O PSD está atento à possibilidade de o PP formar Governo com o apoio do Vox em Espanha, uma situação que pode inspirar uma solução semelhante em Portugal caso os sociais-democratas ganhem as legislativas.
Governo socialista enfraquecido, a direita a crescer e eleições antecipadas em cima da mesa. Não, não é Portugal, é Espanha — e as semelhaças entre os contextos político português e espanhol estão a intrigar o PSD.
Após o desaire nas eleições regionais e municipais, onde o PSOE perder vários vastiões para o PP, Pedro Sánchez anunciou que as eleições legislativas seriam antecipadas para Julho. Perante as ameaças de Marcelo de dissolver o Parlamento e fazer o mesmo por cá, Montenegro está a analisar a situação em Espanha, que servirá como um laboratório para o que pode acontecer em Portugal.
O caso espanhol é particularmente interessante porque pode estar à vista um Governo do PP com o apoio da extrema-direita. Mesmo que Alberto Feijóo ganhe as eleições, dificilmente conseguirá a maioria absoluta, sendo a opção mais provável uma aliança com Santiago Abascar, do Vox, uma hipótese que Feijóo inclusivamente nunca rejeitou.
A normalização da entrada da extrema-direita no Governo em Espanha pode beneficiar Montenegro caso um cenário semelhante se apresente em Portugal. A mais recente sondagem do Correio da Manhã voltou a confirmar que o PSD ganharia as eleições, mas não conseguiria Governar sem o apoio do Chega.
Na sua entrevista à RTP na segunda-feira, Montenegro também foi questionado “Chega, sim ou não?”, tendo respondido “nim” — o líder do PSD só anunciará a sua estratégia mais perto das legislativas. Cavaco Silva também já aconselhou o PSD a não cair na armadilha socialista de anunciar alianças pré-eleições.
Segundo o Observador, há no PSD um sentimento de que Feijóo vai provar que “Abascal não é o bicho papão” e irá domesticar o Vox, mas os rostos do partido continuam divididos sobre a proximidade ao Chega.
Se o PSD está a tirar notas da situação em Espanha, o mesmo será feito pelo PS. O grande argumento do PSOE para as eleições será precisamente frisar os perigos de um Governo do PP que abra a porta do poder à extrema-direita. Sánchez até já disse que “não há distinção alguma entre o PP e o Vox”.
Esta estratégia também já foi usada pelos socialistas nas últimas legislativas. Perante a relutância de Rui Rio em rejeitar categoricamente o Chega, António Costa alertou para os riscos de um Governo apoiado pelo Chega. Pode argumentar-se que a indecisão de Rio ajudou a ditar a sua derrota, com os eleitores de centro e centro-esquerda a apostar em massa no PS, com um voto útil para travar o Chega. Todos sabemos como isto acabou — com uma maioria absoluta socialista.
Um ano e meio depois, o cenário é bem diferente, com o Governo maioritário desgastado e a somar escândalos e demissões, podendo a aposta do PSD em deixar a porta entreaberta ao Chegar dar frutos nas urnas.