arma na mão.