Há entre 150 a 200 voluntários chechenos que lutam ao lado da Ucrânia contra a Rússia e que anseiam por uma derrota do exército de Vladimir Putin, acreditando que esse será o início da libertação da Chechénia.
Muitos destes voluntários chechenos são filhos e netos emigrados de combatentes que lutaram nas guerras chechenas contra os russos.
É esse o caso do comandante destes soldados em solo ucraniano que, em declarações ao jornal Politico, pede para ser identificado pelo seu nome de combate, Torto (é o nome de um castelo na sua terra natal na Chechénia). O homem de 45 anos vive na Ucrânia desde 2016.
Ao mesmo tempo, há cerca de 12 mil chechenos que combatem ao lado dos russos – são conhecidos como os temidos “Kadyrovites”, mas Torto fala deles como o “exército TikTok” por se vangloriarem das suas atrocidades na guerra neste rede social.
Os “Kadyrovites” foram acusados de violações e pilhagens em Bucha, uma das cidades mais marcada pelas atrocidades dos combates na Ucrânia. Mais recentemente, foram acusados de torturar, castrar e decapitar prisioneiros ucranianos e os voluntários chechenos dizem que Putin os usa para “semear o medo”.
Esta divisão entre chechenos pró-ucranianos e pró-russos reflecte a realidade conflituosa do país que é uma República Autónoma da Federação Russa.
“Quando a Rússia perder, vai desmoronar”
Os soldados pró-ucranianos acreditam que uma derrota russa na Ucrânia dará, inevitavelmente, força ao movimento separatista contra a Rússia na região chechena do Cáucaso, área montanhosa que divide a Europa e a Ásia ocidentais.
A zona que é rica em recursos, nomeadamente petróleo, tem sido marcada pela instabilidade devido a conflitos territoriais que envolvem vários países.
No território checheno, a Rússia tem actuado militarmente contra os rebeldes separatistas da região.
“Mais cedo ou mais tarde, todos seremos livres”, acredita Torto. “Quando a Rússia perder esta guerra com a Ucrânia, não poderá existir como estado. É impossível. Vai desmoronar“, diz o comandante ao Politico.
Para estes chechenos voluntários na Ucrânia, o combate é, sobretudo, contra dois Séculos de repressão desde que o Império russo invadiu a Chechénia. “Estamos cansados da Rússia”, desabafa Torto.
“A Rússia é como um vizinho bêbedo. Um dia chega a nossa casa e quer queimá-la. É apanhado e foge. Noutro dia, volta sóbrio e implora por perdão. E depois, regressa bêbedo com uma pistola e mata-te a mulher e os filhos”, aponta o comandante.
“Rússia é o nosso maior fornecedor de armas”
Os voluntários chechenos na Ucrânia estão divididos em três batalhões, um dos quais colabora directamente com os Serviços de Inteligência de Kiev e outro que tem conotações a grupos islâmicos (o batalhão Sheikh Mansur).
Mas queixam-se da falta de apoio por não integrarem formalmente a Legião Internacional que combate ao lado dos ucranianos.
Não recebem dinheiro do Governo ucraniano, mas têm acesso a munições quando estão na linha da frente dos combates.
Além disso, recorrem a donativos, vendem online itens de guerra que recolhem nos campos de batalha e fazem uso da imaginação para se equiparem.
“A Rússia é o nosso maior fornecedor de armas”, diz Torto entre risos, explicando que lhes permitem ficar com as armas e as munições que os russos deixam para trás quando se retiram.
Esta falta de apoio tem a ver, por um lado, com a má fama dos chechenos, sobretudo devido aos actos dos “Kadyrovites”. Mas, por outro lado, são cidadãos russos, o que complica a sua situação legal enquanto combatentes pró-ucranianos.
” “Quando a Rússia perder esta guerra com a Ucrânia, não poderá existir como estado. É impossível. Vai desmoronar“, diz o comandante ao Politico.”
Já na guerra do Afeganistão aconteceu isto mesmo. Na altura perderam “apenas” 15 mil homens e a URSS acabou e desmoronou-se. Aqui já vão com aproximadamente 200 mil mortos e uma derrota em toda a linha. Para quem tentou tomar Kiev e decapitar o regime nos primeiros dias…estão bem longe.